Pesquisadores
descobrem “oxigênio negro” no fundo do oceano
A
descoberta trouxe muitas dúvidas sobre o que isso pode
significar no ecossistema marinho
17/09/2025 – Muitas
questões ainda são desconhecidas sobre a origem
do oxigênio produzido sem fotossíntese e seu
papel nos ecossistemas de águas profundas. Esse fenômeno
misterioso foi observado pela primeira vez em 2013, durante
uma expedição no Oceano Pacífico, e parecia
tão incomum que o cientista Andrew Sweetman inicialmente
pensou que o equipamento de monitoramento estava com defeito.
As leituras indicaram que o oxigênio estava sendo gerado
a 4.000 metros de profundidade, onde a luz solar não
chega, e o mesmo fenômeno foi registrado em três
viagens subsequentes à Zona Clarion-Clipperton.
Andrew Sweetman, professor
da Associação Escocesa de Ciências Marinhas,
inicialmente duvidou dos sensores que mostravam oxigênio
sendo produzido a 4.000 metros de profundidade, já
que isso contradizia o conhecimento anterior, que afirmava
que apenas organismos fotossintéticos, como plantas
e algas, podiam produzir oxigênio. Quando enviou os
sensores de volta para o fabricante, ele recebeu a resposta
de que estavam calibrados e funcionando corretamente. A pesquisa
de sua equipe está agora desafiando essa suposição,
revelando a produção de oxigênio sem fotossíntese,
o que surpreende Sweetman e exige uma reavaliação
do que se sabe sobre os ecossistemas marinhos profundos.
O estudo, publicado na Nature
Geoscience, revela o quanto ainda é desconhecido sobre
as profundezas do oceano e os riscos envolvidos na exploração
do fundo marinho para metais e minerais raros. A descoberta
de uma nova fonte de oxigênio, além da fotossíntese,
pode ter implicações significativas, incluindo
a compreensão das origens da vida. Sweetman fez essa
observação ao investigar a biodiversidade marinha
em uma área destinada à mineração
de nódulos polimetálicos, que se formam ao longo
de milhões de anos por processos químicos que
fazem metais precipitar ao redor de fragmentos de conchas,
bicos de lula e dentes de tubarão, cobrindo grandes
áreas do fundo do mar.
Metais como cobalto, níquel,
cobre, lítio e manganês, presentes nos nódulos
polimetálicos, estão em alta demanda para tecnologias
verdes, como painéis solares e baterias de carros elétricos.
No entanto, críticos alertam que a mineração
em águas profundas pode causar danos irreversíveis
ao ambiente submarino, com ruídos e sedimentos prejudicando
ecossistemas e organismos que habitam os nódulos. Além
disso, há preocupações de que a mineração
possa afetar o armazenamento de carbono no oceano, agravando
a crise climática. Para investigar, Sweetman e sua
equipe usaram um equipamento de perfuração para
coletar dados sobre o fundo do mar durante um experimento
em 2013.
Sweetman esperava que o sensor
detectasse a queda gradual dos níveis de oxigênio
devido à respiração de animais microscópicos
no fundo do mar, para calcular o "consumo de oxigênio
da comunidade sedimentar", o que daria informações
sobre a fauna e os microrganismos marinhos. No entanto, em
2021, ao usar um método alternativo e obter o mesmo
resultado, ele percebeu que o oxigênio estava sendo
produzido no fundo do mar. Após quase uma década
observando o fenômeno na Zona Clarion-Clipperton, Sweetman
e sua equipe levaram amostras de sedimentos, água e
nódulos polimetálicos para o laboratório,
a fim de entender como esse oxigênio estava sendo gerado.
Os pesquisadores
descartaram processos biológicos, como micróbios,
como causa do fenômeno e focaram nos próprios
nódulos polimetálicos como origem do oxigênio.
Inicialmente, suspeitaram que o oxigênio fosse liberado
do óxido de manganês nos nódulos, mas
Sweetman refutou essa hipótese. Uma descoberta ocorreu
quando Sweetman assistiu a um documentário sobre mineração
em águas profundas em São Paulo, onde alguém
mencionou que os nódulos funcionavam como baterias.
Isso fez Sweetman pensar que talvez o fenômeno fosse
eletroquímico. Ele especulou que os nódulos,
assim como uma bateria, poderiam estar dividindo a água
do mar em oxigênio e hidrogênio por meio de eletrólise.
Sweetman procurou o eletroquímico
Franz Geiger, da Universidade Northwestern, e juntos investigaram
o fenômeno. Usando um multímetro para medir pequenas
variações de voltagem, registraram 0,95 volts
na superfície dos nódulos. Embora essa voltagem
fosse inferior à necessária para a eletrólise
da água do mar, ela indicava que voltagens mais altas
poderiam ocorrer quando os nódulos estão agrupados.
Geiger afirmou que haviam descoberto uma "geobateria"
natural, o que poderia explicar a produção de
oxigênio nos oceanos, conhecida como oxigênio
escuro.
O Serviço Geológico
dos EUA estima que existam 21,1 bilhões de toneladas
de nódulos polimetálicos na Zona Clarion-Clipperton,
com mais metais críticos do que todas as reservas terrestres
do mundo. A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos regula
a mineração na região e está reunida
na Jamaica para discutir novas regras para a extração
de metais do fundo do oceano. Contudo, países como
o Reino Unido e a França têm demonstrado cautela,
apoiando uma moratória ou proibição da
mineração em águas profundas para proteger
os ecossistemas marinhos e a biodiversidade. Recentemente,
o Havaí proibiu a mineração em suas águas
estaduais.
Sweetman e Geiger alertaram
que a indústria de mineração deve considerar
as implicações da nova descoberta antes de explorar
os nódulos de águas profundas. Craig Smith,
da Universidade do Havaí, apoia uma pausa na mineração,
devido ao impacto potencial em um ambiente vulnerável
e biodiverso. Geiger lembrou que as tentativas de mineração
na década de 1980 servem como advertência, pois
biólogos marinhos descobriram em 2016 e 2017 que nem
mesmo bactérias haviam se recuperado nas áreas
mineradas.
Geiger observou que, nas regiões
não mineradas, a vida marinha prosperou, mas as "zonas
mortas" nas áreas mineradas persistem por décadas,
e ainda não se sabe o motivo. Ele destacou que isso
coloca um grande questionamento nas estratégias de
mineração, já que a diversidade faunística
em áreas ricas em nódulos é maior do
que nas florestas tropicais. Sweetman, cuja pesquisa foi apoiada
por empresas interessadas em minerar a Zona Clarion-Clipperton,
enfatizou a importância de uma supervisão científica
na mineração em águas profundas.
Ainda há muitas perguntas
sem resposta sobre como o oxigênio negro é produzido
e qual seu papel nos ecossistemas de águas profundas.
Sweetman afirmou que entender como o fundo do oceano gera
oxigênio pode oferecer novas perspectivas sobre as origens
da vida. A descoberta de que a eletrólise da água
do mar pode formar oxigênio nas profundezas poderia
inspirar novas teorias sobre como a vida surgiu na Terra.
Ele acredita que ainda há muito a ser explorado e que
essa descoberta pode ser o início de algo incrível.
Da Redação,
com informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de Inteligência
Artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
|