GOVERNADORES DE AC E AP DEBATERAM DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA DURANTE FÓRUM SOCIAL

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2002

Conservação e desenvolvimento da Amazônia brasileira é tema da segunda oficina do ISA no Fórum Social Mundial

Recebidos por um público extremamente emocionado, Jorge Viana, governador do Acre, e João Alberto Capiberibe, governador do Amapá, integraram a mesa da segunda e última oficina do Instituto Socioambiental no Fórum Social Mundial, direcionada ao debate das várias possibilidades e obstáculos ao uso sustentável do bioma.

"Os anos 90 abriram perspectivas de que a Amazônia iria, de alguma forma, mudar para melhor. E as pessoas que compõem essa mesa estão entre os responsáveis por uma nova Amazônia, uma Amazônia orientada de uma maneira diferente dos modelos depredadores e injustos das décadas anteriores", afirmou Neide Esterci, presidente do ISA, na abertura da oficina sobre "Estratégias de Conservação e Desenvolvimento para a Amazônia Brasileira."

Quase 200 pessoas lotaram uma das salas da PUC de Porto Alegre, na tarde de 04/02, para ouvir João Alberto Capiberibe, governador do Amapá, Jorge Viana, governador do Acre, João Paulo Capobianco, coordenador do ISA, Airton Luiz Faleiro, secretário de Políticas Agrícolas da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), e Adalberto Veríssimo, coordenador de pesquisas do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Capobianco deu início à oficina detalhando os resultados do projeto Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira, desenvolvido por mais de 200 pesquisadores por cerca de dois anos e coordenado por um consórcio de ONGs ambientalistas, entre as quais o ISA.

Ele destacou desse trabalho o que considera uma mudança de eixo quanto ao que deve ser feito para conservar o bioma: a compreensão de que o uso sustentável é a melhor forma de proteger o patrimônio daquela região. "Das 385 áreas identificadas como prioritárias para a conservação da Amazônia brasileira, quase 40% delas foram indicadas pelos participantes do projeto como sendo adequadas para o uso sustentável dos recursos naturais, contrariando uma tendência que havia até muito recentemente na academia brasileira de encarar o bioma como uma área exclusivamente de proteção. Enfim, uma visão da floresta dos animais, sem gente."

Embora considere que a Amazônia esteja vivendo um momento histórico, com a percepção por parte de cientistas e ambientalistas de que é preciso articular desenvolvimento com conservação e a existência de dois governos regionais, no Acre e no Amapá, implementando ações nessa direção, Capobianco alertou para as diversas ameaças que esse novo modelo vem enfrentando.

Contrários ao desenvolvimento sustentável

A defesa do cultivo de grãos na região, especialmente a soja, para equacionar os problemas de subdesenvolvimento local, é uma das propostas que se opõem ao desenvolvimento sustentável. "Porém, a economia florestal representa hoje 15% do Produto Interno Bruto (PIB) na Amazônia, enquanto a atividade agropecuária responde por apenas 9%", ressaltou o engenheiro agrônomo Adalberto Veríssimo, do Imazon.

De acordo com dados citados por Veríssimo, 83% da área da Amazônia tem aptidão florestal, sendo o restante apropriado para atividades agropecuárias, seja porque são locais já desmatados ou porque possuem solo adequado. "Não falamos isso só porque os ambientalistas querem assim, mas porque o desenvolvimento sustentável é a melhor opção econômica. Isso não significa manter esses locais intactos, mas usá-los corretamente, como já estão fazendo no Acre e no Amapá."

As propostas sugeridas pelo governo federal no programa Brasil em Ação também preocupam o engenheiro agrônomo: "Não que sejamos contra infra-estrutura na Amazônia. As estradas, por exemplo, são importantes para o desenvolvimento da região, mas não podem ser feitas sem um planejamento prévio. Ao criar estradas em locais onde não há um ordenamento territorial e a questão fundiária não foi definida temos um convite aberto para a reprodução de desmatamentos, conflitos, entre outros problemas."

