COP30
precisa concretizar palavras do presidente Lula, dizem entidades
Organizações
da sociedade civil avaliam pronunciamento em cúpula
08/11/2025 – PEDRO
RAFAEL VILELA - ENVIADO ESPECIAL – Belém -
Organizações da sociedade civil com atuação
nas questões climáticas consideraram positivo
o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
na abertura da Cúpula do Clima, em Belém,
nesta quinta-feira (6). Na ocasião, Lula defendeu
a superação dos combustíveis fósseis
e enfatizou a necessidade de os países levarem a
sério os alertas da ciência sobre o clima.
O evento, que reúne
dezenas de chefes de Estado e de governo, antecede a 30ª
Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (COP30), que será realizada
de 10 a 21 de novembro, também na capital paraense.
"Em seu discurso, o
presidente Lula afirmou que precisamos de um mapa do caminho
para acabar com o desmatamento e o uso dos combustíveis
fósseis. É exatamente do que precisamos e
é exatamente o que esperamos que a presidência
da conferência coloque como proposta sobre a mesa.
O sucesso da COP30 se dará ao transformar as palavras
do presidente brasileiro em resolução final",
observou o secretário executivo do Observatório
do Clima, Marcio Astrini.
"Foi um discurso forte,
mas, para essa COP entrar para história, é
preciso concretizar a promessa de sairmos de Belém
com um mapa do caminho para reverter o desmatamento até
2030 e superar a dependência dos fósseis. Precisamos
de planos concretos, mecanismos de implementação
e fontes claras de financiamento. O desafio agora é
transformar essas palavras em ação, sob liderança
do Brasil", apontou a diretora executiva do Greenpeace
Brasil, Carolina Pasquali.
O fato de, no mês
passado, a Petrobras ter obtido licença do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) para iniciar operação de pesquisa
exploratória de petróleo na chamada Margem
Equatorial foi mencionado como um ponto frágil em
relação aos compromissos de Lula no pronunciamento.
O poço fica em águas profundas do Amapá,
a 175 quilômetros (km) da costa e a 500 km da foz
do Rio Amazonas.
"Seguir insistindo em explorar petróleo na Foz
do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios
indígenas, que aguardam há décadas
por essa garantia, expõe contradições
que não cabem em um momento tão importante
para o nosso país e para o planeta. Que as palavras,
mas principalmente as ações do Brasil, sejam
a injeção de coragem que os demais líderes
globais precisam para também fazerem a sua parte",
acrescentou Carolina Pasquali, do Greenpeace.
"Enquanto o governo
reafirma o compromisso com o Acordo de Paris, segue ampliando
a dependência de combustíveis fósseis
– autorizando novas explorações de petróleo
e leilões de termelétricas a carvão
e gás. Não basta reconhecer a urgência
climática se não houver metas mensuráveis,
prazos e mecanismos transparentes de implementação",
criticou o presidente do Instituto Arayara, Juliano Bueno.
Reprodução/Tãnia
Rêgo/ABR
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"O discurso do presidente
Lula na abertura da cúpula dos líderes aumenta
a expectativa de que a COP30 desenhe um 'mapa do caminho'
para longe dos combustíveis fósseis e para
mobilizar recursos necessários para evitar perdas
humanas e materiais que ele mesmo classificou de 'drásticas'.
Seria a forma de completar o trabalho de duas cúpulas
anteriores, em Dubai e Baku", comentou Marta Salomon,
especialista sênior do Instituto Talanoa.
Para Tatiana Oliveira, especialista em clima e líder
de estratégia internacional do WWF-Brasil, Lula trouxe
uma sinalização positiva para a implementação
do "Pacote Natureza" para o enfrentamento da crise
climática.
"Essa é uma
demanda que o WWF-Brasil e outras organizações
da sociedade civil defendem para estreitar as sinergias
entre as três diferentes convenções
do Rio [Eco-92]: de clima, biodiversidade e desertificação.
Nesse contexto, é imperativo que, entre outras ações
e decisões, haja adesão suficiente para colocar
em operação o TFFF [Fundo de Florestas Tropicais,
na sigla em inglês]. A COP30 pode ser a COP da Natureza
e o mundo não pode perder essa oportunidade",
destacou a ativista.
Lançado nesta Cúpula
do Clima, por iniciativa do governo brasileiro, o TFFF é
uma ferramenta de financiamento inovadora para auxiliar
países a conservarem as florestas tropicais, presentes
em mais de 70 nações, entre elas, o Brasil.
Os primeiros aportes serão feitos por governos nacionais,
com recursos que devem ativar o fundo para alavancar capital
da iniciativa privada. A proposta, desenhada pelo governo
brasileiro, pretende alcançar inicialmente US$ 25
bilhões com as adesões dos países e
chegar a US$ 125 bilhões com o capital privado.
"Os compromissos com
o Fundo Florestas Tropicais para Sempre [TFFF] anunciados
hoje na Cúpula do Clima, em Belém, por diversos
países, marcam um ponto de inflexão para a
conservação global e um exemplo a ser seguido
por outras nações desenvolvidas. A proteção
das florestas tropicais não pode ser vista como um
investimento opcional ou secundário, dada a enorme
dependência da economia global dos serviços
ambientais que elas prestam ao regular o clima, as chuvas
e preservar a biodiversidade", apontou o vice-presidente
da Conservação Internacional (CI) Brasil,
Maurício Bianco.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Tânia Rêgo/Agência
Brasil