Muitas emoções, ótimas vibrações,
tudo isso e muito mais foram fatores presentes em
nossa visita ao Jardim Botânico de São
Paulo. Tivemos a oportunidade de ver nos olhos e nas
ações das pessoas o amor e o carinho
pela natureza.
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Mas
o que nos impressionou foi o entusiasmo e a dedicação
com que as pessoas responsáveis pelo Jardim
Botânico, tem em relação à
educação ambiental, colocando as crianças
e natureza lado a lado, ensinando à elas que
nós seres humanos devemos viver em completa
harmonia e integração com o meio ambiente
onde vivemos. Que nossa relação com
a natureza não pode ser outra, se não
a do respeito e do carinho. E não precisa ser
muito esperto para saber que quem tem esse respeito,
fatalmente aprenderá muito mais fácil
a respeitar seu semelhante, pois quem respeita e se
integra com a natureza, interage e a admira a si próprio
e ao próximo. |
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Ficamos
contentes em saber que pessoas com atitudes simples
conseguem tornar a vida mais saudável e interessante,
que com uma simples brincadeira de criança,
pode ensinar à jovens e velhos importantes
valores sobre a vida.
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Crianças brincam na estufa
do Jardim Botânico de São Paulo |
Como é passado
a questão ambiental para as crianças? Podemos
dizer que elas aprendem brincando e brincam aprendendo?
Chiea: É exatamente isso, através de
brincadeiras educativas as crianças aprendem a respeitar
e a viver em harmonia com o meio ambiente. Um dos exemplos
é esta brincadeira com os dados, eu vou te explicar,
é super fácil: Aqui ele anda nas casas; em
cada casinha que ele cair tem um desenho, ou uma mensagem,
aqui ele destruiu, colocou fogo na mata, não podia
fazer isto, destruiu a floresta então ele volta uma
casa, se ele caiu aqui ele esta agindo na polinização
ele esta ajudando as florestas a crescerem, então
a criança vai e vem, os amigos rodam o dado, vira
aquela torcida brasileira, veja como a gente expõe
as idéias, "Joãozinho fez uma cicatriz,
colocou o nome de Maria na árvore, ele não
poderia ter feito isso, ele feriu a nossa amiga então
ele volta uma casa", e quando ele cai numa casa que
não tem desenho tem uma mensagem "a árvore
embeleza o ambiente", "na cidade a função
da árvore é abafar os ruídos"
então em cada casa que ele pára ele lê
para os amigos e todo mundo aprende brincando, é
isso que a gente está tentando fazer com todos os
nossos jogos.
Um dos vários
jogos educativos criados pela equipe do Jardim Botânico.
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O
primeiro ministro inglês Tony Blair esteve aqui no
Brasil no final de julho e um dos lugares escolhidos para
as visitas oficiais foi o Jardim Botânico. Como foi
a passagem dele por aqui?
Chiea: Uma
das nossas brincadeiras é o bingo das frutas e foi
exatamente na hora que um grupo de crianças estava
aqui na estufa jogando o ministro chegou, foi incrível,
as crianças brincando, aquela concorrência,
aquela torcida os meninos contra as meninas, olha, pegou
fogo neste dia, ele (Tony Blair) ficou doido, foi o único
local na visita dele que ele sentou e ficou admirando a
criançada brincar, como era uma terça-feira
não era dia de visitação pública,
então pegamos todas as nossas crianças da
creche para brincar para ele ver.
Monitoras se divertem ensinando educação ambiental. |
Como são feitos
esses materiais para os jogos, de onde vêm os recursos?
Chiea: Vocês
estão vendo estas cartelas com fotos de frutas, os
dados, todo esse material, é muito difícil
para conseguirmos, nós precisamos de ajuda até
para fazer isso, nós temos como fazer as cópias
em preto e branco, mas não temos como fazer colorida,
precisamos de ajuda para isso, para comprar o material,
isso é feito com material reciclado lá do
escritório, nós procuramos aproveitar tudo
que a gente tem, mas existem coisas que a criança
precisa ter um impacto visual, aí ela reconhece,
não adianta eu montar uma coisa que não atraia.
