Cientistas
criticam ausência de combustíveis fósseis
em texto da COP30
Grupo
diz que omissão “trai a ciência”
e ameaça meta de 1,5°C
22/11/2025 – RAFAEL
CARDOSO - ENVIADO ESPECIAL – Belém - Cientistas
de instituições brasileiras e internacionais
reagiram com preocupação ao texto mais recente
das negociações da 30ª Conferência
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(COP30), divulgado no início desta sexta-feira (21)
em Belém. Eles afirmam que a ausência explícita
da expressão “combustíveis fósseis”
representa um retrocesso grave diante da emergência
climática.
“Apesar de um grande
número de países se unirem em torno de roteiros
para acabar com a dependência de combustíveis
fósseis e com o desmatamento – e do impulso
dado pelo presidente do Brasil – as palavras ‘combustíveis
fósseis’ estão completamente ausentes
do texto mais recente”, afirmam os pesquisadores em
nota conjunta.
Para o grupo, essa ausência
representa uma ruptura com a ciência e com os compromissos
assumidos globalmente.
“Isso é uma traição à
ciência e às pessoas, especialmente os mais
vulneráveis, além de totalmente incoerente
com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a
1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento
de carbono”, diz o documento.
Os pesquisadores afirmam
que não é possível garantir um futuro
seguro sem mudanças estruturais.
“É impossível limitar o aquecimento
a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar
gradualmente os combustíveis fósseis e acabar
com o desmatamento.”
A declaração é assinada por Carlos
Nobre (Science Panel of the Amazon), Fatima Denton (United
Nations University), Johan Rockström (Potsdam Institute
for Climate Impact Research), Marina Hirota (Instituto Serrapilheira),
Paulo Artaxo (USP), Piers Forster (Universidade de Leeds)
e Thelma Krug (presidente do Conselho Científico
da COP30).
Reprodução/Tãnia
Rêgo/ABR
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A pesquisadora Marina Hirota
reforça a gravidade do cenário e o risco de
uma conferência que não avance no tema.
“A inclusão da eliminação gradual
dos combustíveis fósseis é fundamental
para a manutenção de vida no planeta da forma
como conhecemos hoje. Disso depende a possibilidade de mantermos
a estabilidade climática e as condições
que temos”, afirma Marina Hirota.
“Caso isso não seja considerado nos textos
que saiam dessa conferência entre as partes e, caso
as promessas continuem sendo promessas sem implementação,
gradualmente, ou até de forma menos previsível
e mais intensa, vamos começar cada vez mais a sentir
os impactos socioeconômicos e as perdas e danos recorrentes
principalmente dos eventos extremos”, complementou.
Sobre a COP 30
A COP 30 (30ª Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas) realizada
em 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará,
marca a primeira vez que o evento acontece na Amazônia.
Essa conferência reúne líderes mundiais,
cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil
para discutir e negociar ações globais voltadas
ao combate das mudanças climáticas. O encontro
é especialmente simbólico por ocorrer em uma
região que desempenha papel crucial na regulação
do clima do planeta, já que a Floresta Amazônica
é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo.
A realização da COP 30 no Brasil representa
uma oportunidade para o país mostrar seu compromisso
com a preservação ambiental, a transição
energética e o desenvolvimento sustentável,
além de dar voz aos povos da floresta e às
comunidades locais que vivem os impactos diretos da crise
climática.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Tânia Rêgo/Agência
Brasil