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DISCURSO
DA MINISTRA MARINA SILVA, PELA SEMANA NACIONAL
DO MEIO AMBIENTE
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2004
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Discurso
da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante
cerimônia no Palácio do Planalto, 3
de junho, pela Semana Nacional do Meio Ambiente.
Senhor Ministro,
Senhores e Senhoras
É com muita
alegria e com muita honra que viemos à presença
do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu,
e a de todos os senhores para assinarmos e anunciarmos
atos importantes para a gestão do meio ambiente
do Brasil. Temos um enorme desafio pela frente,
para o qual convidamos a todos os brasileiros, há
um ano atrás, quando com o senhor lançamos
a Conferência Nacional de Meio Ambiente: Vamos
cuidar do Brasil. Cuidar do nosso Brasil significa
conservar e usar de maneira responsável,
a maior floresta tropical do mundo, com cerca de
550 milhões de hectares, o maior manancial
hídrico, com quase 12% da água doce
superficial do mundo, 70% dela na Amazônia;
significa cuidar bem da maior concentração
de biodiversidade, com cerca de 20% do total de
espécies existentes no nosso planeta. Cuidar
do Brasil é também trabalhar com os
governos estaduais e municipais para assegurar qualidade
de vida em nossas cidades, onde vivem quase 80%
dos brasileiros. No momento em que o Brasil começa
a retomar índices de crescimento de sua economia,
cuidar também quer dizer contribuir para
que as atividades produtivas, especialmente na área
de infraestrutura, se instalem e se desenvolvam
de maneira ambientalmente sustentável.
Porque afinal para o nosso governo desenvolvimento
quer dizer direito a uma vida digna para todos,
ou seja, direito à qualidade de vida em todas
as regiões e biomas do país.
Por isso que quando recebemos do Presidente Lula
a missão de fazer uma política ambiental
a ser respeitada por todos, anunciamos quatro grandes
diretrizes: a política ambiental integrada,
o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente,
o controle e a participação social,
e o desenvolvimento sustentável, que, a rigor,
é o objetivo principal da política
ambiental de governo.
Um ano e meio após assumirmos este desafio,
estamos realizando a Semana Nacional de Meio Ambiente
com o tema _Juntos, Meio Ambiente e Desenvolvimento
dão frutos . Mas antes de dar frutos é
preciso semear a terra.
Permita-me, senhor Ministro, contar uma breve história
antes de voltar ao dia de hoje. Como professora
de história, reconstitui o percurso das ações
ambientais no Brasil para me certificar da nossa
missão neste mandato.
Vivemos, nos anos 70, um período inicial
de denúncias contra a poluição
urbana, os agrotóxicos e outros temas. Enquanto
o mundo se surpreendia com a emergência dos
problemas ambientais, aqui o governo admitia qualquer
tipo de poluição como um preço
admissível para o progresso. Como se fosse
possível casar progresso e degradação.
Movimentos e lideranças emergentes como Lutzemberger
e Paulo Nogueira Neto, no entanto, forçaram
medidas do governo. Assim, era criada a Secretaria
Especial de Meio Ambiente, em 1973. As primeiras
medidas de governo se dirigiram apenas às
ações chamadas de Comando e Controle.
Nos anos 80, ao lado dos movimentos sindicais, como
a CUT, e os de trabalhadores sem terra, que foram
criados e organizados, surgiram também o
Conselho Nacional dos Seringueiros, o encontro nacional
dos ambientalistas e a mobilização
social e ambiental em torno da Constituinte.
Para abrir os anos 90, ainda em 89, o governo do
presidente Sarney, motivado pela grande repercussão
do assassinato de Chico Mendes, criou o Ibama. Mais
tarde, em 92, coube ao presidente Itamar Franco
a criação do Ministério do
Meio Ambiente. Na Eco-92, fomos o primeiro país
a assinar a Agenda 21. Ao longo desta década
assistimos a promulgação de leis importantes,
como a de Crimes Ambientais, a do Sistema Nacional
de Unidades de Conservação, bem como
a ratificação da Convenção
da Diversidade Biológica, que me inspirou
no Senado, em 1995, a propor o Projeto de Lei sobre
acesso à biodiversidade. Entretanto, mesmo
com essas iniciativas a idéia do Desenvolvimento
Sustentável, lançada em 1987, pelo
Relatório da ONU, _Nosso Futuro Comum , ainda
não alcançou a necessária implementação.
