PISCICULTURA INDÍGENA NO ALTO NEGRO NO SITE DO ISA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2004

A partir de hoje (29/01), as principais informações sobre o premiado projeto-piloto desenvolvido em parceria pelo ISA e pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) estão disponíveis na página principal do site do ISA.
Ao contrário do que se pode pensar, nem todos os rios da Bacia Amazônica, hoje, têm peixes em abundância. Mesmo assim, até alguns anos atrás, os povos indígenas do noroeste amazônico conseguiam retirar dos rios os peixes que são sua preferencial fonte de alimentação. Mas os peixes começaram a escassear e a preocupar os índios. Por meio de uma pesquisa realizada entre 1997 e 1998, quando da demarcação das terras indígenas na região, com mais de 200 comunidades indígenas, foram indicadas as áreas mais críticas quanto à escassez.
Outras pesquisas realizadas anteriormente apontavam que a escassez estava relacionada, entre outros motivos, à introdução de métodos não-tradicionais de pesca, ao aumento da população indígena, às águas pretas da Bacia do Rio Negro, ácidas e pobres, e à mudança de hábitos culturais.
Por essas razões, em 1998, o Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), deu início ao Projeto de Piscicultura e Manejo Agroflorestal Associado, com o apoio e financiamento da Organização Intereclesiástica para Cooperação ao Desenvolvimento (ICCO), da Holanda, União Européia e Horizont3000. Fazem a cooperação técnica do projeto o Centro de Pesquisas e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Cepta/Ibama), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (Museusp).

Estação Caruru, no Rio Tiquié (AM): a primeira a ser inaugurada

A iniciativa pretende reduzir a escassez de peixes nas diversas comunidades dos rios Tiquié, Uaupés e Içana e ao mesmo tempo diminuir a pressão pesqueira e desenvolver um modelo que possa servir de inspiração para outras experiências similares. No ano passado, o projeto ganhou o Prêmio Chico Mendes, concedido desde 2002 pelo Ministério do Meio Ambiente, na categoria Ciência e Tecnologia.

Espécies escolhidas e a valorização do secular conhecimento indígena

As espécies de peixe escolhidas para serem criadas na região haviam sido pouco pesquisadas e, por isso, o conhecimento indígena acumulado durante séculos foi fundamental no desenvolvimento da atividade, sendo bastante valorizado pelo projeto. Outro incentivo importante foram as experiências espontâneas que muitas famílias e comunidades já vinham fazendo ao longo das últimas décadas para enfrentar a escassez de peixes.
As três estações de piscicultura – Caruru, Iauareté e EIBC - foram construídas nos altos rios Tiquié, Uaupés e Içana (noroeste da Amazônia), por terem sido as áreas identificadas como críticas na pesquisa de opinião junto às comunidades indígenas. As estações são administradas por associações indígenas filiadas à Foirn. A Associação das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié (Atriart) cuida da Estação Caruru, a Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (Coidi) da Estação Iauaretê, e a Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi), da Estação EIBC. O projeto de piscicultura feito com a Atriart passou a fazer parte dos Programas Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), do Ministério do Meio Ambiente, em junho de 2002, garantindo o financiamento à atividade na Estação Caruru até 2005.

Informações à disposição dos interessados

A partir de hoje, o projeto ganha mais visibilidade com a entrada no ar do novo subsite Piscicultura Indígena no Alto Rio Negro. Elaborado a partir de textos dos engenheiros de pesca Mauro Lopes e Ramón Gerrits, do engenheiro agrônomo Pieter Jan van der Veld e do antropólogo Aloisio Cabalzar, da equipe do Programa Rio Negro do ISA, o subsite conta com seções explicativas sobre como se faz o manejo dos peixes e o manejo agroflorestal nas estações de piscicultura e nas comunidades, além de trazer uma lista das espécies criadas, de mitos indígenas (veja quadro abaixo) e outros assuntos relacionados.
“Colocar as informações sobre as chamadas experiências-piloto à disposição dos interessados é importantíssimo e por essa razão realizar uma boa documentação do processo deve fazer parte do planejamento inicial das atividades. Relatos detalhados dessas experiências poderão interessar outros grupos que estejam enfrentando situações semelhantes”, diz o coordenador do Programa Rio Negro do ISA, Beto Ricardo. “Não se trata de oferecer uma fórmula a ser copiada, mas um relato inspirador, que ajude outros a pensar em alternativas adaptadas a cada situação particular na Amazônia".
A assembléia dos waí-masã: um trecho do mito indígena
“Era uma vez um pescador que numa tarde se encontrava com a sua canoa encostada na ilha de Semendaí, no Rio Uaupés, preparando um espinhel para a pesca. Estava compenetrado no seu trabalho quando dois jovens passaram remando, subindo o rio. Eles eram waí-masã (gente peixe). Os dois jovens, vendo o pescador, encostaram na ilha para puxar conversa e logo se agradaram dele, convidando-o para uma festa que haveria numa comunidade dos waí-masã, no fundo do rio. A festa, que seria por ocasião de uma assembléia geral, duraria três dias, com muito caxiri, dança e mulheres bonitas. Tanto insistiram que acabaram por convencê-lo”.
Assim começa a narrativa indígena, abreviada e adaptada para a linguagem escrita em 1998, a partir de um relato de Domingos Marques, morador da comunidade de Caruru, no Alto Rio Tiquié (AM). Conta a história que aquele pescador desceu ao fundo do rio com os dois jovens, participou da reunião e entrou literalmente na dança, até ser descoberto pelo chefe do homens-peixe. Para disfarçar, passou-se por médico e se incumbiu de cuidar dos doentes, descobrindo a origem de seus males. A assembléia dos waí-masã ia discutir a redução do povo nos últimos anos, e a causa estava em todos os peixes do hospital: ferimentos causados por anzóis, malhadeiras e azagaias - um tipo de lança usado pelos índios do Alto Rio Negro. Dessa forma, os povos indígenas da região procuram explicar porque os peixes estão desaparecendo dos rios.

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de comunicação

 
 
 
 

 

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