GOLDEMBERG DIZ QUE PROPOSTA BRASILEIRA SOBRE ENERGIA RENOVÁVEL VOLTARÁ A SER DISCUTIDA PELA ONU

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2002

O secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, professor José Goldemberg, foi uma das presenças de maior destaque na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, que se realizou no período de 26 de agosto a 4 de setembro, na cidade de Johannesburgo, na África do Sul.

É dele a proposta de aumento do uso de energias renováveis para 10% até 2010, tornando-se o principal protagonista de um embate que reuniu, de um lado, os países em desenvolvimento e a União Européia, com alguns diferenciais como a inclusão de hidrelétricas como fonte renovável, e de outro os Estados Unidos, Japão, sem dúvida os maiores poluidores do mundo, e os países do Oriente Médio, produtores de petróleo, que viram ameaçada a sua principal base econômica.

Apesar da proposta brasileira não ter sido aprovada, Goldemberg salienta que a resolução extraída ao final das reuniões reconhece a importância e a urgência de se adotar as energias renováveis em todo o planeta, considerando legítimo que os blocos regionais de países adotem metas e prazos para a implementação dessas medidas.
O secretário considera alvissareira a decisão de que o progresso na implementação de energias renováveis seja revisto periodicamente pelas Nações Unidas, o que permitirá reabrir as negociações no próximo ano, talvez já na Conferência de Cúpula sobre Estratégias Globais de Energias Renováveis anunciada pelo chanceler alemão Gerhard Schröder, onde o "senso de urgência" que a Rio+10 suscitou deverá marcar as discussões sobre as fontes renováveis na matriz energética mundial.

Por isso, Goldemberg entende que, apesar de no curto prazo os vencedores tenham sido os interesses comerciais dos Estados Unidos e dos países do Golfo Pérsico, produtores de petróleo, a médio prazo, é lícito afirmar que venceram os proponentes de metas e prazos para cumpri-los, entre eles o Brasil e União Européia.
Nesta entrevista, o professor Goldemberg faz um balanço do que foi a Rio+10, extraindo lições desse encontro que, apesar da frustração que causou nos movimentos ambientalistas, aponta os rumos das negociações sobre a questão.

Qual a sua avaliação sobre os resultados da Rio+10?
José Goldemberg - A Rio+10 não produziu os resultados desejados em relação a metas e prazos. Foi um fracasso neste aspecto. Mas não é a primeira vez que isso acontece numa mesa de negociações, quando se busca formular um tratado. Em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, fixamos o que chamamos de "meta light" na formulação da Convenção do Clima, estabelecendo que os países signatários deveriam fazer um esforço para, até o ano de 2000, reduzir as suas emissões aos níveis de 11000. Mas isso não ocorreu, foi preciso o Protocolo de Kyoto, cinco anos depois, para estabelecer metas e prazos.
Cada país, de acordo com o protocolo firmado, tem uma meta, assumindo a redução de suas emissões em 7% até o ano de 2008. Quando o protocolo for ratificado, isso vai virar lei nacional. Só estou fazendo uma comparação, estabelecendo uma referência para uma adequada avaliação da Rio+10. Com a Convenção do Clima foi isso que ocorreu, isto é, foi preciso que a conferência de Kyoto estabelecesse uma meta para que cada país cumpra no período 2008/ 2012. Os Estados Unidos, por exemplo, têm a meta de 7%. O Brasil, segundo o Protocolo de Kyoto, não precisa cumprir metas. Não há metas para países em desenvolvimento.
Quando fui para Johannesburgo, eu tinha claro que não deveríamos esperar outros dez anos para estabelecer metas para o uso de energias renováveis. É por isso que propusemos que a conferência de Johannesburgo adotasse a proposta brasileira que era atingir, em 2010, a meta de 10% de energia renovável no mundo todo, de forma que os países pudessem trocar quotas entre si. O Brasil, por exemplo, que utiliza mais de 10% de energia renovável poderia trocar quotas com a Alemanha que está abaixo desse índice.
O percentual de fontes renováveis de energia no Brasil é de cerca de 40% da sua matriz, por causa da energia hidrelétrica. O nosso país está muito bem nesse aspecto. A proposta brasileira era atraente, porque era uma proposta simples que valeria para todos os países do mundo.

