GOVERNO DO ESTADO
PROMOVE RESGATE DA CIDADANIA AOS CATADORES DE
PRODUTOS RECICLÁVEIS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Dezembro de 2001
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"Hoje, nós
podemos dizer que tra-ba-lha-mos!" O depoimento,
aparentemente sem muito significado, traduz bem o que
parecia ser o sentimento dominante dos cerca de 250 catadores
e participantes de cooperativas e centrais de triagem
de materiais recicláveis presentes ao II Fórum
Reciclar 2000 Regional - Nosso Futuro Sustentável,
no dia 10 de dezembro, no município de Rio Claro,
interior de São Paulo.
O evento, promovido pelas Secretarias Estaduais do Meio
Ambiente e da Assistência e Desenvolvimento Social,
com apoio da Prefeitura de Rio Claro, teve como objetivo
principal avaliar resultados e estabelecer novas metas
para as áreas social e ambiental, buscando otimizar
os resultados aos quais o Projeto Reciclar 2000 se propõe,
que implicam em ações de inclusão
e promoção de cidadania dos catadores de
recicláveis.
"Trabalho digno, limpo
e fixo"
O orgulho estampado no
rosto e a emoção de Maria Cristina Mariana
da Silva, 38, catadora de Iracemápolis, ao dar
o depoimento acima, são indicativos de o projeto
estar no caminho certo. Antes, porém, ela faz questão
de recordar um pouco de como era o seu "trabalho"
anterior: "Tenho seis filhos, não tinha emprego
e só tinha o lixão como opção.
Permaneci no lixão durante 4 anos, junto com dois
filhos. Éramos impedidos e expulsos pela Guarda
durante o dia e, então, voltávamos à
noite; não tínhamos segurança nem
proteção nenhuma; a comida do lixo era o
nosso sustento e dividíamos o espaço com
os urubus".
Em seguida, ela conta, de uma forma singela, como aceitou
o convite para abrir um galpão de separação
e venda dos recicláveis, no âmbito do Projeto
Reciclar Resgatar Cidadania, há três meses,
em Iracemápolis, depois de uma compreensível
hesitação. "Pensei: a gente entra com
um pé; se não der certo, a gente tira; se
der certo, a gente coloca os dois", afirma. Maria
Cristina acabou por entrar com os dois pés e o
coração, a ver pelo carinho como fala do
episódio: "o prefeito de Iracemápolis
(João Renato Alves Pereira) providenciou o galpão,
caminhão com motorista e ajudou a reunir outros
catadores. Numa hora difícil, ele e um assessor
arregaçaram as mangas e nos ajudaram, indo até
as casas e pedindo que as pessoas cedessem o lixo reciclável".
Atualmente, a rotina da catadora inclui coleta nas residências
às segundas, terças e quartas-feiras; e
a venda e limpeza do galpão, além de palestras
proferidas por coordenadoras do projeto, às quintas
e sextas. Questionada, explica que não necessariamente
seu sustento é maior do que nos tempos do lixão,
mas que hoje tem "trabalho digno, limpo e fixo".
Reciclagem resulta em sustento
e prêmios para os catadores
Marisa Margato Gama, 31,
casada, dois filhos, da Cooperativa Recicoplast, de Santa
Bárbara D`Oeste, durante o I Congresso Nacional
de Catadores de Materiais Recicláveis, em junho
do ano passado em Brasília, foi eleita representante
nacional dos catadores, por São Paulo. Ela conta
que aguardava há muito um trabalho como o do Reciclar
2000, do qual ficou tendo conhecimento através
das associações de bairros e que, em função
de o seu marido ter rendimentos, ela acabou entrando para
o projeto como voluntária, há dois anos.
"Hoje somos em 20 cooperados e com carrinhos manuais
coletamos cerca de 12 toneladas por mês, nos bairros",
afirma. Ela diz que a procura começou a crescer
e que está difícil "dar conta de tudo".
Carolina Gigo e Maria José Lopes Mattano, respectivamente
técnica ambiental e assistente social, coordenadoras
do projeto e responsáveis pelas palestras de sensibilização
e mobilização visando retirar os catadores
dos lixões e levá-los para o trabalho organizado
das cooperativas, destacam a ampliação e
o reconhecimento crescentes que o Reciclar 2000 vem alcançando,
além de sublinhar sua importância como fator
de conscientização ambiental e de resgate
da dignidade, auto-estima e expectativa para o futuro,
por parte dos catadores.
"Carol" e "Zezé", como são
carinhosamente conhecidas e lembradas pelos catadores,
lembram que recentemente o projeto foi reconhecido com
o segundo lugar do Prêmio Cempre (Compromisso Empresarial
para a Reciclagem) de Coleta Seletiva e o primeiro lugar
do prêmio EcoPet, da Associação Brasileira
dos Fabricantes de Embalagens de PET.
