Indígenas
do mundo cobram na COP30 centralidade na ação
climática
Lideranças
exigem direitos territoriais, respeito e financiamento
14/11/2025 – RAFAEL
CARDOSO - ENVIADO ESPECIAL – Belém - O Diálogo
de Povos Indígenas da 30ª Conferência
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(COP30) reuniu representantes das sete regiões socioculturais
da ONU em um encontro para fortalecer a incorporação
do conhecimento, dos valores e das prioridades indígenas
na ação climática global.
Na abertura do evento, o
presidente da COP30, André Corrêa do Lago,
reforçou o papel decisivo dos povos originários.
Ele disse que o Brasil, “um país que teve durante
tantos anos políticas equivocadas com relação
a esse tema”, passa por uma mudança de consciência.
“Fica cada vez mais claro para todos o papel extraordinário
que vocês cumprem, ao ser guardiões de algo
que infelizmente a maioria dos homens não souberam
preservar”, disse o embaixador.
O secretário executivo
da UNFCCC (convenção da ONU que organiza a
COP), Simon Stiell, destacou que os povos indígenas
lembram ao mundo que a saúde da Terra e dos territórios
é inseparável da saúde das pessoas
e do futuro comum.
“Nossa tarefa é
passar da citação à aplicação,
garantindo que as cosmovisões e as lideranças
indígenas ajudem a moldar a forma como a ação
climática é concebida, implementada e mensurada”,
disse o secretário.
Reprodução/Bruno
Peres/ABR
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Ele reforçou compromissos:
ampliar a participação indígena em
todos os processos da COP; defender o consentimento livre,
prévio e informado; aplicar princípios de
cuidado e incorporar conhecimentos e direitos indígenas
aos indicadores, orçamentos e ações
da implementação climática.
O representante da Ásia,
o filipino Joan Gillao, fez um alerta contundente sobre
vulnerabilidade, destruição e injustiça
climática.
“Enquanto participamos
deste processo hoje, os povos indígenas em alguns
países da Ásia estão sofrendo com eventos
climáticos extremos”, disse Gillao.
Ele reforçou reivindicações centrais:
o reconhecimento dos direitos territoriais, o consentimento
livre, prévio e informado e a autodeterminação
no documento final da COP30.
“A falta de reconhecimento legal está resultando
em maior destruição de nossos recursos e terras,
além de minar nossa capacidade de continuar desempenhando
nosso papel como guardiões”, disse Gillao.
Da América Latina
e Caribe, Fani Cuídu Castro destacou que a contribuição
indígena não é simbólica —
é estrutural para a vida na Terra.
“Nossa cosmovisão,
interconexão, reciprocidade e unidade na diversidade
não são folclore. Trata-se de uma estrutura
política e ética capaz de sustentar a ação
climática, justamente onde outras estruturas falharam”,
disse Castro.
Ela defendeu que onde os
territórios indígenas são titulados,
o desmatamento cai três vezes mais do que a média
e cobrou ações verificáveis.
“Os povos indígenas
devem ter acesso direto ao financiamento por meio de canais
específicos no GSEC, no Fundo de Adaptação
e no Fundo de Perdas e Danos. Hoje, menos de 1% chega diretamente”,
disse a representante indígena.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Bruno Peres/Agência
Brasil