Entenda
os pontos em negociação na retal final da
COP30
Conferência
tem presença de ministros para articulação
política
17/11/2025 – PEDRO
RAFAEL VILELA - ENVIADO ESPECIAL – Belém -
A 30ª Conferência das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém,
entra na semana decisiva com participação
direta de ministros dos países para tentar fechar,
por consenso, como exige o processo negocial, os acordos
que vão guiar as ações climáticas
no próximo período.
Na noite de domingo (16),
foi publicado o resumo das consultas da presidência
da COP em relação a quatro itens de agenda,
dentre eles, o apelo por ampliação das metas
climáticas, as Contribuições Nacionalmente
Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), e o financiamento
público de países desenvolvidos a países
em desenvolvimento. São itens que ainda não
obtiveram aclamação para entrar na agenda
de ação.
Outro tema crucial, que
está na agenda, ainda não obteve consenso
em torno de uma proposta. Trata-se da Meta Global de Adaptação
(GGA, na sigla em inglês), um dos principais resultados
esperados desta COP, mas que segue incerto.
Na avaliação
de especialistas ouvidos pela Agência Brasil, o documento
reflete com fidelidade o panorama das negociações
técnicas. Uma parte do texto é dedicada a
exaltar a importância do multilateralismo e faz referência
ao Acordo de Paris e à necessidade de se criar um
novo ciclo de transição que passe da transição
à implementação.
"O documento traz opções
de encaminhamento, que estariam no que estamos chamando
de 'mutirão decision', uma decisão que emerge
desse trabalho coletivo", observa Liuca Yonaha, vice-presidente
do Instituto Talanoa.
No entanto, a ausência
de referências mais concretas a caminhos que levem
a mais ação dos países acende um sinal
de preocupação.
"Um ponto negativo do documento e que também
não está se refletindo na sala de negociações,
é que não traz nada sobre os mapas do caminho
tanto para zerar desmatamento quanto para fazer a transição
para longe dos combustíveis fósseis. O presidente
Lula trouxe isso na abertura da COP, de ter o mapa do caminho
para a transição, a ministra Marina Silva
falou isso em eventos", destaca Fernanda Bortolotto,
especialista Política Climática da The Nature
Conservancy Brasil.
"Já tem apoio
de mais de 60 para países para isso, só que
isso está sendo falado em eventos e a gente precisa
que isso seja falado nas salas de negociação
para sair em texto de decisão, senão a gente
termina uma COP sem isso. Não adianta nada ter todo
um clamor dos eventos se não tiver ali no texto",
completa Fernanda.
A expectativa é que
o segmento político de alto nível da COP30,
que começou nesta segunda-feira (17), dê a
tração necessária para o avanço
das negociações. Tradicionalmente, a primeira
semana de conferência é dedicada à formulação
de textos, chamados de rascunhos, nos órgãos
subsidiários, que são o corpo técnico.
Nesta segunda semana, entram em cena os chefes de delegações,
normalmente ministros de primeiro escalão dos países
que fazem parte da convenção do clima, que
possuem maior margem política de negociação
dos textos.
"Para esta segunda
semana de negociações, precisamos de mais
pressão para que sejam acordados encaminhamentos
claros que iniciem os processos para os 'mapas do caminho'
para o fim do desmatamento e dos combustíveis fósseis",
aponta Anna Cárcamo, especialista em política
climática do Greenpeace Brasil.
Reprodução/Tãnia
Rêgo/ABR
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Na plenária de alto
nível ocorrida na manhã desta segunda, em
Belém, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo
Alckmin, reforçou o objetivo do governo brasileiro
com a implementação de mapas de ação
com avanços significativos na transição
energética e a erradicação do desmatamento
ilegal. Para ele, esses são os principais legados
a serem deixados pela COP30.
Adaptação
climática
Já o tema da adaptação segue sob suspense.
O rascunho foi finalizado ainda na semana passada por técnicos,
um texto-base para a adoção de 100 indicadores,
mas ainda há resistência do Grupo Africano,
que representa 54 países do continente, com apoio
dos países árabes, que têm defendido
estender o trabalho técnico por mais dois anos e
postergar a decisão final para 2027.
"Com muito custo, conseguiu-se
finalizar um rascunho que vai ser discutido em nível
ministerial esta semana para ver se a gente consegue ter
até o fim dessa COP os indicadores do GGA adotados",
explica Fernanda Bortolotto.
No debate atual da COP,
as partes tentam chegar a um consenso sobre os indicadores
globais de adaptação, ponto de partida para
monitorar se os países estão avançando
nas ações de adaptação e resiliência.
Nesse campo, a conferência também discute os
Planos Nacionais de Adaptação (NAPs, na sigla
em inglês) e o Fundo de Adaptação (AF).
Em ambos os procedimentos, também houve conclusão
processual com um texto de rascunho a ser analisado nesta
semana.
Sobre o tema da transição
justa, cuja demanda é a criação de
um programa de trabalho no âmbito da COP para analisar
o assunto, o rascunho também segue para análise
e anda não há consenso.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Tânia Rêgo/Agência
Brasil