O
que o governo brasileiro espera da COP30
Grandes
desafios deixam resultados ainda mais distantes na Cúpula
10/11/2025 – O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa da Cúpula
do Clima de Belém nos dias 6 e 7 de novembro, que
antecede a abertura oficial da COP30 (10 a 21 de novembro),
evento anual da ONU sobre mudanças climáticas.
A cúpula reúne delegações de
143 países e serve como um “pontapé
inicial” para as negociações da conferência
principal, que deve atrair cerca de 100 mil pessoas à
cidade.
Entre os participantes confirmados
estão Emmanuel Macron, Keir Starmer e Ursula von
der Leyen. A COP30 é considerada pelos diplomatas
a principal aposta diplomática do governo Lula neste
terceiro mandato, com expectativa de foco em pautas domésticas
no próximo ano, especialmente considerando a eleição
de 2026.
Apesar de desafios logísticos
em Belém, como falta de hotéis e trânsito
intenso, o evento deve ocorrer normalmente. O governo busca
consolidar avanços em financiamento climático,
transição energética, preservação
de florestas e adaptação, enfrentando desafios
diplomáticos para que a conferência seja vista
como bem-sucedida e não fracassada.
O principal objetivo do
presidente Lula ao lançar o Brasil como sede da COP30
foi projetar o país como uma liderança climática
global, aproveitando o vácuo deixado pela União
Europeia, que precisou redirecionar recursos à defesa
devido à guerra na Ucrânia.
Segundo especialistas, a
estratégia busca posicionar o Brasil como formulador
de regras internacionais, e não apenas como cumpridor
de normas externas, retomando protagonismo perdido durante
o governo Bolsonaro (2019–2022).
Nos últimos anos,
o país já deu sinais dessa reaproximação
internacional ao sediar a Cúpula da Amazônia
(2023), presidir a Cúpula do G20 (2024) e a Cúpula
dos Brics (2025). O resultado é que o Brasil voltou
a se colocar no centro das discussões globais, especialmente
em temas climáticos e progressistas, recuperando
influência diplomática e visibilidade internacional.
A estratégia de Lula
na COP30 tem como base o multilateralismo, que prioriza
alianças internacionais e objetivos comuns em vez
de políticas isolacionistas. Essa abordagem é
considerada essencial para países como o Brasil,
que não são potências econômicas
ou militares.
Um revés significativo
ocorreu com a eleição de Donald Trump em 2024,
que adota uma política isolacionista e anti-clima,
incluindo a saída dos Estados Unidos do Acordo de
Paris. Isso representa um golpe duplo: os EUA são
o segundo maior emissor global de gases de efeito estufa
e uma fonte potencial de financiamento climático.
Apesar disso, os EUA ainda participarão da COP30
com delegação diplomática limitada.
Especialistas, destacam
que a COP30 é uma oportunidade de fortalecer o multilateralismo
climático, reconstruindo confiança, cooperação
e solidariedade entre os países. Até agora,
o Brasil conseguiu manter outros países engajados,
mesmo diante da postura de Washington, demonstrando relativa
eficácia em sua estratégia diplomática.
A COP30 também tinha
um objetivo doméstico para Lula: conquistar prestígio
junto a setores da população ligados a pautas
climáticas, ambientais e de direitos humanos, tradicionalmente
associados à esquerda.
No entanto, esse objetivo
enfrentou contradições na política
ambiental do governo. Apesar de anunciar a menor taxa de
desmatamento na Amazônia desde 2017 (5.796 km²
entre julho/2024 e agosto/2025), o Ibama liberou licença
para a Petrobras pesquisar petróleo na Foz do Amazonas,
gerando críticas de cientistas e ambientalistas.
Lula defendeu a decisão,
afirmando que o Brasil não poderia abrir mão
do petróleo de forma irresponsável. Segundo
o especialista Eduardo Viola, essa postura gerou ambiguidade
na política climática, diminuindo parte do
prestígio doméstico que a COP30 poderia trazer.
Os especialistas apontam
três gargalos principais para a COP30, sendo o mais
destacado o financiamento climático. Há um
histórico de impasse entre países em desenvolvimento,
que querem mais recursos para adaptação e
mitigação, e países ricos, que hesitam
em aumentar compromissos.
Na COP15 (2009), os países
desenvolvidos prometeram US$ 100 bilhões anuais até
2020, meta nunca atingida. Na COP29 (2024), foi proposto
US$ 1,3 trilhão anuais até 2035, mas o acordo
foi reduzido a US$ 300 bilhões, com a expectativa
de que a COP30 apresente um “mapa do caminho”
detalhando como chegar ao valor maior. O documento sugere
medidas como tributação de super-ricos e mudança
de subsídios a combustíveis fósseis,
mas ainda precisa ser formalmente avaliado pelos negociadores.
O governo brasileiro aposta
no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como ferramenta
de financiamento, projetando arrecadar até US$ 125
bilhões com aportes de governos e entidades privadas.
O fundo remuneraria países que preservam florestas
tropicais com base em juros de investimentos seguros. Até
agora, apenas o Brasil confirmou US$ 1 bilhão; a
Indonésia anunciou participação, mas
sem valores definidos.
O sucesso da COP30, segundo
diplomatas, dependerá do grau de adesão de
investidores e da capacidade do Brasil de equilibrar pressões
de países em desenvolvimento e ricos sem gerar impasses
nas negociações.
Até o início
da COP30, apenas 64 dos 198 países haviam divulgado
suas contribuições nacionalmente determinadas
(NDCs), incluindo o Brasil, muito abaixo da meta de 125
países. As NDCs são os documentos que estabelecem
metas nacionais de redução de emissões
de gases do efeito estufa, fundamentais para medir o progresso
rumo ao limite de 1,5°C de aquecimento global.
O atraso gerou críticas,
inclusive do embaixador André Correa do Lago, e grandes
emissores como Índia e Estados Unidos ainda não
apresentaram suas NDCs. A NDC brasileira prevê redução
de 53% das emissões até 2030 e neutralidade
de carbono até 2050.
Segundo relatório
do PNUMA, as metas divulgadas até agora estão
muito aquém do necessário; mesmo se cumpridas,
resultariam em redução global de apenas 10%,
enquanto a ciência indica a necessidade de pelo menos
60% de corte até 2030 para evitar os efeitos mais
graves das mudanças climáticas.
Durante a COP30, a transição
energética deve gerar tensões. Ambientalistas
e países vulneráveis pressionam por redução
drástica do uso de combustíveis fósseis,
enquanto nações dependentes do petróleo
e empresas do setor resistem.
Embora a COP28 tenha consenso
sobre a necessidade da transição, não
há metas ou prazos definidos, e a COP30 também
não tem mandato para estipulá-los. Especialistas
destacam que o Brasil pode enfrentar uma “saia-justa”:
ao mesmo tempo em que sedia a conferência, o país
expande a produção de petróleo, incluindo
a abertura de um poço de pesquisa na Amazônia,
o que compromete sua legitimidade para liderar debates sobre
transição energética.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Redação,
com informações de agências de notícias
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay