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TERRAS INDÍGENAS:
MINISTROS DA JUSTIÇA E DA DEFESA
QUEREM DEMARCAÇÃO HARMÔNICA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Março de 2004
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Os ministros da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, e da Defesa, José
Viegas Filho, patentearam sua posição
favorável à demarcação
das terras indígenas, conforme determina
a Constituição federal. Thomaz Bastos
garantiu que a reserva indígena Raposa/Serra
do Sol, em Roraima, será homologada em território
contínuo. A criação da reserva
é polêmica. Os ministros participaram
nesta quinta-feira (4) de audiência pública
na Comissão de Relações Exteriores
e Defesa Nacional (CRE), que está promovendo
uma série de audiências sobre o assunto.
Thomaz Bastos afirmou que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em cumprimento à Constituição,
pretende chegar ao fim de seu governo com todas
as terras indígenas demarcadas e homologadas.
Cada caso é um caso e os locais onde há
conflitos de terras não podem ser tratados
de modo igual, afirmou o ministro, garantindo que
ninguém será retirado de suas terras
se não houver uma solução de
consenso. No caso da reserva Raposa/Serra do Sol
foi inclusive criado um comitê de transição
em Roraima para encontrar soluções
para os conflitos em torno da demarcação,
disse, assegurando ainda que o acesso às
estradas em terras indígenas serão
garantidos a todos os brasileiros.
A demarcação de terras indígenas,
segundo o ministro, é importante por tocar
em dois valores fundamentais da Constituição:
a segurança nacional o a proteção
dos direitos das comunidades indígenas. A
seu ver, é um equívoco colocar em
campos antagônicos as necessidades de segurança
nacional e a proteção aos índios,
contraponto muito utilizado para condenar a criação
de reservas nas fronteiras do país.
- Não há incompatibilidade radical.
Nem a presença indígena deve prejudicar
a atuação das Forças Armadas
nem os índios podem ter seus direitos constitucionais
cerceados - afirmou.
Thomaz Bastos garantiu que o governo está
empenhado em construir soluções harmônicas
e que o Ministério da Justiça está
atento à necessidade de preservação
de condições de segurança na
faixa de fronteira. E deu como exemplos a adoção
de meios tecnológicos, como o Sistema de
Vigilância da Amazônia (Sivam), a intesificação
da presença do Estado e a melhor articulação
entre os órgãos do governo federal.
O ministro afirmou ainda que a atuação
das forças de segurança nas terras
indígenas deve dar-se nos "estritos
limites da Constituição, na exata
proporção em que for necessária".
O ministro frisou referir-se a comunidades e não
a nações indígenas, como forma
de destacar que os índios participam da comunhão
nacional brasileira. Ele enfatizou que os critérios
para definir terras indígenas são
usos, costumes e tradições dos próprios
índios, lembrando
que a cultura indígena também está
sujeita a mudanças.
Antero
Em entrevista após
a audiência, Thomaz Bastos afirmou que não
parece haver motivação política
no assassinato do primo do senador Antero Paes de
Barros (PSDB-MT), Luiz França de Moura Neto.
Mas contou que, de qualquer forma, o senador está
recebendo proteção policial.
Ministro
quer Forças Armadas também em terras
indígenas
Em audiência
pública nesta quinta-feira (4) na Comissão
de Relações Exteriores e Defesa Nacional
(CRE), o ministro da Defesa, José Viegas
Filho, enfatizou que os índios são
brasileiros natos e, como tais, têm direito
à proteção das Forças
Armadas. Ele disse ser de interesse do Exército
ter estreito contato com as comunidades indígenas,
especialmente nas áreas de fronteira, onde
Forças Armadas precisam estar, mesmo sendo
elas terras indígenas ou áreas de
preservação.
- Essa presença é benéfica
inclusive para os índios - afirmou, defendendo
o povoamento nas fronteiras, com aprimoramento da
vigilância nessas áreas, especialmente
nas regiões Norte e Centro-Oeste.
- É de interesse da defesa nacional que a
faixa de fronteira não se veja afetada por
vazios demográficos, especialmente em locais
onde haja território semelhante em países
vizinhos. O Estado precisa estar presente - declarou
o ministro, que se retirou da CRE antes do término
da reunião, mas comprometeu-se a retornar
à comissão na próxima quinta-feira
(11) para concluir o debate.
O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes,
que também integrou a audiência pública,
disse que, com a demarcação das terras
indígenas, o governo pretende ressarcir uma
dívida histórica. Ele destacou que
faltam apenas 30% das terras para serem demarcadas
e informou o registro de crescimento demográfico
dos índios, que hoje totalizam cerca de 410
mil.