Nesse sentido, Airton Luiz Faleiro, da Contag, colocou a Amazônia como uma fronteira aberta, que vive uma guerra pelo domínio do espaço. "Uso a palavra espaço e não terra porque muitas vezes os objetos principais são a madeira ou a água, por exemplo." E lançou uma pergunta para reflexão: "Quem irá se apropriar dos recursos naturais da Amazônia? É a população local que lá mora ou a elite que vai dominar tudo?"

Além da elite local, que despertou recentemente para a apropriação de grandes áreas, Faleiro elencou diversas frentes de invasão do bioma, como os madeireiros, os produtores de grãos, os "ecogrileiros", que utilizam discurso agroecológico, mas estão, na verdade, interessados em fazer biopirataria; e os excluídos de outros Estados, principalmente do Maranhão.

Outro ponto levantado por ele foi a hegemonia de financiamento ao modelo desenvolvimentista da Amazônia, também considerado pelo governador do Amapá. "A economia da floresta não recebe um centavo de ninguém para assistência técnica ou pesquisa. Temos de um lado um ataque sistemático do capital predatório e do outro uma resistência caracterizada, principalmente, pelas populações tradicionais da região. Lá no Amapá não tem um pé de soja plantado e levará muitos anos para a soja entrar por lá, podem ficar certos disso", disse Capiberibe.

Faleiro aproveitou para apresentar a idéia de criação do "Proambiente", um fundo público para a produção agrícola sustentável. "Os agricultores familiares topam o desafio, mas não podem pagar sozinhos por isso. Produzir de forma ecologicamente correta é mais custoso e demoramos mais a receber o retorno. É preciso que nos ajudem e queremos contar, inclusive, com a comunidade internacional."

Sabedoria dos povos tradicionais

"Vocês sabem o que é açaí?", perguntou Capiberibe ao público presente para demonstrar como o potencial econômico da biodiversidade da Amazônia já vem sendo utilizado sustentavelmente na região. "Até pouco tempo atrás, vocês me pediriam para explicar o significado dessa palavra, pois aqui no Sul ninguém sabia o que era. O açaí é apenas uma das muitas espécies que fazem parte da cultura alimentar do povo da Amazônia e que foram sistematicamente desprezadas.”

Capiberibe aproveitou o exemplo para falar sobre a existência de uma linha de 60 fitofármacos diferentes, disponíveis hoje até na rede pública. "Nós não inventamos nada, só inventariamos o conhecimento do povo da Amazônia, valorizando sua história e sua cultura. Imagine o que era morar naquela região muitos séculos atrás, viver ali antes da penicilina? As pessoas sobreviviam porque tinham um conhecimento profundo da função de medicamento dessas plantas. Um conhecimento que foi achatado, ignorado nesses anos todos".

Governo da floresta

Apontando Capiberibe como precursor do qual é aprendiz, Jorge Viana, governador do Acre, explicou que em seu Estado os responsáveis pela inserção do desenvolvimento sustentável nas políticas públicas foram os movimentos sociais. "Hoje estamos simplesmente implementando um sonho que os movimentos sociais acalentaram durante muitos anos, um sonho que foi também de Chico Mendes. Entretanto essa é uma tarefa de muita responsabilidade, pois imaginem encaminhar mal a concretude de um sonho".

Viana, que criou o termo "florestania", para definir a cidadania dos povos da floresta, acredita que o desenvolvimento sustentável abre e não fecha portas. "Nós agora temos madeira certificada em Xapuri, dentro de uma área, a primeira do Estado, que foi uma das pontas do conflito que levou à morte de Chico Mendes, local que queriam destruir para transformar em fazenda. Ali produzimos também móveis que são exportados para a Europa e vendidos em outras regiões do país". Além disso, uma série de produtos agroecológicos - que já estavam à venda em um estande no Fórum Social Mundial (FSM) - serão lançados em todo o Brasil nos próximos meses.

Para o governador do Acre, o lema do FSM, "um outro mundo é possível", é verdadeiro. E não poderia ser diferente. Ele, que em 1980, lutou por uma portaria para tentar evitar o fim da castanheira, adotou a árvore como símbolo de governo e a frase "governo da floresta" como slogan.

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)

 
 
 
 

 

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