GREENPEACE: CARGILL REAGE COM VIOLÊNCIA A PROTESTO NO PARÁ

Panorama Ambiental
Santarém (PA) - Brasil
Abril de 2004

Cargill reage com violência a protesto no Pará; ativistas presos já foram liberados
Greenpeace diz que presença da multinacional americana na Amazônia estimula o desmatamento e não gera benefícios sociais

Cerca de 800 pessoas dos movimentos sociais da região de Santarém, no Pará, marcharam no final desta tarde em direção à Delegacia de Polícia Civil da cidade para apoiar os ativistas do Greenpeace que foram presos durante protesto contra o terminal graneleiro da Cargill (1), construído irregularmente no porto de Santarém. Os ativistas foram liberados no início da noite. A data foi escolhida por movimentos sociais da região para demonstrar que a presença da multinacional americana alimenta o desmatamento perverso que afeta a Amazônia sem trazer benefícios para o País ou para a região. No Dia do Trabalho, o Greenpeace se juntou a diversas organizações

sociais em Santarém, no Pará, para participar do seminário “Levante Amazônia”, que discutiu a expansão da monocultura da soja na região e o modelo de ocupação que não respeita os modos de vida dos povos da Amazônia. Os ativistas escalaram a ponte do terminal e subiram no telhado da empresa, mas foram detidos pela Polícia Militar antes de abrir a faixa com a mensagem: “Cargill: Porta da Destruição”.
Mais tarde, os ativistas do Greenpeace se juntaram a um grupo de dezenas de mulheres do Movimento Organizado de Mullheres do Baixo Amazonas que protestava em frente ao portão principal da empresa com martelinhos de madeira para simbolizar a demolição da unidade da Cargill na região. Os manifestantes foram recebidos com violência por funcionários e apoiadores da Cargill. Fotógrafos e câmeras que
documentavam o protesto também foram agredidos.“Nós só lamentamos que um protesto pacífico de comunidades pela defesa de suas florestas resulte em violência. Enquanto a força for usada por grupos em disputa, estaremos longe das soluções justas e sustentáveis”, disse Nilo D’Avila, da campanha da Amazônia do Greenpeace. “O protesto das comunidades locais da região de Santarém é um grito contra o avanço da soja na Amazônia e seus terríveis impactos sociais e ambientais”.
A expansão da monocultura de soja vem sendo apontada como um dos principais vetores do crescente desmatamento na Amazônia. Entre 2001 e 2003, mais de cinco milhões de hectares de floresta foram destruídos na região, o equivalente a nove campos de futebol desmatados por minuto. Além disso, o terminal da Cargill,
construído irregularmente sem a realização de Estudos de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), causou uma verdadeira revolução na economia regional de Santarém sem que a prefeitura local, o governo do estado ou o governo federal tivessem tempo de se preparar para minimizar os impactos desse processo.
“Esta situação é ruim porque a soja está avançado sobre áreas de floresta e expulsando os colonos da terra. Nosso martelinho é um símbolo de protesto: Cargill, fora da nossa região!”, disse Raimunda Bentes Gomes, 51 anos, uma das mulheres que integraram o protesto. “A Cargill chegou a Santarém fazendo promessas de emprego, mas nós sabemos que é mentira porque eles trabalham com máquinas operadas por funcionários trazidos de fora. Geraram muito mais problemas do que
empregos”. Entre 2002 e 2003, a área cultivada com soja no município cresceu 130% e o número de produtores aumentou de 180 para 320. Com a infra-estrutura para exportação, muitos fazendeiros do sul do País migraram para Santarém em busca de terra barata para o plantio de soja, causando um aumento no preço do hectare de R$ 80 para R$ 1.200 em apenas 3 anos. Pequenos proprietários locais e comunidades rurais estão sendo forçadas a sair de suas terras e engrossar o cinturão de miséria da cidade. “Os comunitários chegam às cidades sem perspectivas e sem formação e, no final, acabam virando peões de suas próprias terras. A Cargill inclusive financia alguns produtores e existem estudos que apontam que a área plantada aqui na região pode ser ampliada em até cinco vezes. Se o EIA/RIMA tivesse sido feito antes da construção do terminal graneleiro, estes impactos sociais e ambientais teriam sido previstos”, afirma José Costa, 32 anos, secretário-executivo do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico) do Baixo Amazonas. “Esperamos que a justiça seja feita”.
O Greenpeace apóia a luta das comunidades de Santarém. “Ocupar a terra com monocultura de soja e construir este tipo de infraestrutura vão na contramão de um modelo de desenvolvimento sustentável para a região amazônica e seus habitantes”, afirma Nilo D’Ávila, da campanha da Amazônia do Greenpeace. “Não existem estudos científicos que comprovem a sustentabilidade do cultivo da soja em uma região com o clima da Amazônia. Trata-se de um gigantesco experimento agrícola sem garantias de que vai dar certo a longo prazo”.
Em 1999, o Ministério Público Federal (MPF) de Santarém entrou com processo (2) para exigir que a Companhia Docas do Pará (CDP) realizasse os estudos de impacto ambiental antes de abrir o processo de licitação para a construção dos novos terminais no porto de Santarém. A CDP discordou da decisão do Ministério Público e conseguiu abrir concorrências para construção através de uma liminar. A Cargill venceu uma delas e, utilizando a mesma liminar da CDP, investiu 20 milhões de dólares para instalar um terminal graneleiro em Santarém (3).
Em novembro de 2003, as instalações da Cargill já estavam operando. Na mesma época, a liminar utilizada como base legal para a construção do terminal no porto de Santarém foi suspensa (4). As operações da empresa no local foram paralisadas e iniciou-se nova batalha judicial. O caso deve ser julgado pela Justiça Federal nas próximas semanas.
"A Cargill se implantou no coração da Amazônia sem respeitar a Constituição do Brasil e as nossas leis ambientais”, disse o Procurador da República Felício Pontes, responsável pelo recurso à Justiça Federal contra o terminal graneleiro. “As ações continuam em curso e esperamos que muito em breve a Justiça determine a paralisação do porto da empresa até que os estudos ambientais sejam apresentados e aprovados pelo Ibama".
Os movimentos comunitários da região estão assustados com a velocidade da destruição ambiental e os impactos sociais provocados pela implantação do porto da Cargill. Cinqüenta novos empreendimentos foram instalados recentemente no município. Embora o PIB local tenha triplicado em um período de quatro anos, diversos casos de crimes ambientais, violência contra pequenos produtores rurais e grilagem de terras foram reportados desde a chegada da multinacional americana à região (5). Para a agricultora Neucilene Farias Moutinho, de 22 anos, “o governo federal tem que mostrar que a Amazônia é uma floresta e não um lugar para a monocultura”.
Além de se opor à conversão da floresta amazônica em campos de soja (6), o Greenpeace está realizando a expedição “Brasil Melhor sem Transgênicos” no sul e sudeste do País como parte de seus esforços para proteger a biodiversidade do planeta (7). O navio MV Arctic Sunrise chegou ao Rio Grande do Sul no início de abril para protestar contra a liberação e a comercialização de organismos transgênicos no Brasil.

