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SOCIEDADE
CIVIL CONSOLIDA PROPOSTAS SOCIOAMBIENTAIS
PARA A ÁREA DE INFLUÊNCIA DA
BR-163
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) Brasil
Abril de 2004
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Com a prioridade
dada pelo governo Lula e por grandes produtores
rurais para o término do asfaltamento da
rodovia, ONGs e movimentos sociais se mobilizaram
a partir do ano passado para elaborar um conjunto
de reivindicações para a região,
relacionadas a ordenamento territorial, sustentabilidade,
conservação dos recursos hídricos
e melhoria da qualidade de vida das comunidades
locais. Esse processo será finalizado entre
29 e 31/3, em Santarém (PA), no encontro
O Desafio que Queremos – O Ordenamento Territorial
da BR-163, Baixo Amazonas, Transamazônica
e Xingu.
Com a expansão da soja na Amazônia
Legal, particularmente no Mato Grosso, principal
produtor do país, a conclusão do asfaltamento
da BR-163 – Rodovia Cuiabá-Santarém
- começou a ser priorizada, para facilitar
e baratear o custo do escoamento da produção
para mercados externos. O governo federal incluiu
a obra no Plano Plurianual (PPA) 2004-2007, os governadores
do MT e PA pressionam para que o investimento saía
do papel o mais rápido possível e
grandes produtores rurais, multinacionais do agribusiness
e industriais da Zona Franca de Manaus anunciaram
interesse em financiar parcialmente o empreendimento.
Diante deste cenário, organizações
não-governamentais e movimentos sociais mobilizaram-se
a partir do ano passado em torno da elaboração
de medidas em prol da sustentabilidade da área
de influência da rodovia, cuja construção
no início da década de 70 quase dizimou
o povo indígena Panará. O término
da pavimentação sem planejamento pode
resultar em aumento do desmatamento, migração
desordenada, concentração fundiária,
entre outros problemas, em uma região já
crítica.
Em novembro do ano passado, o Encontro BR-163 Sustentável
– Desafios e Sustentabilidade ao longo da Cuiabá-Santarém
reuniu 230 pessoas, incluindo representantes do
poder público federal, regional e local,
de universidades, de movimentos sociais e de ONGs,
pesquisadores e 100 lideranças indígenas.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o ministro
da Integração Nacional, Ciro Gomes,
e o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, foram
algumas das autoridades presentes ao encerramento
do evento. Ouviram as propostas elaboradas pelos
participantes, como a criação de uma
zona tampão de 10 quilômetros no entorno
de Terras Indígenas; a preservação
e recuperação de matas ciliares, especialmente
dos Rios Xingu, Teles Pires e Araguaia; a criação
e implementação de Unidades de Conservação
(UCs) e proteção da Serra do Cachimbo
– região rica em biodiversidade e com nível
significativo de endemismo localizada entre o Norte
do MT e sul do PA, numa zona de transição
entre a Amazônia e o Cerrado; garantia de
infra-estrutura para assentamentos de reforma agrária;
e estabelecimento de linhas de microcrédito
e implementação de políticas
de incentivo para agricultores familiares. Logo
depois, o processo de mobilização
da sociedade civil se estendeu ao Pará, com
a realização de encontros regionais
em Santarém, Altamira e Itaituba.
Entre 29/3 a 31/3, representantes de diferentes
instituições estarão reunidos
em Santarém (PA), para detalhar e reunir
em um único documento, que será encaminhado
a representantes do poder público federal,
estaduais e municipais, as propostas de todos os
encontros. Intitulado O Desenvolvimento que Queremos
- Ordenamento Territorial da BR-163, Baixo Amazonas,
Transamazônica e Xingu, o evento é
organizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (IPAM), Instituto Socioambiental
(ISA), Instituto Centro Vida (ICV), Fundação
Viver, Produzir e Preservar (FVPP), Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA), Centro de Estudos, Pesquisa
e Formação dos Trabalhadores do Baixo
Amazonas, Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente
e Desenvolvimento (Formad), Federação
dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará,
Xingu e Itaituba e Fórum dos Movimentos Sociais
da BR-163.
Reivindicações
incorporadas pelo governo
O Plano de Ação
para a Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal, no qual a BR-163 é
descrita como uma rodovia que potencializa novas
frentes de expansão da fronteira, já
incorporou boa parte das reivindicações
da sociedade civil. Anunciado pelo presidente Lula
no dia 15/3, prevê ações de
ordenamento fundiário e territorial na área
de influência da Rodovia Cuiabá-Santarém,
entre as quais medidas emergenciais de combate à
grilagem de terras públicas, criação
de novas UCs, demarcação de Terras
Indígenas, desenvolvimento de Zoneamento
Econômico-Ecológico (ZEE), adoção
do Plano de Gestão Ambiental Rural (Gestar)
e implantação de infra-estrutura social
e produtiva em assentamentos de reforma agrária.
Uma das primeiras ações do plano a
ser executada foi a instalação de
bases operacionais do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) em Diamantino,
Sinop e Guarantã do Norte, no MT, e em Santarém,
Serra do Cachimbo, Novo Progresso e Itaituba, no
Pará, no dia 22/3, responsáveis pela
regulamentação fundiária da
área de influência da BR-163.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)