Ganhos ambientais
Já o gerente da
Regional da Bacia do Piracicaba II da CETESB, Jorge Luiz
Rocco, que também exerce o papel de um dos principais
coordenadores do Reciclar 2000 Regional, juntamente com
Ada Camolesi Barbosa, responsável pela divisão
regional de Piracicaba da Secretaria Estadual de Assistência
e Desenvolvimento Social, ilustra o sucesso do projeto
com alguns dos dados de ganhos ambientais estimados, tendo
como referência o 1º semestre deste ano:
· Retirou-se 264,5
toneladas/mês de resíduos dos aterros (de
13 municípios);
· Poupou-se 13.672 metros cúbicos de volume
dos aterros;
· Reciclagem de 1.587 toneladas de materiais (metais,
vidro, plásticos, papel e papelão);
· Economia, para as prefeituras, de quase R$ 50
mil em coleta tradicional e praticamente a metade desse
valor no que se refere à disposição
final dos resíduos.
Rocco lembra ainda que
a reciclagem de 1000 toneladas de papel e papelão,
verificada no âmbito do programa, contribui para
evitar o corte de 15.340 árvores adultas; a reciclagem
de 273 toneladas de plástico, para evitar o consumo
de 273 mil litros de petróleo; e a de alumínio,
para reduzir a necessidade de bauxita em quase 100 toneladas.
Finalmente, Zuleica Maria de Lisboa Perez, coordenadora
da CEAM - Coordenadoria de Educação Ambiental
da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que representou
o secretário Ricardo Tripoli no II Fórum,
lembra que a questão ambiental relacionada ao lixo
passa também pela compromisso de toda a população
em principalmente reduzir a quantidade de lixo produzida,
o que tem, em função de seu grande volume,
se constituído em um dos principais problemas de
poluição ambiental no estado de São
Paulo.
O que é o Projeto
Reciclar 2000 Regional
A parceria entre órgãos
governamentais das Secretarias de Meio Ambiente e de Assistência
e Desenvolvimento Social, CETESB, e Centro de Reabilitação
Piracicaba, APAEs Rio Claro e Sumaré, e Associação
Brasileira de Reabilitação Infantil Limeirense
(ARIL) consolidam um modelo de gestão sócio-ambiental.
Sua base está na inserção de pessoas
com necessidades especiais e população de
baixa renda no mercado de trabalho na área de reciclagem
de resíduos sólidos, através da implementação
de centrais de triagem, na forma de cooperativas, abastecidas
por pontos de entrega voluntária, grandes geradores
e a coleta porta-a-porta, para posterior separação
dos resíduos e viabilização para
sua comercialização.
O projeto teve início em maio de 1999, com abrangência
em 30 municípios, divididos em quatro micro-regiões,
com sede nas cidades de Rio Claro, Piracicaba, Limeira
e Sumaré, tendo sido verificado um aumento significativo
em termos de tonelagem recicladas e os recursos arrecadados,
tais como: em 1999, 701 toneladas/ano, com arrecadação
de R$ 90 mil; no ano de 2000, 1.917 toneladas/ano, com
arrecadação de R$ 265 mil; e até
junho de 2001, 1.587 toneladas, com arrecadação
de R$ 210 mil.
Atualmente, o projeto conta com a participação
de 310 pessoas, sendo 230 diretamente envolvidas nas centrais
de triagem. Destas, 72,5% do sexo feminino, 60% alfabetizadas,
37,5% entre 40 e 50 anos de idade, 12% de indivíduos
especiais, e com retirada entre R$ 80 e R$ 180 mensalmente.
Resultados do II Fórum
O II Fórum em Rio
Claro teve como uma de suas principais atividades a realização
de grupos temáticos e, ao final, a apresentação
dos resultados das discussões e sugestões
levantadas nos grupos, aos quais se destacaram os seguintes
itens:
· Melhor divulgação à mídia
na região;
· Cartilha com padronização de informações;
· Criação de site do Projeto Reciclar
2000 Regional;
· Uma central única de vendas;
· Emissão de carteira de identificação
padronizada com foto;
· Realização de um evento tipo Semana
dos Catadores no Meio Ambiente;
· Construção de mais galpões
para recebimento dos recicláveis;
· Mais caminhões, carrinhos e uniformes
visando a coleta;
· Maior integração entre as cooperativas
e cooperados;
· Segurança Policial;
· Reconhecimento da profissão e contratação
dos catadores pelas prefeituras;
· Novos patrocínios;
· Ampliação dos cursos visando a
capacitação geral dos catadores.
Esse é mais um dos
trabalhos realizados pela Secretaria Estadual do Meio
Ambiente por intermédio da CETESB - Companhia de
Tecnologia de Saneanmento Ambiental e da CEAM - Coordenadoria
de Educação Ambiental.
Fonte: SMA – Secretaria Estadual de
Meio Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Reportagem: Mário Senaga