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AMBIENTALISTAS
ANALISAM OS EFEITOS DA FRAGMENTAÇÃO
DAS FLORESTAS NEOTROPICAIS
Panorama
Ambiental
Belo Horizonte (MG) - Brasil
Abril de 2004
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Pesquisas experimentais
ao redor de todo o mundo mostram que a fragmentação
de florestas leva à perda de centenas de
espécies de plantas e animais. No artigo
"Fragmentação, Sinergismos e
Empobrecimento das Florestas Neotropicais",
os autores analisam simultaneamente as múltiplas
causas e as interações que são
desencadeadas pelo processo de fragmentação
das florestas das Américas do Sul e Central.
O estudo destaca que se os efeitos da fragmentação
não forem atenuados rapidamente, as florestas
tropicais vão perder uma parte significativa
da diversidade de suas árvores mais preciosas,
desencadeando um processo de extinção
em massa poucas vezes visto na história da
Terra. O artigo acaba de ser publicado na revista
holandesa Biodiversity and Conservation e é
assinado por Marcelo Tabarelli, professor da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), José Maria
Cardoso da Silva e Claude Gascon, ambos da ONG Conservação
Internacional (CI).
"A fragmentação das florestas
não ocorre naturalmente. Ela está
sempre associada a ameaças induzidas pelo
homem, como exploração de madeira,
queimadas e a caça de vertebrados, que são
dispersores de sementes. Isso ocorre porque os recursos
da floresta são, pelo menos durante um certo
período, a principal fonte de renda das populações
locais", explica José Maria Cardoso
da Silva, vice-presidente de Ciência da CI-Brasil.
Tanto no caso da Amazônia como da Mata Atlântica,
os principais impactos advêm do que os ambientalistas
convencionam chamar de efeito de borda. Isso significa
dizer que, depois do desmatamento, os remanescentes
ficam isolados, e sua vizinhança passa a
ser não mais a própria floresta, contínua,
mas áreas abertas, como plantações,
pastos, estradas. Os dois tipos de ambientes se
influenciam mutuamente e as espécies da floresta
respondem de várias maneiras a esse fenômeno.
Algumas não suportam a baixa umidade, enquanto
outras acabam por se beneficiar, como algumas espécies
de cipós e parasitas. Com isso, muitas espécies
de árvores de grande valor comercial, como
a castanha-do-brasil e o mogno, podem ser extintas.
Os pesquisadores explicam o ciclo da extinção
de um fragmento de floresta usando o seguinte esquema
lógico. Tanto nas novas quanto nas antigas
fronteiras da colonização humana nas
regiões neotropicais - como a Amazônia
e a Mata Atlântica - os fragmentos de florestas
estão sempre associados às crescentes
necessidades comerciais e de subsistência
das populações (madeira, carvão,
minerais, fibras, sementes etc.). Nessas regiões,
a fragmentação do hábitat amplia
o acesso aos recursos da floresta e facilita a caça,
a extração industrial de madeira e
a expansão da agricultura. As operações
de extração de madeira em grande escala
aumentam ainda mais a fragmentação
da floresta, abrindo estradas e trilhas. Além
disso, a derrubada reduz a cobertura de folhagens
e produz grandes quantidades de detrito orgânico.
Esse material combustível, combinado ao lixo
e à biomassa morta produzidos pela própria
fragmentação, deixa essas regiões
ainda mais susceptíveis à indução
de queimadas.
Associados a cada uma dessas ameaças, estão
os processos ecológicos que têm o potencial
de reduzir o tamanho das populações
de inúmeras espécies de árvores.
O efeito de borda e a fragmentação
aumentam a mortalidade de árvores jovens
pela competição com cipós,
espécies parasitas e espécies adaptadas
a solos pobres, ao mesmo tempo que a própria
derrubada causa um prejuízo físico.
As árvores adultas também ficam mais
vulneráveis à borda e freqüentemente
caem com a elevação de suas raízes
para a superfície. Além disso, a eliminação
de vertebrados dispersores de sementes compromete
a germinação. Muitas espécies
de árvores neotropicais estão atualmente
ameaçadas por uma combinação
dessas causas. "O Centro de Endemismo Pernambuco
- a região de Mata Atlântica entre
o Rio Grande do Norte e Alagoas - é um exemplo.
Nós estimamos que pelo menos 34% das espécies
de árvores da região estão
ameaçadas por causa da combinação
desses fatores, explica Tabarelli".
O estudo sugere algumas predições
inquietantes. A grande maioria dos fragmentos florestais
da Amazônia ou Mata Atlântica já
passaram ou estão passando por um rápido
processo de perda de espécies. Na Amazônia,
se o processo de colonização e exploração
dos recursos naturais da região continuar
como está, com taxas de desflorestamento
entre 15.000 e 20.000 km2 por ano, pode-se prever,
no curto prazo, uma degradação bastante
severa de grande parte do bioma, limitando as oportunidades
de um desenvolvimento social justo e eqüitativo
baseado no uso sustentável das florestas.
O estudo também revela que a porcentagem
de espécies perdidas é uma conseqüência
da intensidade e severidade das ameaças que
foram impostas aos fragmentos. As árvores
mais ameaçadas de extinção
têm grande valor comercial, são muito
sensíveis aos efeitos de borda e sua reprodução
depende da dispersão de sementes promovida
pelos grandes vertebrados, que em geral são
os primeiros a desaparecer de um sistema perturbado
pela ação humana.
"Em áreas de Mata Atlântica, como
no Sul da Bahia onde os fragmentos de floresta são
muito pequenos e ameaçados, podemos sentir
a assustadora sensação da floresta
vazia. Você pode observar o verde da mata,
mas já não ouve mais a vocalização
dos primatas, ou o movimento dos animais, nem o
cantar dos pássaros da região. Daí
você pode concluir que esse é um fragmento
fadado à extinção," comenta
Gascon, que trabalhou por mais de 10 anos como pesquisador
no Brasil.
Os autores do artigo concluem afirmando que uma
parcela significativa da biodiversidade brasileira
poderá ser perdida rapidamente, com grandes
prejuízos para a sociedade como um todo,
caso nenhuma ação concreta para a
implementação de estratégias
de manejo florestal for estabelecida. Por isso,
eles defendem a criação de extensos
corredores de biodiversidade integrando conservação
e desenvolvimento econômico.
O artigo na íntegra pode ser encontrado na
seção de Publicações
do www.conservation.org.br
Fonte: Conservation International
- Brasil (www.conservation.org.br)
Assessoria de imprensa