BARTOLOMEU MORAES DA SILVA – ASSASSINADO MAIS UM DEFENSOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2002

O corpo de Bartolomeu Moraes da Silva ou "Brasília", como era chamado, foi encontrado no domingo, 21/07, em Altamira (PA). Considerado um dos principais líderes na luta contra a violenta pressão de madeireiros e fazendeiros sobre pequenos produtores rurais do sul do Pará, sua morte ocorre um ano depois do assassinato de Dema, outra importante liderança local.

Um telefonema anônimo informou a polícia sobre o local do crime, às margens da rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), próximo à fronteira com o Mato Grosso. O corpo de Bartolomeu apresentava sinais de tortura, estrangulamento e fraturas nas pernas e estava perfurado com doze tiros. O tenente da polícia militar, Márcio Abudi, informou que já foram presos dois suspeitos e que apesar de não terem confessado o crime, apontaram envolvimento de dois madeireiros, conhecidos como Polaco e Periquito. As lideranças locais são unânimes ao afirmar que o incidente é resultado da ocupação violenta daquela região.

Brasília tinha 47 anos, era natural de Serra Talhada (PE), e nos últimos anos dirigia a delegacia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira, no distrito de Castelo dos Sonhos, além de ser suplente do vereador José Adelson da Silva. Um dos coordenadores da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Pará (Fetagri-PA), Juraci Dias da Costa, explica que "Brasília", como outros líderes, sofria uma série de ameaças por denunciar o esquema de grilagem de terras na região e a pressão de madeireiros e fazendeiros sobre os pequenos produtores.

Panorama da região

O sul do Pará tem sido um pólo de atração de trabalhadores rurais, por meio de projetos de colonização e de reforma agrária. A definição das áreas de assentamento em Altamira cabe ao escritório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no município de Itaituba, que é acusado pela consultora da Fetagri-PA e assessora de projetos do Ministério do Meio Ambiente, Raimunda Monteiro, de seguir interesses de madereiros e grandes fazendeiros. "No primeiro ano o pequeno produtor é assentado numa área isolada, sem infra-estrutura ou assistência do governo, e permite a entrada de madeireiros para limpar o local. No segundo ano, faz uma roça de subsistência e no terceiro, como o solo ácido não produz mais nada, vende a terra para algum fazendeiro por não mais que 200 reais."

A região também é foco de grilagem e de conflitos com trabalhadores sem-terra, que acabam sendo atacados por ocuparem áreas apropriadas ilegalmente por fazendeiros. Ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém está instalada ainda a indústria madeireira, em busca de espécies altamente valiosas como o mogno. Só para lembrar, Castelo dos Sonhos é uma das portas de entrada para a área conhecida como Terra do Meio, região do Pará que ainda concentra quantidade expressiva de espécies madeireiras comerciais.

Reivindicações

Aterrorizados com o crime, representantes das entidades sociais de Altamira distribuíram hoje, 23/07, uma nota pública exigindo que a polícia federal atue no caso, já que faltam condições às polícias civil e militar. A nota pede ainda: o envio ao local do crime de uma perícia especializada para colher provas; que todo o processo seja acompanhado por entidades de defesa dos direitos humanos e dos trabalhadores rurais; e que nas áreas onde houver assassinato de trabalhadores, seja suspensa a destinação de terras públicas para fazendeiros. Ao final, as entidades recordam que em 30 anos houve 715 assassinatos dessa natureza no Pará. O último deles aconteceu no ano passado, em 23/08, quando o líder conhecido como Dema foi assassinado a tiros em sua residência. O caso, que tem sido acompanhado pelo Ministério Público Federal, ainda não foi solucionado.
Até o fechamento dessa notícia, não havia hora e local marcados para o enterro de Bartolomeu da Silva, que deverá acontecer ainda hoje. Para saber mais informações e apoiar a manifestação das entidades de Altamira, entre em contato com a Fundação Viver Produzir e Preservar, pelo email fvpp@bol.com.br.

Confira na íntegra a nota pública divulgada por entidades sociais de Altamira.

Nota Pública de entidades sociais de Altamira sobre o assassinato do líder sindical Bartolomeu Morais da Silva

Altamira, 22 de julho de 2002
Líder Sindical foi assassinado com 12 tiros, sofreu tortura e estrangulamento tendo suas pernas quebradas
O Sindicalista e líder político do PT senhor Bartolomeu Morais da Silva, conhecido por "Brasília" foi brutalmente assassinado no último domingo, dia 21 do corrente mês, o corpo foi encontrado às margens da rodovia Santarém-Cuiabá nas proximidades do distrito de Castelo dos Sonhos, local onde o sindicalista residia e atuava como delegado sindical representando o sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira e também primeiro suplente de vereador pelo PT no município.

