PAJÉS DISCUTEM
PROTEÇÃO AOS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) Brasil
Dezembro de 2001
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Pajés e representantes
de povos indígenas de todo o país reúnem-se
no Maranhão para reivindicar a proteção
dos recursos genéticos existentes em suas terras
e dos conhecimentos tradicionais a eles associados, elaborando
documento que deverá ser levado à reunião
da Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) na Suíça.
Ocorreu em São Luis, no Maranhão, de 4 a
6 de dezembro, um Encontro de Pajés para discussão
de mecanismos de proteção ao conhecimento
tradicional associado a recursos genéticos no país
e formas de repartição de benefícios
decorrentes de sua utilização. O evento,
promovido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI) reuniu cerca de 30 índios, entre pajés
e representantes de povos indígenas de todas as
regiões do país, além de representantes
dos Ministérios da Indústria e Comércio
Exterior, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e
Relações Exteriores, Funai (Fundação
Nacional do Índio) e governo do estado do Maranhão.
O encontro foi resultado de reivindicação
de Marcos Terena, Coordenador de Defesa dos Direitos Indígenas
da Funai, ao INPI, que, tendo promovido um grande evento
sobre propriedade intelectual recentemente em Manaus,
simplesmente não incluiu nenhuma discussão
sobre os conhecimentos tradicionais de índios e
populações locais. Além disso, como
o governo brasileiro terá de discutir o assunto
no âmbito da OMPI - que vai reunir o seu Comitê
Intergovernamental sobre Propriedade Intelectual, Conhecimentos
Tradicionais e Folclore a partir desta semana em Genebra
-, interessava ao INPI obter dos representantes indígenas
uma posição que pudesse subsidiar o governo
sobre o tema.
Acesso aos recursos genéticos
Vale recordar que as discussões
jurídicas sobre o acesso aos recursos genéticos
e a proteção aos conhecimentos tradicionais
associados no Brasil ganharam mais espaço a partir
de 1992, depois da assinatura da Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB), durante a ECO
92. A CDB reconhece a importância dos conhecimentos
tradicionais para a proteção da biodiversidade
do planeta e incentiva os Estados a respeitarem, preservarem
e manterem o conhecimento, inovações e práticas
dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
Para tanto, prevê que o uso desses conhecimentos
só pode ser feito com o consentimento prévio
e informado dos seus detentores, que deverão ser
contemplados com a repartição justa e eqüitativa
dos benefícios decorrentes da utilização
de conhecimentos, inovações e práticas
tradicionais.
De lá para cá, alguns projetos de lei foram
apresentados ao Congresso Nacional para regulamentar o
assunto, destacando-se especialmente a iniciativa da Senadora
Marina Silva (PT/AC), já aprovada no Senado. No
ano passado, o Poder Executivo, sob o argumento de que
a falta de regulamentação vinha impedindo
a realização de pesquisas científicas
na área da biotecnologia no país, acabou
por atropelar o processo de discussão legislativa,
editando uma MP – Medida Provisória que remete
a autorização para o acesso aos recursos
genéticos e ao conhecimento tradicional associado
ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético.
Deverá funcionar no âmbito do Ministério
do Meio Ambiente, mas ainda não foi instalado.
Entretanto, esse Conselho excluiu de seus mecanismos decisórios
qualquer participação da sociedade civil,
sendo integrado somente por órgãos governamentais.
O evento no Maranhão possibilitou aos pajés
e demais representantes indígenas uma oportunidade
de avaliar a situação da proteção
dos conhecimentos tradicionais no Brasil e no plano internacional,
motivando-os a elaborar um documento – a “Carta de São
Luis do Maranhão” – contendo 16 pontos de reivindicações,
em que se destaca a oposição a toda forma
de patenteamento dos conhecimentos tradicionais.
A questão da oposição às patentes
levou os índios a reivindicar a criação
de um sistema alternativo, ou sui generis, de proteção
dos conhecimentos tradicionais, que, entre outras coisas,
lhes assegurem pleno controle sobre os recursos genéticos
existentes em suas terras e os conhecimentos a eles associados,
consentimento prévio e informado sobre qualquer
uso, distribuição eqüitativa dos benefícios
decorrentes desse uso e a liberdade de intercâmbio
de recursos e conhecimentos tradicionais entre os povos
indígenas.
Por fim, o documento indígena demanda do governo
a aprovação do novo Estatuto dos Povos Indígenas
e outras leis, exigindo também o direito de ampla
participação nos espaços de decisões
nacionais e internacionais sobre o tema da biodiversidade
e conhecimentos tradicionais associados.
O advogado Paulo Pankararu representou o ISA fazendo uma
exposição sobre os meios jurídicos
de proteção aos conhecimentos tradicionais,
e também assessorou os demais participantes indígenas
na preparação Carta de São Luis do
Maranhão.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa