Acidez
dos oceanos ultrapassa limite de equilíbrio planetário
Pesquisa
foi feita pelo Laboratório Marinho de Plymouth do Reino
Unido
05/11/2025 – A acidificação
dos oceanos, um fenômeno causado pelo excesso de absorção
de gás carbônico (CO2) da atmosfera, ultrapassou
os limites para o equilíbrio planetário em 2020,
aponta estudo publicado por pesquisadores do Laboratório
Marinho de Plymouth (PML) do Reino Unido.
De acordo com o estudo Acidificação
dos oceanos: mais um limite planetário ultrapassado
, a informação só foi revelada cinco
anos depois, por meio do uso de medições mais
modernas e da aplicação de novos modelos computacionais
sobre materiais coletados nos últimos 150 anos.
“A gente tem uma informação
robusta, sendo produzida por um estudo que tem alcance mundial
e revelando uma informação que a gente, infelizmente,
não tinha ainda. Apesar das observações
e modelos matemáticos, essas informações
não tinham integrado ainda o contexto dos limites planetários.
E esse foi o grande avanço”, explica Alexander
Turra, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade
de São Paulo (IOUSP) e coordenador da Cátedra
Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
O conceito de limites planetários
foi criado em 2009 por cientistas do Centro de Resiliência
de Estocolmo para o acompanhamento de nove fenômenos
decorrentes da ação humana, como mudança
climática, poluição por produtos químicos,
mudança no uso da terra e a acidificação
dos oceanos. Desde então, a ciência apontava
que seis desses limites haviam sido ultrapassados.
Com a descoberta do novo estudo,
a mudança da acidez das águas dos oceanos aumenta
essa lista para sete.
“Isso traz para a gente um alarme adicional em relação
a essa degradação do oceano. Especialmente porque
é um fenômeno silencioso e imperceptível
no nosso dia a dia, diferente do lixo no mar, que é
muito evidente”, alerta Turra.
Com a absorção
da alta concentração de gás carbônico
da atmosfera, os oceanos passam por uma redução
do potencial hidrogeniônico (pH) e consequente diminuição
da concentração de carbonato de cálcio
na água, que afeta diretamente a estruturação
de esqueletos e o crescimento de vidas marinhas.
“ Isso significa
que vai ter menos crescimento de recifes de coral, conchas
de moluscos mais frágeis, autólitos [rochas
hospedeiras] de peixes menos estruturados, e a gente vai ter,
então, organismos que terão uma capacidade de
se relacionar com o meio ambiente limitada em função
desse comprometimento”, explica o pesquisador.
De acordo com a coordenadora
do Laboratório de Oceanografia Química da UERJ,
Letícia Cotrim, a acidificação também
pode causar mudanças na fisiologia, crescimento e reprodução
de espécies, afetando a biodiversidade existente nos
oceanos.
O estudo propõe ainda
o limiar de 10% para a concentração de carbonato
de cálcio abaixo dos níveis pré-industriais
como referência para esse limite planetário.
A proposta parte da observação do comprometimento
de habitats de espécies como moluscos, que dependem
de conchas calcificadas para a sobrevivência.
Impacto
De acordo com os pesquisadores, quando essa fronteira foi
ultrapassada em 2020, foi observado o comprometimento de 60%
do oceano com profundidade de até 200 metros, e 40%
do oceano de superfície de todo o planeta.
“Incluindo uma redução
de 43% no habitat dos recifes de coral tropicais e subtropicais,
até 61% para os pterópodes polares (borboletas
marinhas) e 13% para os bivalves costeiros”, destaca
a pesquisa.
Para a pesquisadora o estudo
reforça o que cientistas afirmam há décadas.
Quanto mais CO2 na atmosfera, mais rápido ultrapassaremos
os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris. O limite de
1,5ºC de aquecimento global é o considerado gerenciável
para evitar perdas maiores de vidas humanas, perdas na produção,
problemas mais graves – e caros – com extremos
climáticos e com a elevação do nível
do mar, destaca.
Para Turra, o Brasil, enquanto
um país marítimo e que vai sediar, em novembro,
a próxima Conferência das Nações
Unidas sobre o Clima (COP30), deve ter um protagonismo central
nessa discussão, por meio da implementação
de ações efetivas que sirvam como exemplo.
“A gente vai poder fazer uma conexão muito clara
entre o oceano e o clima na COP30, a ponto de a gente fortalecer
com mais esse argumento a necessidade de reduzir as emissões
e de aumentar o sequestro e a estocagem de carbono”,
conclui.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Pixabay
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