Desde 1997 que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira vem pressionando o INCRA e o Governo do Estado no sentido de resolver os graves conflitos fundiários na Região de Castelo dos Sonhos, Distrito de Altamira, próximo à divisa com Estado de Mato Grosso, na Rodovia Cuiabá Santarém. O conflito está acontecendo entre pequenos posseiros e Fazendeiros que vem de outras regiões do país e demarcam enormes áreas de terra, denominando-se donos passando então a ameaçar os pequenos agricultores que ocupam essas áreas. O STR de Altamira fundou então uma Delegacia Sindical naquele Distrito, visando organizar aquelas famílias, considerando o abandono que a região enfrenta por parte do poder público, para isso foi eleito como delegado sindical o agricultor, Bartolomeu Morais da Silva, apelidado de BRASÍLIA, solteiro, 47 anos, nascido em Serra Talhada no Pernambuco, filho de João Romualdo da Silva e Antonia Moraes da Silva. O sindicalista, cumprindo seu papel, esteve em Brasília - DF e Belém, ocasião em que fez diversas denúncias das graves ameaças que estavam sofrendo os agricultores daquela região, objetivando um fim para esses conflitos solicitou providências para coibir a violência que vem sendo cometida por parte de fazendeiros e seus pistoleiros, com a conivência da polícia, de Castelo dos Sonhos e Novo Progresso. Alguns fatos demonstram a gravidade dos conflitos:

* No início de junho do corrente ano, um grupo de policiais militares procedentes de Novo Progresso, comandados pelo sargento Francisco Pereira Borges, prendeu, sem nenhuma explicação contundente, 19 (dezenove) trabalhadores rurais, alguns eram posseiros da gleba Gorotire Mesmo não tendo sido nada comprovado contra essas pessoas, as mesmas passaram trinta e cinco dias presos.

* No dia 26 de abril de 2002 a juíza, HELOÍSA HELENA DA SILVA GATO, da Comarca de Novo Progresso concedeu liminar de manutenção de posse em favor, de Nilton Albuquerque de Barros e mais oito empresários para gleba Gorotire denominada fazenda "Beeg Vale", uma área ocupada por várias famílias. Nessa ocasião o pretenso dono acompanhado de diversos pistoleiros fortemente armados, foram para a área fazer a desocupação à força mas foram surpreendidos pelos posseiros que prenderam suas armas e as entregaram a polícia, a qual não tomou qualquer atitude contra esse fato de escandaloso abuso de poder.

Essas denúncias, como diversas outras anteriores foram encaminhadas por Bartolomeu Moraes da Silva, ao Dr. Paulo Sette Câmara, Ministério Público Federal e a Ouvidoria Nacional do INCRA. Nessas denúncias o sindicalista declarou estar sendo ameaçado pelo trabalho que fazia e solicitou providências para solucionar os conflitos.

Nós, das entidades abaixo assinado, repudiamos mais este crime, cometido claramente com fins políticos, de fazer calar mais uma liderança sindical dos Agricultores Familiares e responsabilizamos publicamente as autoridades conforme nominamos abaixo, pelo seu descaso com os crimes cometidos contra os direitos humanos, relembramos aqui o assassinato de Ademir Federicci "Dema", também sindicalista dessa região, que completará 1 ano sem que a justiça tome qualquer providência para elucidar o crime e prender os mandantes. Exigimos que o Governo do Pará coloque um fim na impunidade vergonhosa que tem marcado esse Estado.

* Responsabilizamos o Governo do Estado do Pará, que mesmo ciente das ameaças e dos desmandos cometidos pela própria polícia militar daquele distrito e da polícia civil, não tomou qualquer providência;
* Ao Poder Judiciário, na pessoa de alguns juízes por concederem mandado e liminares de Manutenção de posse baseados em documentos sem qualquer valor legal a fazendeiros que demarcam ilegalmente grandes áreas, sem levar em conta as famílias que ocupam estas áreas há vários anos.
* Ao INCRA, que mesmo tendo total conhecimento destes conflitos, pouco tem feito no sentido de garantir a terra a quem quer trabalhar. Aliás, tem contribuído para acirrar os conflitos ao conceder declarações de ocupação de grandes áreas a fazendeiros para fins especulativos.
EXIGIMOS:
* QUE A POLÍCIA FEDERAL ATUE NO CASO POIS TEMOS A CRER QUE AS POLÍCIAS CIVIL E MILITAR NÃO DISPÕEM DE CONDIÇÕES PARA CONDUZIR O CASO.
* QUE SE ENVIE IMEDIATAMENTE AO LOCAL ONDE O CORPO ENCONTRA-SE UM GRUPO DA POLÍCIA CIENTÍFICA PARA COLHER PROVAS NECESSÁRIAS DANDO CONDIÇÕES PARA ELUCIDAÇÃO DO CRIME.
* QUE O PROCESSO SEJA ACOMPANHADO POR ENTIDADES DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS TRABALHADORES RURAIS.
* QUE NAS ÁREAS ONDE HOUVER ASSASSINATO DE TRABALHADORES RURAIS E SUAS LIDERANÇAS, SEJA SUSPENSO QUALQUER PROCESSO DE DESTINAÇÃO DE TERRAS PÚBLICAS PARA FAZENDEIROS.
Por fim recordamos que esse assassinato soma-se aos 715 dessa natureza já cometidos no estado do Pará nos últimos 30 anos.

Federação dos Trabalhadores na agricultura do Estado do Pará - FETAGRI
Fundação Viver Produzir e Preservar - FVPP
Comissão Pastoral da Terra - PT XINGU
Comissão Pastoral da Terra da Igreja Metodista
Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu - MDTX.
Conselho Indigenista Missionário - CIMI
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória do Xingu
Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira - Campo e Cidade
Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
Partido dos Trabalhadores - PT Diretório Municipal de Altamira

 
 
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Ricardo Barretto)
 
 
 
 
 
 

 

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