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PRÊMIO
AJUDARÁ DEBATE ‘TRANQÜILO’ DA
CASA INDÍGENA, DIZ SERTANISTA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2004
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A medalha de ouro
que o sertanista brasileiro Sidney Possuelo receberá
na próxima segunda-feira, na Inglaterra,
poderá servir para ajudar a melhorar “indiretamente”,
o que ele chamou de “debate calmo e tranqüilo"
da causa indígena, "que o povo brasileiro
em geral não consegue enxergar, olhando as
condições históricas e sem
muita pressão ou emoção, principalmente
neste momento difícil, às vezes até
de violência.”
Sidney Possuelo no momento trabalha apenas com índios
ainda isolados na Amazônia, em cinco pontos
diferentes, para evitar, segundo disse, que “seja
feito um contato indiscriminado com eles”. Também
está envolvido na “preservação
de grandes áreas de floresta, tão
importantes para os indígenas e também
para o futuro da nação brasileira”.
O sertanista começou a trabalhar com os irmãos
Cláudio e Orlando Villas Boas, que já
receberam a mesma medalha da Sociedade Real Geográfica,
há 37 anos. E classifica o atual momento
de "difícil" em relação
a alguns conflitos, como o dos índios Cintas-Largas,
de Rondônia. “Os índios, à medida
que o tempo passa, vão ficando parecidos
com aqueles que fizeram contato com eles e tendo
problemas, às vezes, até de violência”,
disse Possuelo, para quem os índios integrados
– ao contrário dos isolados, que ainda vivem
da caça e pesca e andam nus – "têm
que arrumar maneiras de sobreviver na sociedade
brasileira, que não é feita por eles
ou para eles e na qual são inseridos forçosamente
e, geralmente, sem grandes opções.”
Sobre o conceito de segurança nacional para
as áreas de fronteira em que existam povos
indígenas, invocado recentemente na discussão
para a homologação da Reserva Raposa/Serra
do Sol, em Roraima, o sertanista lembrou que quando
é demarcada uma terra indígena em
área de fronteira “a propriedade é
da União e não do índio”. Explicou
que com isso evita-se inclusive que a área
seja ocupada por “narcotraficantes e contrabandistas”.
E defendeu o atendimento aos índios em saúde
e educação: "Quanto mais forem
auxiliados, mais se sentirão brasileiros".
Medalha
Desde 1830, quando
foi criada, a Sociedade Real Geográfica,
da Inglaterra, já concedeu a medalha de ouro
que será entregue a Sidney Possuelo no dia
7, a figuras famosas de todo o mundo. Em 1855, por
exemplo, foi a vez do missionário David Livingstone
que combateu o tráfico de escravos e foi
o descobridor das cataratas Vitória, na África,
onde pediu para ter seu coração enterado.
Em 1892, o naturalista inglês Alfred Russel
Wallace, que viveu quatro anos nas selvas do Pará
e Amazonas, recebeu a medalha, entregue depois,
em 1898, a Robert Peary, primeiro a chegar ao Pólo
Norte; e em 1907, a Roald Amundsen, o primeiro a
ver o Pólo Sul. Dois outros premiados têm
relação com a Amazônia brasileira:
em 1916, Percy Harrison Fawcett, que desapareceu
na Serra do Roncador; e na década de 80,
Jacques Cousteau, que navegou com o barco Calypso
pelo Rio Amazonas.
O sertanista brasileiro Sidney Possuelo tem 64 anos,
seis filhos, e hoje fica mais tempo no Vale do Javari,
no Amazonas, fronteira do Brasil com a Colômbia
e Peru, onde existem cinco áreas de povos
indígenas em isolamento.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Eduardo Mancasz