Brasil
tem apoio de mais de 80 países para fim de combustíveis
fósseis
Coalizão
amplia pressão na COP30, enquanto sociedade quer
protagonismo
18/11/2025 – RAFAEL
CARDOSO - ENVIADO ESPECIAL – Belém - Representantes
ministeriais de mais de 80 países declararam apoio
oficial a um mapa do caminho para longe dos combustíveis
fósseis proposto pelo Brasil, segundo o Ministério
do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O anúncio
ocorreu nesta terça-feira (18) durante o evento Mutirão
Call for a Fossil Fuel Roadmap, que reuniu uma coalizão
de países do Norte e do Sul Global.
Mapa do caminho ou roadmap
(em inglês) é o conceito usado para falar de
planos de ação que estabelecem etapas e metas
para um determinado objetivo.
A proposta ganhou força no início da Cúpula
de Líderes da 30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30),
quando o presidente Lula convocou os países para
construir um calendário global de abandono do petróleo,
gás natural e carvão mineral.
Os nomes de todos os países
ainda não foram divulgados, mas, no anúncio
do apoio, falaram representantes da Alemanha, Dinamarca,
Reino Unido, Quênia, Serra Leoa e Ilhas Marshall.
O secretário de Estado do Reino Unido, Ed Miliband,
reforçou que se trata de uma mobilização
inédita.
“Essa é uma
grande coalizão do Sul Global e do Norte Global,
todos dizendo em uma só voz que esse é um
problema que não pode ser ignorado, não pode
ser jogado para baixo do tapete. Nós temos uma oportunidade
ao longo dos próximos dias para fazer da COP30 o
momento de seguir em frente na transição para
longe dos combustíveis fósseis”, disse
Miliband.
Reprodução/Bruno
Peres/ABR
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Para países altamente
vulneráveis, como Serra Leoa, o debate é uma
questão de sobrevivência, alertou o ministro
Jiwoh Abdulai.
“Para países como Serra leoa, que é
um dos mais vulneráveis no mundo, o aumento de 1,5ºC
na temperatura global é uma questão de sobrevivência.
Não é só uma questão climática.
É sobre nossa existência. Também é
um problema econômico. Nós estamos chegando
ao ponto de que o custo da adaptação está
crescendo muito mais rápido do que podemos alcançar”,
disse Abdulai.
A ministra do Meio Ambiente
e Mudança do Clima, Marina Silva, celebrou o apoio
e disse que é preciso colocar em prática efetivamente
as promessas.
"Esses países mostram disposição
de fortalecimento do multilateralismo climático,
disposição de fazer o que se espera há
mais de 30 anos, que é dar o devido encaminhamento
para a principal causa do aquecimento do planeta. que é
a emissão de CO2. Sobretudo, a queima de petróleo,
gás e carvão. Mas isso não se resolve
como mágica. É preciso financiamento, diversificação
econômica, que se multipliquem as bases tecnológicas,
para a gente fazer esse percurso. Estamos há 30 anos
atrasados, mas temos pressa", disse Marina.
Marcelle Oliveira, jovem
campeã do clima da COP30, destacou o protagonismo
das novas gerações.
“Essa é uma prioridade absoluta como vocês
podem ver ao redor com os exemplos a partir da intervenção
nas Blue e Green Zone. E também na marcha liderada
pela Cúpula dos Povos, que levou milhares de pessoas
para as ruas em Belém. Para proteger nosso futuro
e proteger o presente, nós precisamos do espírito
de ação. Precisamos de um mundo novo, de uma
economia nova, uma nova cultura”, disse Marcelle.
Marcio Astrini, do Observatório
do Clima, avaliou que a proposta brasileira consolidou amplo
apoio internacional.
“O que vimos hoje é que boa parte de quem estava
na plateia ouvindo esse discurso subiu no palco junto com
o presidente, apoia a mesma ideia e faz coro ao mesmo pedido.
São mais de 80 países que querem ver como
resolução desse encontro justamente esse mapa
do caminho para longe dos fósseis”, disse Astrini.
Mas, enquanto autoridades
celebravam o avanço diplomático, organizações
territoriais e movimentos sociais denunciaram que a construção
do roteiro global ignora justamente quem vive as consequências
diretas da infraestrutura fóssil. Em nota, o Instituto
Internacional Arayara disse que há uma contradição
central entre o discurso do mapa do caminho e a realidade
das comunidades afetadas, como indígenas, quilombolas
e povos tradicionais.
“Um mutirão que é feito apenas por líderes
de Estado, sem a presença das lideranças comunitárias,
não é capaz de refletir a sabedoria de quem
está no território, não consegue sanar
suas dores e promover justiça climática. Fica,
portanto, incompleto”, diz nota do instituto.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Bruno Peres/Agência
Brasil