Diante desse breve histórico, qual será
a missão que nos cabe neste inicio de século
e de milênio e quanto dela já estamos
começando a realizar?
Primeiro, vale ressaltar o pioneirismo da política
ambiental integrada. Pela primeira vez, nesses 30
anos, um governo trabalha decididamente com a meta
criar uma política ambiental integrada. Isto
significa que o nosso governo dá um exemplo
para toda a sociedade nacional e internacional ao
incorporar a variável socioambiental como
critério fundamental nas ações
de governo, desde o planejamento. Assim deve ser
também na economia. Não se pode mais
pensar na dimensão ambiental como uma mera
externalidade da atividade produtiva.
Neste primeiro ano e meio de gestão ambiental
do Governo Lula, o Ministério do Meio Ambiente,
e suas entidades vinculadas, mantiveram um diálogo
sistemático com o centro do Governo, e com
os ministérios que guardam interface com
a área ambiental. Prova disso, foi o trabalho
do GT de Combate ao Desmatamento, o trabalho de
formulação de Plano BR 163 Sustentável,
o novo modelo de política energética,
a política de reforma agrária na Amazônia,
a revisão do crédito com os fundos
constitucionais do Norte e do Centro Oeste, o Plano
Amazônia Sustentável, entre outras
iniciativas em curso.
Mesmo com dificuldades compreensíveis e quase
sempre superadas com o apoio do Ministro-Chefe da
Casa Civil, José Dirceu, alguns passos significativos
vêm sendo dados também na articulação
da política ambiental integrada junto aos
estados e municípios, consolidando gradativamente
o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
Outra iniciativa inédita em 30 anos de política
ambiental foi a realização da Conferência
Nacional de Meio Ambiente. Há pelo menos
20 anos que a sociedade e os movimentos sociais
e ambientalistas brasileiros clamavam por uma instância
de diálogo aberto entre governo e sociedade.
Mas o grande desafio que temos, a missão
que evidentemente recai sobre nossos ombros, Ministro,
é, como o Presidente tem dito sempre, devolver
a auto-estima ao povo brasileiro. Este é,
sem dúvida, o sentido do desenvolvimento
que queremos: socialmente justo, economicamente
viável e ambientalmente sustentável.
Vemos com bons olhos o debate nacional sobre a função,
a natureza e o lugar da política ambiental
na retomada de um novo ciclo de desenvolvimento.
Nunca nesses 30 anos a política ambiental
mereceu tanta atenção, por exemplo,
de alguns segmentos empresariais. Podemos observar
este debate já como um indicador positivo
da nossa política integrada. No entanto,
algumas críticas que se dirigem muitas vezes
para o tema do licenciamento, alegando um suposto
_gargalo nos processos que tramitam no órgão
executivo do MMA, o IBAMA, não revelam os
problemas reais e toda a complexidade de situações,
inclusive internacionais, que o governo enfrenta
para, efetivamente, retomar o crescimento econômico.
Além disso, em algumas situações,
a crítica corresponde ainda à resistência
de alguns segmentos, que estão sendo obrigados
a abandonar práticas irregulares de uso e
exploração dos recursos naturais.
Para avançar rumo ao desenvolvimento justo
e sustentável, nosso governo tem um grande
desafio a ser vencido, que é a compreensão
de que uma política ambiental integrada,
articulada com estados e municípios é
fruto de diálogo com a sociedade, constitui
um fator essencial para o desenvolvimento do país.
Incorporar a dimensão socioambiental nas
metas de crescimento econômico é condição,
e não obstáculo, para o desenvolvimento
duradouro, sustentável e socialmente inclusivo.
Cabe, portanto, mostrar que negócio que não
trabalha com a qualidade ambiental é mau
negócio; desenvolvimento que atropela a dimensão
socioambiental não pode mais ser considerado
desenvolvimento real da sociedade.