E as outras propostas? Os países da União Européia tinham opiniões coincidentes, em alguns aspectos, com a proposta brasileira...
JG - A proposta da União Européia, que também preconizava o aumento da participação de fontes renováveis de energia, era bem mais complexa que a brasileira. Estabelecia a meta de 15%, mas aumentaria só 2% até 2010. Além disso, os 15% de energia renovável incluiria a biomassa tradicional, ou seja, a biomassa que se usa largamente na África implicando o corte de árvores, não constituinto, portanto, uma prática sustentável.
A proposta brasileira, assim, foi claramente reconhecida como a de melhor conteúdo. O que houve foi o seguinte: as metas não foram aceitas, mas a conferência adotou uma resolução apoiando os aspectos conceituais, isto é, faz um apelo para que todos os países se empenhem para aumentar a participação das fontes renováveis na matriz energética.
E, complementarmente, reconhece os esforços dos blocos regionais, constituídos pelos países latino-americanos e caribenhos, que apoiaram a proposta brasileira, e a União Européia, que tem as sua próprias metas. Se analisarmos por este ponto de vista, podemos dizer que os resultados alcançados na conferência representam uma vitória significativa, inclusive pela linguagem da resolução, em tom bastante forte, com metas e prazos.

Mas a expressão Rio-10 está circulando com insistência em alguns setores, que entendem que houve um retrocesso em relação à Rio 92. O mínimo que se esperava era o aumento da participação da energia renovável na matriz. O Sr. concorda com isso?
JG - Em parte. É claro que todos desejávamos resultados efetivos desse encontro. Mas devemos considerar, porém, que a conferência reconheceu o papel dos blocos regionais. Este é um aspecto de suma importância, porque o bloco latino-americano vai seguir em frente. E o presidente Fernando Henrique Cardoso, na que deve ser a sua última entrevista, em Johannesburgo, confirmou a disposição das nações em desenvolvimento de aumentar a sua participação, independentemente das nações ricas. E o presidente foi mais adiante: ele disse que seria feito um esforço para aumentar as metas do grupo latino-americano com as metas da União Européia.
Eu acho que as metas mais rigorosas são as latino-americanas, mas o presidente declarou que será organizado, agora, um grupo de trabalho para harmonizar as propostas. Eu entendo que foi uma vitória em princípio, mas não uma vitória que, digamos, resolva a questão das emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis. No fundo, nós perdemos uma batalha, mas claramente não perdemos a guerra.

Como aconteciam as reuniões?
JG - Houve dias em que as reuniões se estendiam até as 2,30 horas da manhã. Algumas foram muito tensas, delineando a posição dos blocos que acabaram se opondo à proposta brasileira. Foram os Estados Unidos e os países do Golfo, mas não todos os países produtores de petróleo, porque a Noruega e Venezuela se posicionaram do nosso lado.
Os países do Golfo usaram o argumento, equivocado na minha opinião, de que o aumento do uso de energias renováveis iria diminuir o mercado de produtos petrolíferos. Eles defenderam interesses particulares e de curto prazo. Os americanos argumentaram de forma um pouco mais sofisticada, recusando unilateralmente o estabelecimento de prazos e metas. É a política deles. Eles se comportam dessa maneira também no Tribunal Penal Internacional.
Mas, na verdade, a proposta de aumentar o uso de energias renováveis para 10% até beneficiaria os Estados Unidos, pois reduziria as emissões de carbono, automaticamente, mesmo sem o Protocolo de Kyoto que eles, igualmente, se recusam a subscrever.

Metas e prazos poderão vir a ser estabelecidos num futuro próximo?
JG - O presidente Fernando Henrique, com outros representantes internacionais, já declarou que, no próximo ano, ocorrerão novas reuniões das Nações Unidas para rediscutir as propostas. A resolução extraída da conferência de Johannesburgo diz com clareza que as decisões sobre energia vão ser avaliadas pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável. Já em abril ou maio deverá haver uma reunião dessa comissão, o que dará ao Brasil a oportunidade de levantar o problema de novo. Eu espero que não demore cinco ou dez anos como ocorreu com o Protocolo de Kyoto.

E como o Sr. acha que vão se estabelecer os diversos grupos de interesse?
JG - O bloco europeu tem um peso considerável e, segundo a avaliação de seus representantes, vai acabar convencendo todos os países da região mediterrânea, ou seja, os países do Norte da África. Em outras palavras, o bloco dos países latino-americanos, mais os do Caribe, junto com o bloco europeu, vai acabar isolando os Estados Unidos.

 
 
Fonte: SMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa
 
 
 
 
 
 

 

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