NOTAS

(1) A Cargill Inc. é a maior empresa de capital privado do mundo. A multinacional opera em todas as etapas da cadeia produtiva agrícola, desde o fornecimento da semente até o produto final embalado. Nos EUA, por exemplo, a Cargill controla 42% das exportações de milho e 31% das exportações de soja. Já no Brasil, os terminais portuários estão em Guarujá (SP), Paranaguá (PR) e Santarém (PA). A empresa também tem instalações para processar soja em Mairinque (SP), Barreiras (BA), Rio Verde (GO), Tres Lagoas (MS), Ponta Grossa (PR) e Uberlandia (MG). De acordo com um relatório da Corporate Watch, uma instituição de pesquisa independente do Reino Unido, “a Cargill visa conseguir poder político e econômico nos países em que atua, influenciando leis, políticas e programas em benefício próprio”.

(2) Processo número 2003.39.02.001733-3; número de classe 9.108.

(3) De acordo com o Ministério Público Federal, a Cargill e a CDP desrespeitaram a Constituição Federal que exige Estudos de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) para este tipo de construção. Na tentativa de contornar a legislação federal, a Cargill realizou um estudo ambiental com o aval da Sectam (Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará) para construir o terminal graneleiro.

(4) Foi realizada uma audiência pública na cidade com cerca de 30 ONGs locais que incentivaram o Procurador da República a usar uma ferramenta legal chamada Ação Atentado contra a empresa: já que a Cargill não realizou o EIA/RIMA como deveria e o porto já está construído, a solução seria demolir as instalações da empresa.

(5) De acordo com o jornal O Impacto, de Santarém, desde 2002 foram abertos 73 Procedimentos Administrativos relacionados a conflitos agrários e grilagem de terras somente na Procuradoria da República no Município de Santarém. Segundo o titular Dr. Nilo Marcelo, 56 viraram inquéritos policiais e estão sendo apurados pela Polícia Federal, enquanto 17 estão em andamento e deverão se transformar em inquéritos. As áreas griladas estão entre as mais cobiçadas pela reserva de madeira nobre e por ser ideal para o cultivo de grãos.

(6) A Amazônia é responsável por 20% da soja produzida no País. De acordo com pesquisas do Museu Paraense Emílio Goeldi, a conversão de florestas em campos de soja têm sérios custos sociais e ambientais, entre eles: a erosão do solo, os efeitos nocivos de agrotóxicos no meio ambiente e na saúde humana e a expulsão de comunidades tradicionais de suas terras para o plantio de soja. Dados da Comissão Pastoral da Terra indicam que 6% dos casos de trabalho escravo no Brasil estão relacionados ao cultivo de soja. Os recursos governamentais usados em subsídios à soja seriam melhor utilizados em educação, saúde e investimentos em atividades que pudessem gerar mais empregos que a cultura mecanizada da soja.

(7) No dia 26 de abril, o Greenpeace se uniu à fazendeiros e membros do grupo indígena Wichi, na Argentina, para protestar contra um projeto do governo que visa vender suas reservas naturais para serem transformadas em campos de soja transgênica. A reserva natural dos índios Wichi representa não apenas seu lar como o modo de vida da população local e a biodiversidade argentina.

Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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