As medidas
que estamos assinando aqui são produtos dessa
nova política ambiental. O Presidente Lula
assinou:
As Reservas Extrativistas
de Capanã Grande e Cururupu
As Florestas Nacionais do Cabedelo e Piraí
do Sul
O Plano Nacional de Prevenção, Preparação
e Resposta Rápida a Emergências Ambientais
com Produtos Químicos Perigosos _ o P2R2
Eu estou
assinando ou anunciando:
O Acordo com Governos
Estaduais da Amazônia para o ARPA
A Portaria que cria Comissões Tripartite
em 14 estados
A criação do Fundo de Áreas
Protegidas
O carimbo dos Correios comemorativo dos 15 anos
do Ibama
O Fórum de Áreas Protegidas
O Edital do Prêmio Chico Mendes
E, finalmente, a
Comissão Nacional para o Desenvolvimento
Sustentável das Comunidades Tradicionais.
As unidades de conservação, especialmente
de uso sustentável, como Reservas Extrativistas
e Florestas Nacionais, expressam a importância
que a conservação ambiental tem também
como alavanca de processos socioeconômicos.
São as Reservas do Lago do Capanã
Grande, no Estado do Amazonas e de Cururupu, no
Maranhão. Juntas essas Resex somam quase
meio milhão de hectares, atendendo a quase
1.500 famílias.
As Flonas são as de Cabedelo, na Paraíba,
e de Piraí do Sul, no Paraná, que,
a médio prazo, estarão integradas
à economia florestal do país, gerando
emprego e renda.
Quero dar uma boa notícia, especialmente
às lideranças extrativistas aqui presentes.
O Presidente assina, nos próximos dias, outra
medida que terá significativo impacto para
as comunidades tradicionais e agro-extrativistas.
De forma pioneira, estamos criando a Comissão
Nacional para o Desenvolvimento Sustentável
das Comunidades Tradicionais.
O agroextrativismo é a conjunção
da extração de produtos florestais
nativos (borracha, castanha-do-brasil, andiroba,
copaíba, babaçu etc), com uma agricultura
sustentável, de baixo impacto, mas com alto
valor social. O agroextrativismo constitui-se num
consistente processo de valorização
das florestas e matas e de resgate do valor socioambiental
desses ecossistemas. Esse sistema, bem como o da
pesca artesanal, apresenta os princípios
básicos desejáveis para o desenvolvimento
sustentável. Entre outras funções,
a Comissão vai assessorar o Presidente da
República na formulação e acompanhamento
da implantação da Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável das
Comunidades Tradicionais, e na coordenação
e articulação das ações
da Política, em conjunto com os governos
estaduais e municipais, considerando as dimensões
sociais e econômicas e a melhoria da qualidade
de vida das populações extrativistas.
O mais importante é que a Comissão
Nacional contará com a participação
de todos os ministérios afetos ao tema, além
de representantes da sociedade civil, das comunidades
tradicionais, entre outros. Será presidida
pelo Ministro do Desenvolvimento Social, Patrus
Ananias, tendo o nosso Ministério como secretaria
executiva.
Voltando às unidades de conservação,
quero destacar que, com o mesmo grau de importância,
são as unidades de conservação
integral, que também prestam importante contribuição
para a pesquisa científica e, sobretudo,
para um dos setores da economia que mais cresce
em todo o mundo que é o turismo e o ecoturismo.
Neste sentido, estamos assinando aqui seis Acordos
de Cooperação Técnica com 6
governos da Amazônia para a implementação
do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia,
o ARPA. Trata-se de uma iniciativa do Governo Federal
para proteger dentro de unidades de conservação,
em dez anos, cerca de 50 milhões de hectares
de florestas na Amazônia, sendo considerada
a maior iniciativa do gênero para florestas
tropicais no planeta. Com a assinatura dos Acordos
entre o Funbio, que é nosso parceiro, e os
Estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, e Tocantins, com interveniência
do Ministério do Meio Ambiente, estamos dando
um passo importante também em relação
ao desenvolvimento regional. São 13 unidades
de conservação contempladas com recursos
garantidos por esses convênios.
Além disso, o Programa ARPA está apoiando
a criação de um Fundo de Áreas
Protegidas (FAP), cuja meta é capitalizar-se
até 240 milhões de dólares
em dez anos para garantir apoio _para sempre às
unidades de conservação do Programa.
Estamos criando este Fundo também hoje, com
a assinatura de um Contrato entre Funbio e WWF-Brasil
e a sinalização do primeiro depósito
de cerca de três milhões de reais.
Vale destacar também o Decreto assinado pelo
Presidente que estabelece a Comissão Nacional
e o Plano Nacional de Prevenção, Preparação
e Resposta Rápida a Emergências Ambientais
com Produtos Químicos Perigosos _ o P2R2.