Em resposta a observações feitas pelo
senador Jefferson Péres (PDT-AM), Mércio
Gomes afirmou que o fato de os povos indígenas
que habitam a região da reserva Raposa/Serra
do Sol (RR) falarem línguas diferentes não
denota necessariamente falta de harmonia entre eles.
E deu o exemplo da reserva do Xingu, onde os índios
vivem sem hostilidades, apesar de falarem 12 línguas
diferentes.
- Os índios brasileiros merecem as terras
que habitam. A demarcação da Raposa/Serra
do Sol será importante para a relação
do Brasil com o mundo, para os povos que lá
vivem e também para a auto-estima dos brasileiros
- disse Mércio Gomes.
Nova audiência
Foi aprovado na reunião
desta quinta requerimento do senador Mozarildo Cavalcanti
(PPS-RR) convidando para audiência pública,
em data a ser marcada, representantes do Conselho
Indígena de Roraima (CIR), da Associação
dos Povos Indígenas de Roraima (Apirr), da
Organização das Mulheres Indígenas
de Roraima (Omir) e da Organização
dos Professores Indígenas de Roraima (Opir).
Na audiência será debatida novamente
a demarcação de terras indígenas.
Posição
dos senadores sobre demarcação de
terras indígenas mostra complexidade do problema
"Não
é possível que não possamos
encontrar solução para 320 mil índios
viverem bem", disse o senador Mozarildo Cavalcanti
(PPS-RR) durante audiência pública
realizada nesta quinta-feira (4) na Comissão
de Relações Exteriores e Defesa Nacional
(CRE) para discutir a demarcação de
terras indígenas. Autor do requerimento de
audiência pública, com a presença
do ministro da Justiça Thomaz Bastos, Mozarildo
reconheceu que a demarcação é
um problema "de grande complexidade" e
defendeu uma solução de consenso.
Ele frisou que o país não pode aceitar
"soluções impostas por organizações
não governamentais (ONG) estrangeiras".
O senador Jefferson Péres (PDT-AM) posicionou-se
contrário à homologação
da Reserva Indígena Raposa/Serra do Sol,
em Roraima. O senador argumentou que há vários
povos na região e que não vivem em
harmonia. Além disso, destacou, o terreno
local não é coberto por floresta.
O senador comparou a situação da Reserva
Raposa/Serra do Sol com a Reserva Ianomâmi,
existente no Amazonas, habitada apenas por um povo
em local de mata fechada.
O senador Juvêncio da Fonseca (PDT-MS) defendeu
a indenização aos proprietários
que perderem suas terras em locais transformados
em terras indígenas. O senador lembrou ter
apresentado uma proposta de emenda constitucional
permitindo o pagamento dessas indenizações.
A atual legislação permite apenas
o ressarcimento por benfeitorias. O ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos, posicionou-se
contrariamente a essa modificação
constitucional, mas garantiu que a Fundação
Nacional do Índio (Funai) está buscando
soluções alternativas, inclusive com
o uso de recursos estrangeiros, para pagar indenizações.
O senador Sibá Machado (PT-AC) disse que
as decisões sobre demarcação
de terras indígenas precisam ser tomadas
com tranqüilidade. Ele ressaltou que, em relação
a este problema, não se pode confundir uma
situação histórica e estrutural
com crises como as que vêm ocorrendo em Roraima
e Mato Grosso do Sul. O senador acrescentou que
a questão indígena não pode
ser confundida com a reforma agrária.
O senador Marcelo Crivella (PL-RJ), manifestou sua
preocupação a respeito da extensão
das terras a serem demarcadas, lembrando que o Brasil
"precisa crescer" economicamente e para
tanto necessita de terras para agricultura.
A senadora Fátima Cleide (PT-RO) entende
que a discussão sobre a demarcação
de terras indígenas precisa abandonar idéias
preconceituosas. "Um novo tempo pede novas
idéias", disse. A senadora manifestou
sua preocupação com a presença
das Forças Armadas em áreas indígenas,
especialmente no diz respeito à violência
sexual contra mulheres da região.
O senador Augusto Botelho (PDT-RR) afirmou que a
convivência entre índios e militares
é pacífica e que as acusações
de violência são "propaganda das
ONGs para tirar as Forças Armadas das terras
indígenas". Botelho defendeu uma indenização
para as pessoas que deixarem suas terras por conta
da criação de reservas e a liberação
da passagem por estradas que cortem reservas indígenas.
Fonte: Agência Senado (www.senado.gov.br)
Assessoria de imprensa