MINISTRO DA JUSTIÇA
VISITA RESERVA NO RIO NEGRO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) Brasil
Fevereiro de 2001
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A Federação
das Organizações Indígenas do Rio
Negro (FOIRN) recebeu no dia 09 de fevereiro, em sua sede
em São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas,
a visita do Ministro da Justiça, José Gregori,
e do Presidente da FUNAI, Glênio Alvarez, atendendo
ao convite feito pela própria associação.
Na ocasião foi entregue ao Ministro uma pauta de
reivindicações, que incluem o apressamento
da votação do Estatuto do Índio,
ressaltando o desejo de aprovação da proposta
substitutiva do deputado Luciano Pizzatto ao PL, a necessidade
da FUNAI reforçar seus esforços e infra-estrutura
de fiscalização para garantir os direitos
indígenas às suas terras, a demarcação
das terras indígenas Balaio e Marabitanas-Cué-Cué,
o estabelecimento de uma instância oficial para
garantir o melhor convívio entre índios
e militares na região, e o apoio à implementação
do projeto \"Balcão da Cidadania no Rio Negro\".
A (FOIRN) foi criada em 1987, no contexto de discussão
dos limites das terras indígenas na região,
da ação das mineradoras e da instalação
do Projeto Calha Norte, além dos debates dos direitos
indígenas na Constituinte. Hoje conta com 44 associações
afiliadas. Sua diretoria é composta por representantes
de diferentes etnias da região (ao todo 22) que
se espalham em 1000 comunidades ao longo da bacia do Rio
Negro. A federação gerencia uma gama variada
de projetos nas áreas de educação,
saúde, cultura e alternativas econômicas,
visando promover o desenvolvimento regional indígena
sustentável.
Além das suas reivindicações específicas,
a FOIRN abriu espaço no encontro com o Ministro
para um representante do CIR (Conselho Indígena
de Roraima), tuxáua Orlando, e da COIAB, Euclides
Makuxi. Eles viajaram de Boa Vista a S. Gabriel da Cachoeira
especialmente para encontrar com o Ministro Gregori e
lhe entregar um documento pedindo a homologação
da demarcação da TI Raposa Serra do Sol
e a não construção de um pelotão
de fronteira do Exército junto à comunidade
de Uiramutã.
Depois de ouvir as reivindicações de várias
lideranças indígenas do Rio Negro que fizeram
uso da palavra para tratar dos temas em pauta, o Ministro
Gregori, acompanhado do presidente da FUNAI, Glênio
Alvarez, afirmou que vai empenhar esforços do Ministério
da Justiça para obter a aprovação
e promulgação do novo Estatuto do Índio
até 19 de abril, Dia do Índio. O Ministro
disse que vai convocar o deputado Luciano Pizzatto (PFL/PR)
na próxima semana para revisar a última
versão do projeto de lei e afirmou que a luta será
difícil, porque há divergências entre
os índios de outras regiões do Brasil sobre
a nova proposta de Estatuto. O Ministro disse também
que vai apoiar o projeto Balcão da Cidadania no
Rio Negro, em parceria com a FOIRN. Afirmou que o secretário
nacional de Direitos Humanos do Ministério, embaixador
Gilberto Sabóia, já iniciou conversações
com o chefe do Exércio em Brasília, General
Gleuber, para abrir um espaço de diálogo
sobre as relações índios e militares
na faixa de fronteira.
O representante do ISA, que compôs a mesa do evento
juntamente com o presidente da FOIRN, da FUNAI e o Ministro,
ressaltou que a implementação da pauta de
reivindicações entregue ao Ministro é
imprescindível para a consolidação
dos direitos coletivos dos índios numa região
de fronteira geopolítica da Amazônia brasileira.
A íntegra da carta entregue ao Ministro da Justiça
com as reivindicações dos índios
representados pela FOIRN, está transcrita a seguir:
S. Gabriel da Cachoeira, 09 de fevereiro
de 2001
Exmo. Sr. Ministro da Justiça Dr. José Gregori
Em mãos
Prezado Senhor Ministro:
Gostaríamos de agradecer
sua visita à sede da FOIRN nesta data, atendendo
nosso convite e registrar nossas principais reivindicações
de acordo com a pauta que enviamos previamente:
1. Que o Governo Federal, em especial o Ministério
da Justiça e o órgão indigenista
subordinado, façam todos os esforços necessários
para que seja votado brevemente no Congresso Nacional
um novo Estatuto do Índio. Entendemos que a proposta
substitutiva do deputado Luciano Pizzatto ao PL 2.057/91
(versão de dezembro de 2000), amplamente discutida
em todo o país, inclusive com a nossa participação,
está em bases aceitáveis e sua aprovação
pelo Congresso Nacional significaria um grande avanço
que permitiria atualizar as relações do
Estado com os povos indígenas, no espírito
da Constituição Federal de 1988.
2. Que a FUNAI disponha de recursos no presente ano para
implantar o Plano de Proteção e Fiscalização
das Terras Indígenas demarcadas no alto e médio
Rio Negro entre 1997/98, com a instalação
efetiva dos onze postos de fiscalização,
conforme proposta elaborada pela AER da FUNAI de S. Gabriel
da Cachoeira, em conformidade com a FOIRN e associações.
A efetivação destes postos, somada à
regulamentação do poder de polícia
da FUNAI, prevista no texto da proposta de novo Estatuto
do Índio, seria um passo importante para consolidar
a proteção aos nossos direitos coletivos.
3. Que a FUNAI e o Ministério da Justiça
acolham com urgência e dêem tramitação
administrativa adequada ao reconhecimento das terras indígenas
Balaio e Marabitanas-Cué-Cué, para completar
o reconhecimento dos nossos direitos coletivos na região
do alto Rio Negro.
4. Que o Ministério da Justiça acolha nossa
antiga reivindicação e faça esforços
no sentido de criar uma instância oficial de alto
nível, com a nossa participação,
para estabelecer regras de convivência e monitorar
as questões que têm surgido nas relações
entre nós indígenas e as instituições
militares que, por dever constitucional, atuam nas terras
que tradicionalmente ocupamos. Nós formulamos essa
demanda em 1996 e a entregamos ao presidente Fernando
Henrique Cardoso, quando ele nos recebeu em visita a S.
Gabriel e, posteriormente, a temos reiterado em diferentes
ocasiões a diversas autoridades federais e até
hoje nunca recebemos qualquer resposta, enquanto os problemas
se acumulam.
5. Finalmente, gostaríamos de informá-lo
que, ainda no próximo mês de março
estaremos entregando a versão final do projeto
\"Balcão da Cidadania no Rio Negro\"
para sua consideração, prevendo atividades
de documentação e informação
sobre direitos para 22 povos que vivem em mais de 1000
comunidades e sítios indígenas, somando
10% da população indígena do país,
além das populações dos núcleos
urbanos da região. Gostaríamos imensamente
de iniciar as atividades deste projeto em maio próximo,
já levando para as comunidades a boa nova do Estatuto
dos Povos Indígenas que esperamos, seja aprovado
em breve no Congresso Nacional, para o que os esforços
do Ministério da Justiça e da FUNAI serão
importantes e ficarão na memória dos povos
indígenas deste país para sempre.
6. Nós estamos solicitando a regularização
fundiária em âmbito nacional, sobretudo nas
áreas marcadas por conflitos. Nesse sentido, solicitamos
a homologação da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol nos termos do documento do Conselho Indígena
de Roraima (CIR), em anexo.
Agradecemos antecipadamente sua atenção
e providência, em nome da FOIRN e das 44 associações
indígenas filiadas.\"
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bento Ricardo)