Brasil
lança na COP plano para adaptação do
SUS às mudanças climáticas
Texto
foi articulado com grupo de países e será
apresentado em Belém
13/11/2025 – PEDRO
RAFAEL VILELA - ENVIADO ESPECIAL – Belém -
O Ministério da Saúde vai lançar nesta
quinta-feira (13), durante a 30ª Conferência
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(COP30), em Belém, o primeiro plano internacional
de adaptação climática dedicado exclusivamente
à saúde.
Segundo o titular da pasta,
Alexandre Padilha, o documento apresenta ações
concretas para que os países possam preparar os seus
sistemas de resposta aos efeitos das mudanças climáticas
na saúde das populações, especialmente
as mais vulneráveis.
De acordo com Padilha, o
Brasil liderou a construção do plano junto
com outros quatro países que realizaram as últimas
cinco COPs: Reino Unido, Egito, Azerbaijão e Emirados
Árabes, o chamado grupo de Baku.
“Nós apresentamos
a primeira formulação desse plano em maio,
na reunião da Assembleia Geral da Organização
Mundial de Saúde, em Genebra. E, de lá para
cá, foram feitas consultas públicas, reuniões
temáticas e colaborações. Então,
a expectativa é que dezenas de países anunciem
formalmente o compromisso de implementar esse plano de ação
nos seus países também", destacou em
entrevista à Agência Brasil.
Na avaliação
da pasta, eventos climáticos extremos, como enchentes
e secas, estão cada vez mais frequentes e têm
sido um desafio crescente para os sistemas de saúde.
O aumento das temperaturas também impacta na proliferação
de doenças, como a dengue, e na mortalidade por calor
extremo ou outras doenças relacionadas à qualidade
do ar, como as doenças respiratórias. Há
ainda fatores relacionados ao aumento da desigualdade e
redução da qualidade de vida.
Reprodução/Bruno
Peres/ABR
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O plano internacional de
adaptação climática dos sistemas de
saúde será lançado durante o dia oficial
da saúde da COP, em uma reunião na Zona Azul,
a área oficial de negociações da conferência,
como parte de uma agenda da presidência brasileira
no evento. A adesão, segundo Padilha, é voluntária,
mas o Ministério da Saúde vai seguir pautando
o assunto em fóruns internacionais.
"A nossa expectativa
é que as resoluções finais da COP coloquem
a saúde como tema central. A integração
saúde e clima é um tema central do enfrentamento
das mudanças climáticas. Nós estamos
dizendo que é a saúde é a principal
face, a face mais crítica, que pode inclusive a adaptação
de sistemas ajudar a mobilizar a sociedade", afirmou.
Um exemplo de aplicação
desse novo plano pode ser dar na reconstrução
dos serviços de saúde de Rio Bonito do Iguaçu,
cidade do Paraná devastada por um tornado no último
fim de semana.
"Nós já
tomamos essa decisão, vai ser um demonstrativo desse
plano de adaptação reconstruir as unidades
de saúde lá [Rio Bonito do Iguaçu]
com característica que a gente está chamando
de unidade de saúde resiliente. Ou seja, que o padrão
construtivo dela sobreviva a situações como
essa, que a estrutura, por exemplo, de conexão, seja
uma conexão adaptável para que, se tiver uma
quebra do sistema de conexão, você tenha situações
adaptáveis para manter os sistemas de informação
de saúde. Manter, por exemplo, o sistema de informação
da Farmácia Popular, que é muito importante
para garantir a medicação", explicou.
No fim de semana, o governo
federal mobilizou equipes de diferentes áreas, incluindo
a Força Nacional do SUS, composta por médicos
sanitaristas, enfermeiros e especialistas em saúde
mental, para atuar na cidade paranaense, em apoio às
forças locais.
Linhas de ação
O plano internacional de adaptação em saúde
possui três linhas de ação. Uma é
o monitoramento de dados, como o aumento da temperatura
e seus impactos graduais no perfil de adoecimento das populações.
A segunda é a construção de estruturas
de sistema de saúde resistentes a desastres e com
capacidade de operar em situações críticas,
com estoques de água, energia e conectividade.
Por fim, o terceiro eixo
aborda a necessidade de atenção à saúde
das populações mais vulneráveis nos
territórios, com capacidade de realizar exames, cirurgias
e acompanhamento permanente.
Para que os planos possam
ser concretizados na prática, Padilha apontou que
haverá redirecionamento de recursos já existentes
no orçamento para priorizar esse tipo de ação.
O ministro também citou a atração de
recursos privados e financiamento em bancos multilaterais.
"O Brasil já
vem fazendo ações de adaptação
que captam recursos internacionais. Cerca de US$ 160 milhões
foram destinados para o Brasil em ações de
adaptação do serviço de saúde.
E, com esse plano e com a liderança brasileira, a
gente acredita que a gente vai poder captar mais recursos
ainda, de financiadores internacionais, alguns que estão
na COP, bancos, agências de desenvolvimento",
citou.
Segundo Alexandre Padilha,
o governo brasileiro está trabalhando em um pedido
de financiamento no banco dos Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento
(NBD), para obter mais de US$ 350 milhões a serem
investidos na construção dos chamados hospitais
inteligentes. "São hospitais para urgência
e emergência, que são resilientes às
tragédias de mudanças climáticas".
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Bruno Peres/Agência
Brasil