Guterres:
não é hora de negociar, é hora de implementar
Chefe
da ONU discursou na abertura da Cúpula do Clima,
em Belém
08/11/2025 – PEDRO
RAFAEL VILELA - ENVIADO ESPECIAL – Belém -
A necessidade urgente de mobilização de recursos
financeiros para promover uma transição energética
e alcançar as metas climáticas do Acordo de
Paris deu o tom do discurso do secretário-geral da
Organização das Nações Unidas
(ONU), o português António Guterres, na abertura
da Cúpula do Clima, em Belém.
O evento antecede a 30ª
Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (COP30), que será realizada
de 10 a 21 de novembro na capital paraense. Na avaliação
de Guterres, o momento não é mais de negociação,
mas de implementação dos compromissos assumidos
nas últimas décadas.
"Precisamos demonstrar
um caminho claro para podermos chegar a US$ 1,3 trilhão
em financiamento climático a países em desenvolvimento,
até 2035, conforme decidido na COP de Baku [no Azerbaijão].
Os países envolvidos têm que liderar para mobilizar
esses investimentos, para que eles possam oferecer financiamentos
acessíveis. Não é mais tempo de negociar,
estamos na hora de implementar, implementar e implementar",
afirmou.
Sobre esse desafio, as presidências
da COP29 do Azerbaijão e da COP30 do Brasil anunciaram,
na última quarta-feira (5), um plano estratégico
para levantar esse mínimo de US$ 1,3 trilhão
por ano em financiamento climático pelos próximos
dez anos. É o chamado Mapa do Caminho Baku-Belém,
que prevê uma série de mecanismos tributários
e financeiros para alocar os recursos.
Em seu discurso, Guterres
lembrou que, no ano passado, os investimentos em energias
renováveis superaram em US$ 800 milhões o
valor destinado a combustíveis fósseis, como
petróleo e carvão. Segundo ele, é preciso
romper com lobbies do segmento que é o maior responsável
pela emissão de gases poluentes que aquecem a atmosfera
do planeta.
"Os combustíveis
fósseis ainda levam muitos subsídios dos contribuintes,
muitas empresas e corporações estão
lucrando cada vez mais com a devastação ambiental,
com bilhões sendo gastos com lobbies para enganar
o público e obstruir o progresso. E muitos líderes
globais ainda se mantêm em linha com esses interesses",
observou o chefe da ONU.
Reprodução/Bruno
Peres/ABR
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"Sempre defendi contra
mais explorações de combustíveis fósseis
como também de plantas de carvão. Na COP de
Dubai [2023], os países se comprometeram a fazer
a transição, sem aquela lavagem verde mais,
e precisamos realmente entrar em ação, enquanto
trabalhamos e apoiamos os países em desenvolvimento
que ainda dependem desses combustíveis fósseis.
Precisamos superar barreiras estruturais para que os países
em desenvolvimento possam entregar e apresentar seus compromissos
de NDCs [metas de redução de emissões
poluentes]", prosseguiu Guterres.
Na prática, a Cúpula
do Clima busca reunir líderes de diversos países
para dar peso político às negociações
que se seguirão pelas próximas duas semanas
de COP. A cada ano, um país recebe a Conferência
do Clima, que tem como principal missão buscar formas
de implementar a Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em
inglês). Esse documento foi adotado por diversos países
em 1992, justamente em uma conferência no Brasil,
a Eco-92, no Rio de Janeiro.
Desde então, a meta
geral passou a ser a de estabilizar a concentração
de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse compromisso
foi reforçado há dez anos, com o Acordo de
Paris, que abrangeu a quase totalidade de países
no compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5º
C.
A Cúpula do Clima
em Belém reúne dezenas chefes de Estado e
de governo, até esta sexta-feira (7). Em discurso
de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
também defendeu a superação dos combustíveis
fósseis e enfatizou a necessidade de os países
levarem a sério os alertas da ciência sobre
o clima.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Bruno Peres/Agência
Brasil