Cientistas
alertam que meta do Acordo de Paris "não é
mais plausível"
Emissões
para aquecimento global de 1,5ºC serão superadas
até 2030
15/11/2025 – RAFAEL
CARDOSO - ENVIADO ESPECIAL – Belém - As emissões
globais de dióxido de carbono (CO2) provenientes
de combustíveis fósseis devem aumentar 1,1%
em 2025 e atingir um novo recorde. A alta contribui para
um cenário em que "já não é
mais plausível" o cumprimento da meta mais importante
do Acordo de Paris, que é evitar que o aquecimento
global supere 1,5 graus Celsius (Cº) acima do período
pré-industrial, no Século 19.
Os dados são de um
relatório produzido pela organização
internacional de pesquisa Global Carbon Project com uma
equipe internacional com mais de 130 cientistas.
Em números absolutos, a projeção é
de que as emissões em 2025 cheguem a 38,1 bilhões
de toneladas de CO2. O resultado deve elevar a concentração
de CO2 atmosférico para 425,7 partes por milhão
(ppm) em 2025 – 52% acima dos níveis pré-industriais.
O relatório mostra
que restam apenas 170 bilhões de toneladas de CO2
para que o aquecimento global ultrapasse o limite estabelecido
pelo Acordo de Paris. Segundo pesquisadores, o aumento da
temperatura acima do 1,5ºC causará mudanças
climáticas mais severas e pode levar a "um ponto
de não retorno", criando consequências
permanentes no clima.
Essa margem, chamada de
"orçamento de carbono", está praticamente
esgotada, e o resultado de 2025 praticamente inviabiliza
a meta, alertam os cientistas envolvidos no trabalho.
O documento do Global Carbon
Project descreve um cenário crítico e diz
que um aquecimento de 1.7º C passa a ser um objetivo
mais plausível a ser perseguido.
“Com as emissões
de CO2 ainda aumentando, manter o aquecimento global abaixo
de 1,5°C já não é mais plausível”,
disse o professor Pierre Friedlingstein, do Global Systems
Institute da Universidade de Exeter, que liderou o estudo.
Reprodução/Tãnia
Rêgo/ABR
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“O orçamento
de carbono restante para 1,5°C será esgotado
antes de 2030, no ritmo atual de emissões. Estimamos
que as mudanças climáticas reduzam os sumidouros
combinados de terra e oceano – um sinal claro do planeta
de que precisamos reduzir drasticamente as emissões”,
complementou.
O estudo também indica
que 8% do aumento na concentração atmosférica
de CO2 desde 1960 ocorre por causa do enfraquecimento de
sumidouros de carbono terrestres e oceânicos. Esses
ecossistemas são capazes de capturar o gás
carbônico da atmosfera, atenuando o problema.
O aumento nas emissões de CO2 fósseis é
impulsionado por todos os tipos de combustíveis:
carvão (+0,8%), petróleo (+1%), gás
natural (+1,3%).
As emissões por desmatamento
permanecem altas, em torno de 4 bilhões de toneladas
de CO2 por ano, enquanto remoções permanentes
por reflorestamento e regeneração florestal
compensam cerca de metade dessas emissões.
A projeção
para as emissões da aviação internacional
é de aumento em 6,8% (superando os níveis
pré-Covid). As emissões do transporte marítimo
internacional devem permanecer estáveis.
Dados dos países
Nos EUA (+1,9%) e na União Europeia (+0.4%), as emissões
devem crescer em 2025. A projeção inverte
um movimento de queda dos últimos anos.
A China deve aumentar as emissões de gases do efeito
estufa em 0,4% no ano de 2025. O ritmo é considerado
menor do que nos últimos anos, por causa do crescimento
moderado do consumo energético e do avanço
das energias renováveis.
A Índia deve aumentar
as emissões em 1,4%, o que também é
considerado abaixo das tendências recentes. Uma monção
(ventos sazonais) precoce reduziu a necessidade de refrigeração
nos meses mais quentes. Também houve avanço
das renováveis e crescimento baixo no consumo de
carvão.
As emissões projetadas
para o Japão são de queda de 2,2% nas emissões.
As emissões no restante do mundo devem crescer 1,1%.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Tânia Rêgo/Agência
Brasil