Marcha
pelo Clima reúne 70 mil e leva força amazônica
às ruas de Belém
Ativistas
reivindicam acordos e soluções efetivas de
governos na COP30
16/11/2025 – RAFAEL
CARDOSO - ENVIADO ESPECIAL – Belém - Máscaras
de Chico Mendes e do cacique Raoni. Alegoria de boitatá.
Carros de som alternando entre discursos políticos,
ritmos de carimbó e brega. A Marcha Mundial pelo
Clima ocupou neste sábado (15) as ruas de Belém
com uma amostra expressiva da diversidade cultural e social
do povo amazônico.
Segundo os organizadores, pelo menos 70 mil pessoas estiveram
presentes na manifestação, que saiu do Mercado
de São Brás, no centro histórico, até
a Aldeia Cabana. Um trajeto de aproximadamente 4,5 km feito
sob um sol forte de 35°C. Nada mais representativo para
um ato que teme a falta de decisões efetivas de combate
à emergência climática na 30° Conferência
das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (COP30).
A marcha foi organizada
por integrantes da Cúpula dos Povos e da COP das
Baixadas, e teve a participação de representantes
de organizações de todos os continentes, de
povos tradicionais e das comunidades paraenses.
“Estamos aqui com
todos os povos do mundo e movimentos sociais para um grito
de alerta sobre as ameaças e os ataques aos territórios,
e contra defensores e defensoras dos direitos humanos e
do meio ambiente. Precisamos que órgãos oficiais
e a ONU reconheçam que, para ter transição
justa, é preciso proteger quem protege a floresta”,
disse Darcy Frigo, do Comitê Brasileiro de Defensoras
e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) e da comissão
política da Cúpula dos Povos.
“Queremos expressar
todas as demandas que têm surgido durante a Cúpula
dos Povos. Queremos denunciar as falsas soluções
para as mudanças climáticas, como fundos de
financiamento para florestas. Pedimos para não explorarem
petróleo na Amazônia e para não proliferar
os combustíveis fósseis em todo o mundo”,
disse Eduardo Giesen, coordenador na América Latina
da Global Campaign to Demand Climate Justice.
As ministras do Meio Ambiente
e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas,
Sonia Guajajara, subiram no carro principal da marcha para
manifestar apoio ao ato pelo clima. Marina destacou o caráter
mais popular da COP que é realizada no Brasil.
“Depois de outras
COPs, em que as manifestações sociais ocorriam
apenas dentro de espaços oficiais da ONU, no Brasil,
no Sul Global, em uma democracia consolidada, podemos ocupar
as ruas. A COP30 permite o encontro das periferias, das
águas, das cidades, dos campos, das florestas. Lugares
que enfrentam as mudanças do clima. Em que pesem
nossos desafios e contradições, temos que
fazer um mapa do caminho para transição justa
e encerrar a dependência dos combustíveis fósseis”,
disse Marina.
Força cultural
Um dos exemplos das tradições locais de cultura
e organização social presentes no ato em Belém
foi o Arraial do Pavulagem, grupo que divulga a música
popular paraense e amazônica, misturando elementos
regionais. O coordenador do Pavulagem, Júnior Soares,
entende que é impossível falar de tradições
culturais urbanas, sem abordar os extremos climáticos.
“Nós temos
38 anos de construção desse grupo e das apresentações
de rua na região de Belém. E as condições
ambientais do lugar onde a gente vive sempre foram importantes
para nós. Estamos na marcha com uma representação
dos nossos brincantes, nos somando a essa luta para pedir
um olhar especial do mundo pela Amazônia e para os
povos que vivem aqui”, disse Soares.
Reprodução/Tãnia
Rêgo/ABR
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Marciele Albuquerque, indígena
Munduruku, ativista e cunhã-poranga do Boi Caprichoso,
foi às ruas para defender a demarcação
de terras dos povos tradicionais como política climática.
“A marcha é central para as nossas demandas,
porque tem povos, vozes e línguas do mundo inteiro.
Uma diversidade cultural muito grande para mostrar a nossa
força tanto nas ruas como para o mundo. Nós
estamos no centro de todas as discussões na COP30
aqui em Belém, defendendo as pessoas que vivenciam
a Amazônia e que pagam pelas consequências climáticas
das quais não são responsáveis”,
disse Marciele.
Na marcha deste sábado,
chamou a atenção uma cobra de 30 metros, com
a frase: “Financiamento direto para quem cuida da
floresta”. A escultura é resultado de um trabalho
coletivo de 16 artistas de Santarém, criada em 15
dias de produção, e apoiada pelo movimento
Amazônia de Pé. Construída em parceria
com a Aliança dos Povos pelo Clima, a obra apoia
a campanha “A gente cobra”, que exige o financiamento
direto para as populações que vivem na floresta
amazônica.
Movimentos sociais
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) trouxe a demanda
social por moradia, relacionada aos problemas climáticos.
Segundo Rud Rafael, coordenador nacional do MTST, a questão
ambiental tem ganhado cada vez mais centralidade nas pautas
do movimento.
“Não tem como
pensar mais a questão da moradia, sem pensar a questão
ambiental. A gente teve no Rio Grande do Sul, por exemplo,
um evento climático extremo que impactou mais de
600 mil pessoas. Não tem como pensar mais a questão
da moradia só pelo déficit habitacional, quando
cada evento climático extremo gera milhares e, às
vezes, milhões de impactados. A ideia é colocar
a periferia no centro das soluções”,
disse Rud.
O ato contou com manifestantes
de diferentes organizações internacionais.
Kwami Kpondzo, de Togo, na África, veio como representante
da Global Forest Coalition, e defendeu a união de
todos os movimentos populares como forma de lidar com os
problemas ambientais globais.
“Estamos aqui para dar apoio às pessoas impactadas
pelas mudanças climáticas, pela degradação
florestal, pela mineração, pelo desmatamento.
Queremos nos posicionar na marcha contra o capitalismo e
o colonialismo. Estamos muito felizes porque as pessoas
juntas têm poder e são capazes de mudar esse
sistema que destrói o nosso planeta”, disse
Kpondzo.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Tânia Rêgo/Agência
Brasil