Tem um grande jogo que vai ser montado, porque cada equipe
eu deixo responsável para desenvolver um, tem o jogo
do Brasil, ele é enorme e será feito com esse
material, dividido em regiões geográficas,
cada região geográfica eu pretendo fazer de
uma cor, por exemplo na região do Mato Grosso, vai
ser abordado o Pantanal, no norte a Amazônia, num
lugar vai ser dunas, em outros cerrados, de modo que serão
quebra-cabeças de vegetações do Brasil,
isso está sendo montando, então nós
vamos fazer equipes, cada equipe vai ser responsável
por uma vegetação e quem monta mais rápido
o quebra-cabeça, quem descobre qual vegetação
corre e monta, vai ficar maravilhoso. Precisamos sim de
ajuda, alguém que possa colaborar de alguma forma,
uma empresa que possa ajudar doando brindes para as crianças,
matéria-prima para a criação dos jogos
enfim, o material que precisamos é super simples,
porque força de vontade e idéias não
vão faltar.
Dê outro exemplo
dessas brincadeiras que vocês querem introduzir aqui.
Gostaria que você explicasse como é fácil
e barato criar opções de ensino.
Chiea: Tem
um rapaz, que faz parte da nossa equipe, tem várias
idéias, por exemplo, para explicar a polinização
ele "bolou" uma garrafa tipo pet, corta metade
da garrafa e onde está a tampinha a gente coloca
uma bala que faria a vez do mel, a parte adocicada da planta,
criamos as pétalas com a própria garrafa e
colocamos duas anteninhas, essas anteninhas seriam nossas
estames e na cabecinha desses estames colocamos dois "feijõezinhos"
cheios de purpurina, desta forma, quando estamos explicando
a polinização e a criança introduz
a mãozinha na garrafa a antena bate na mãozinha
dela e deixa o pólen, então explicamos que
assim acontece com as abelha, quando estão polinizando
as flores é exatamente desta forma que levam o pólen
de uma planta para outra. É uma coisa simples, essa
é nossa idéia, brincando você pode ensinar
e levar isso para escolas do Estado, porque a gente vê
uma aula muito desmotivada, sem graça, não
tem interesse nenhum, uma das oficinas que a gente quer
montar, é para as crianças construírem
com caixinhas de fósforo, pet, com latinha, coisas
para brincar, não vai gastar nada, eles já
vem para monitoria com o material, vão criar alguma
coisa e no final a gente pega o melhor trabalho e coloca
em exposição dá um prêmio faz
aquele auê todo, tira fotografia da criança,
fica exposto o trabalhinho já imaginou a farra, tem
que ensinar uma coisa simples, uma coisa que qualquer pessoa
pode montar e ensinar.
Existe algum trabalho
feito também com educadores?
Chiea: Temos sim,
os professores na maioria das vezes formam-se mas não
tem oportunidade de conhecer os lugares, eles não
conhecem um cerrado, um campo, mata atlântica, eles
sabem apenas através de livros ou tv, mas quando
eles passam pelo nosso curso de reciclagem de professores,
a gente leva eles nessas vegetações para conhecer
e mostrar a diferença, eles voltam maravilhados,
ali estão vendo o que o livro está falando
eles estão entendendo. Antes eles passavam as informações
as crianças como máquinas e agora eles entendem
o porque daquilo, porque se você não vê,
você não grava, você tem que ver para
não esquecer.
Futuro do país está nas mãos
deles, e a continuidade do projeto realizado no Botânico
nas nossas. |
Estou impressionado com
a maneira que vocês estão tratando a educação
ambiental, tenho certeza que esse é o caminho para
a criação de uma consciência ecológica,
afinal se quisermos saber sobre o futuro temos que olhar
para as crianças, elas são o futuro não
só do Brasil, mas, do mundo inteiro...
Chiea: Temos toda
a vontade do mundo para criar, melhorar, levar a educação
ambiental para crianças de todas as idades e classes
sociais, mas precisamos da ajuda de todos, todos aqueles
interessados em criar um mundo melhor, mais saudável.
A gente sabe das dificuldades, aqui se vê quantas
coisas tem que ser reformuladas, por isso, estamos aceitando
parcerias em todos os níveis. São pequenas
coisas, pequenas atitudes que tornam nossas vidas melhores.
Um simples brinde, porque se a criança joga ela está
aprendendo mais ela quer ganhar alguma coisa, um pirulito,
um cata-vento, qualquer coisa. De repente quem sabe se vocês
publicando algo, alguém se interesse em fazer alguma
coisa, ajudar de alguma forma, porque se Deus quiser vamos
continuar lutando.
Silvia Antônia
Correa Chiea é chefe da seção
de educação ambiental do Instituto de Botânica
de São Paulo e coordenadora do projeto de educação
ambiental do Jardim Botânico. |