Lula
diz que Acordo de Paris está longe da meta e faz
apelo a líderes
Em
último dia da Cúpula do Clima, Lula critica
falta de ação de países
08/11/2025 – PEDRO
RAFAEL VILELA - ENVIADO ESPECIAL – Belém -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou
preocupação com a situação climática
do planeta e fez um apelo para que líderes do mundo
inteiro reafirmem o compromisso com o Acordo de Paris, que
está completando 10 anos. Na última sessão
temática da Cúpula do Clima, em Belém,
na tarde desta sexta-feira (7), o presidente fez críticas
à ação dos países para mitigar
as mudanças do clima.
"O mundo ainda está
distante de atingir o objetivo do Acordo de Paris. O acordo
se baseia no entendimento de que cada país fará
o melhor que estiver ao seu alcance para evitar o aquecimento
de 1,5º C. O que nos cabe perguntar hoje é:
estamos realmente fazendo o melhor possível? A resposta
é: ainda não", afirma.
Lula observou que América
Latina, Ásia e África são as regiões
que correm o maior risco de se tornarem inabitáveis
nas próximas décadas, incluindo um possível
desaparecimento de ilhas no Caribe e no Pacífico
por conta do aumento do nível dos oceanos pelo derretimento
das geleiras.
"Omitir-se é
sentenciar novamente aqueles que já são os
condenados da Terra", sentenciou.
O presidente insistiu na necessidade de revitalizar as metas
do Acordo de Paris, por meio das Constituições
Nacionalmente Determinadas, as chamadas NDCs (sigla em inglês).
"Cem países,
representando quase 73% das emissões globais, apresentaram
suas Contribuições Nacionalmente Determinadas.
Em sua maioria, as novas NDCs avançaram ao abranger
todos os setores econômicos e todos os gases de efeito
estufa. Mas o planeta ainda caminha para um aquecimento
de cerca de 2,5º C. No que depender do Brasil, Belém
será o lugar onde renovaremos nosso compromisso com
o Acordo de Paris", pontuou.
Reprodução/Bruno
Peres/ABR
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O presidente apontou a necessidade
não apenas de implementar o que já foi acordado,
mas também de "adotar medidas adicionais capazes
de preencher a lacuna entre a retórica e a realidade".
Comunidades tradicionais
e financiamento
O presidente Lula apontou também que o Brasil vai
propor que a COP na Amazônia reconheça o papel
dos territórios indígenas e comunidades tradicionais
e as políticas de proteção como instrumento
de mitigação climática.
No tema do financiamento,
Lula citou o Mapa do Caminho Baku-Belém, que propõe
alternativas para chegar à meta de US$ 1,3 trilhão
por ano para mitigação e adaptação
das consequências catastróficas das mudanças
de temperatura planetária.
"Hoje, só uma
pequena parcela do financiamento climático chega
ao mundo em desenvolvimento. A maioria dos recursos ainda
é oferecida sob forma de empréstimo. Não
faz sentido ético ou prático demandar a países
em desenvolvimento que paguem juros para combater o aquecimento
global e fazer frente ao seus efeitos. Isso representa um
financiamento reverso, fluindo do Sul para o Norte global",
argumentou. O presidente defendeu instrumentos de troca
de dívida de países por ações
climáticas e apontou que o enfrentamento da mudança
do clima deve ser visto como investimento, não como
gasto.
Taxação de
grandes fortunas
Ao lembrar que a maior parte da riqueza mundial gerada nas
últimas quatro décadas foi apropriada por
indivíduos e empresas, ao passo que os orçamentos
nacionais encolheram, Lula defendeu a taxação
de grandes fortunas.
"Segundo a Oxfam, o
indivíduo pertencente ao 0,1% mais rico do planeta
emite, num único dia, mais carbono do que os 50%
mais pobres da população mundial durante o
ano inteiro. É legítimo exigir dessas pessoas
uma maior contribuição. O imposto mínimo
sobre as corporações multinacionais e a tributação
do patrimônio de super-ricos podem gerar recursos
valiosos para ação climática",
apontou.
Os mercados de carbono também
poderão ser tornar fontes de receitas públicas,
apontou Lula, mas ainda dependem de maior escala caso os
países adotem parâmetros comuns.
Lula ainda voltou a defender
a criação de um Conselho do Clima no âmbito
da Organização das Nações Unidas
(ONU) e finalizou fazendo uma defesa enfática do
multilateralismo para a solução do aquecimento
global.
"Faço um chamado
a todos vocês. Não existe solução
para o planeta fora do multilateralismo. A Terra é
única, a humanidade é uma só, a resposta
tem que vir de todos para todos. Em vez de abandonar a esperança,
podemos construir juntos uma nova era de prosperidade e
igualdade".
A Cúpula do Clima,
que termina nesta sexta-feira, reúne líderes
de diferentes países em uma programação
que antecede a 30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será
realizada de 10 a 21 de novembro, também na capital
paraense. O objetivo é atualizar e reforçar
os compromissos multilaterais para lidar com a urgência
da crise climática.
Chefes de Estado, líderes
de governos e representantes de alto nível de mais
de 70 países passaram por Belém para participar
do evento. Considerando embaixadores e pessoal diplomático,
a lista ultrapassa uma centena de governos estrangeiros
representados na capital paraense.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Bruno Peres/Agência
Brasil