Com este decreto, o Presidente dá inicio
à implementação de uma política
de abrangência nacional, voltada à
integração e articulação
dos esforços de órgãos governamentais
e do setor privado na atuação em situações
de emergência com produtos químicos
perigosos, minimizando ocorrências e, conseqüentemente,
danos ao meio ambiente e a saúde da população.
Outra iniciativa fundamental para o fortalecimento
de parcerias com Estados, e neste caso, também
com os municípios é a portaria que
assino para a criação de Comissões
Tripartite em 14 estados. O objetivo dessas comissões
é propor estratégias e diretrizes
para promover a gestão ambiental compartilhada
entre União, Estados e Municípios.
A Tripartite Nacional é composta por três
integrantes indicados pelo Ministério do
Meio Ambiente, três indicados pela Associação
Brasileira de Entidades de Meio Ambiente _ ABEMA
e três indicados pela Associação
Nacional de Municípios e Meio Ambiente _
ANAMMA. Nos Estados, a Comissão Tripartite
terá a função de equilibrar
a gestão ambiental nos três níveis
de governo, de maneira a promover um melhor equilíbrio
e compartilhamento de competências. Apenas
para se ter uma idéia do descompasso, segundo
pesquisa realizada pelo IBGE em 2001, apenas 22%
dos municípios brasileiros têm Conselhos
Municipais de Meio Ambiente ativos.
Esses atos completam outros que estamos assinando
e lançando nesta semana e que ilustram bem
o tema da semana: _juntos, meio ambiente e desenvolvimento
dão frutos . Vale a pena destacar a posse
que demos a 34 membros da Comissão de Política
para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda
21 Brasileira; os convênios assinados com
o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal
e o que assinaremos daqui há pouco com o
Grupo Pão de Açúcar, para a
comercialização nacional de produtos
sustentáveis de produtores familiares; assinamos
também, após um longo período
de negociação, um Acordo com o Governo
de Rondônia, que regulariza dispositivos do
Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado,
beneficiando milhares de agricultores que voltam
a ter acesso a crédito rural; ainda estaremos
anunciando nesta semana, a ampliação
do Parque Nacional da Tijuca, um incentivo para
o turismo no Rio de Janeiro, na maior floresta urbana
do país, assim como liberação
de recursos para obras de revitalização
do São Francisco em Minas; fecharemos a Semana
com medidas de apoio à conservação
biológica e pesquisa científica no
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com apoio
da Caixa Econômica e da Petrobrás.
Finalmente, Presidente, quero concluir lembrando
mais uma vez o nosso amigo Chico Mendes. Em seguida
ao assassinato de Wilson Pinheiro, depois da tantos
empates realizados para impedir as derrubadas de
floresta, que ainda prosseguiram, Chico passou a
defender que além de resistir o movimento
precisava apresentar alternativas. Foi assim que
surgiu a proposta das Reservas Extrativistas. Com
esse mesmo espírito, estamos lançando
aqui, neste ato, o edital do Prêmio Chico
Mendes. Em sua terceira edição, o
Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, instituído
pelo Ministério do Meio Ambiente, vai premiar
Liderança Individual, Associação
Comunitária, Organização Não-Governamental,
Negócios Sustentáveis, Ciência
e Tecnologia e Arte e Cultura.
De acordo com o lema desta Semana, estes serão
outros frutos a serem premiados.
Na Semana do Meio Ambiente de 2003 lançamos
a Conferência e criamos unidades de conservação.
Este ano estamos debatendo meio ambiente e desenvolvimento
apresentando medidas concretas que ilustram o diálogo
necessário e oportuno entre esses dois temas
da atualidade. Temos muitos desafios pela frente.
Mas o que nos impulsiona é a política
do exemplo que estamos apresentando aqui. É
também a divisão de protagonismo que
fortalece e torna real o nosso sonho a cada dia.
O tema da semana é: _Juntos, Meio Ambiente
e Desenvolvimento dão frutos . Mas antes
de dar frutos é preciso casar. Por isso que
o nosso querido amigo Ziraldo propôs o slogan:
_Meio Ambiente e Desenvolvimento: DÁ PRA
CASAR .
Bem vindos senhores
ao tempo deste casamento!
Muito obrigada.
Fonte: MMA – Ministério
do Meio Ambiente (www.mma.gov.br)
Ascom