PROJETO TRANSFORMA EXTRATORES CLANDESTINOS
DE PALMITO EM RESTAURADORES DA FLORESTA

Panorama Ambiental
São Miguel Arcanjo (SP) - Brasil
Novembro de 2003

Uma experiência bem-sucedida de trabalho em comunidade de entorno de unidade de conservação no Vale do Ribeira

A extração clandestina de palmito constitui uma das principais causas de conflitos sócioambientais no Vale do Ribeira, extremo sul do Estado de São Paulo. O palmito é produzido por uma palmeira típica da Mata Atlântica chamada juçara (Euterpe edulis), sendo necessário derrubar essa palmeira para extraí-lo. A exploração predatória realizada durante décadas levou à drástica redução dos estoques naturais da espécie, concentrados atualmente em unidades de conservação, como o Parque Estadual “Carlos Botelho” (PECB), que se tornaram alvos dos extratores.
Entre as causas do problema podem ser citadas a falta de alternativas de renda na região, especialmente na zona rural, e a contínua demanda por palmito de juçara no mercado consumidor, mesmo com o surgimento de produtos substitutos como pupunha, açaí, palmeira real, etc. Por outro lado o esquema de repressão ostensiva sobre os extratores não tem surtido o efeito esperado, demonstrando que é uma estratégia superada.
Diante dessas constatações, a solução para o problema seria a reposição do estoque a médio e longo prazos a fim de atender a procura. Para tanto haveria necessidade de realizar o repovoamento ou o enriquecimento da espécie nas áreas de vegetação secundária em fase inicial de sucessão, com a utilização da mão-de-obra hoje dedicada ao corte de palmito.
O bairro rural do Rio Preto, situado no município de Sete Barras, ficou tradicionalmente conhecido como um foco de coleta clandestina de palmito no interior do Parque Estadual “Carlos Botelho”, localizado em área limítrofe. Paradoxalmente, há cerca de cinco anos, moradores desse bairro representados pela Associação do Desenvolvimento Comunitário do Rio Preto demonstraram interesse pelo repovoamento de palmiteiro juçara em áreas de bananal abandonado.
A iniciativa teve apoio imediato da Fundação Florestal e do Instituto Florestal, tendo este colocado toda a infra-estrutura do parque à disposição para o desenvolvimento dos trabalhos. Inicialmente foi instalado um viveiro no Núcleo Sete Barras do PECB, distante 10 quilômetros do bairro Rio Preto.

RISCO DE ROUBO

Todo o trabalho, desde a montagem do viveiro até a formação das mudas, foi executado em regime de mutirão, com a participação predominante de senhoras, idosos e jovens da comunidade. Ao Instituto Florestal coube a coordenação técnica e administrativa, o fornecimento de alimentação e transporte, além de cuidar do viveiro quando não havia mutirões. Já a Fundação Florestal ficou responsável pela orientação técnica e mobilização dos moradores. A Prefeitura de Sete Barras também colaborou, fazendo melhorias nas estradas do bairro e transportando terra e esterco para o viveiro.
O primeiro resultado dessa parceria foi a aproximação dos moradores do bairro com os funcionários do parque, até então grupos antagônicos em torno da extração ilegal do palmito. No primeiro ano, as 10 mil mudas produzidas foram plantadas no próprio bairro. Nos anos seguintes, a produção oscilou entre 10 e 15 mil mudas por ano, sendo parte plantada no bairro e o restante comercializado. A distribuição de mudas entre os participantes foi feita proporcionalmente ao tempo dedicado ao mutirão.
Os participantes estavam conscientes de que o retorno financeiro do repovoamento só ocorreria oito a dez anos após o plantio e conheciam os riscos de se tornarem vítimas do roubo de palmito, muito freqüente na região. Animados porém pela possibilidade de venda de mudas, tiveram a iniciativa de implantar um segundo viveiro em junho de 2001, desta feita no próprio bairro, onde passaram a produzir mudas de diversas espécies arbóreas além da palmeira-juçara.

EMBAIXADA BRITÂNICA

Justamente nessa época a comunidade recebeu a visita da segunda secretária da Embaixada Britânica, acompanhada da Equipe da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente. Ela se interessou vivamente pelos trabalhos ali desenvolvidos, o que resultou na aprovação de um auxílio daquela embaixada da ordem de R$ 80 mil.
Em janeiro de 2002 o secretário do Meio Ambiente esteve no bairro para assinar um protocolo de intenções, visando à realização de pesquisas sobre a possibilidade de extração, processamento e comercialização da polpa dos frutos da juçara, abrindo novas perspectivas de uso sustentável.
Recentemente mais uma atividade promissora teve início no Rio Preto. Trata-se da coleta de sementes de espécies nativas em florestas remanescentes e formações vegetais secundárias em diversos estágios de sucessão. As sementes colhidas, após beneficiadas e selecionadas, são adquiridas pelo Instituto Florestal para posterior venda ou produção de mudas.
Além de constituir mais uma fonte de renda alternativa, essa atividade poderá representar um reforço ao modelo de manejo sustentável de florestas e contribuirá para abastecer o crescente mercado de sementes de espécies da Floresta Ombrófila Densa.

COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

Outro passo importante na consolidação dos trabalhos foi dado no final de 2002, quando a Associação do Rio Preto assinou um contrato com a concessionária de rodovias SP-Vias, objetivando a produção e o plantio de 36 mil mudas de espécies arbóreas nativas. Essas mudas vem sendo destinadas à recuperação florestal de áreas degradadas no interior do Parque Carlos Botelho, como forma de compensação ambiental pelas obras de duplicação de uma estrada que liga Itapetininga a Itapeva.
O fato configura uma situação no mínimo curiosa: pelo menos uma parte dos moradores que viviam do corte clandestino de palmito dentro do parque, provocando sua devastação, estão se dedicando hoje ao plantio da espécie visando à recuperação florestal dessa unidade de conservação.
Mais informações podem ser obtidas nos endereços eletrônicos:
pecarlosbotelho@ig.com.br ou ffregistro@ig.com.br

Guenji Yamazoe – Instituto Florestal
Wagner Gomes Portilho – Fundação Florestal
José Luiz Camargo Maia – Instituto Florestal
Fábio Marques de Oliveira – Fundação Florestal.

Fonte: PE Carlos Botelho
Assessoria de imprensa
Fonte: Matéria extraída da revista “Florestar Estatístico” – volume 6 – nº 15 – julho de 2003. (www.fflorestal.sp.gov.br)

 
 
 
 

 

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