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ONGs QUESTIONAM
PROCESSO DO PLANO BR-163 SUSTENTÁVEL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Julho de 2004
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O
processo de consulta sobre o Plano BR-163 Sustentável,
iniciado em Santarém na sexta-feira passada,
foi questionado nesse fim-de-semana por várias
entidades da sociedade civil com atuação
na região de abrangência da rodovia.
Um grupo de ONGs e movimentos sociais, incluindo
redes como GTA, FORMAD (MT) e FDA (região
de Santarém), divulgou uma carta aberta onde
se levantam preocupações sobre o processo
de preparação do Plano, que pretende
constituir um novo modelo para a realização
de obras de infra-estrutura na Amazônia. A
seguir, a íntegra da carta aberta.
Carta Aberta
sobre o Processo de Formulação do
Plano BR-163 Sustentável
2 de julho de 2004
As entidades da sociedade civil abaixo discriminadas
manifestam sua preocupação com o processo
de formulação do plano "BR-163
Sustentável", pelas três razões
a seguir descritas, e solicitam medidas urgentes
e corretivas por parte das autoridades relevantes
de governo.
1. As ações emergenciais previstas
no Plano BR-163 - em sua versão de 17 fevereiro
de 2004 - não foram sequer iniciadas. De
acordo com o cronograma anexo ao Plano, essas ações
deveriam ter sido iniciadas em fevereiro e completadas
até outubro de 2004. O documento esclarecia
que tais ações seriam claramente prévias
a qualquer ação relacionada com a
realização da obra de pavimentação
e até mesmo a definição final
do Plano. Trata-se de um conjunto de ações
nas seguintes áreas: "fortalecimento
da segurança pública e cidadania",
"ordenamento fundiário e territorial",
"monitoramento e controle ambiental" e
"fomento a atividades sustentáveis".
As questões da segurança pública
e do ordenamento fundiário constituem preocupações
particularmente graves.
2. O documento de fevereiro de 2004 previa que "o
inicio das obras será vinculado ao cumprimento
de ações e metas do Plano BR-163 Sustentável,
consideradas fundamentais para antecipar (e servirem
como “gatilho”) para a pavimentação
da rodovia Cuiabá-Santarém. As referidas
ações e metas devem constar da Licença
de Instalação concedida pelo IBAMA."
A minuta atual (denominada "documento inicial
para discussão") não está
ainda disponível para o conjunto da sociedade
e principalmente nem sequer prevê as ações
(fora as referidas emergenciais) e metas. Porém
já foram marcadas as audiências públicas
para o licenciamento ambiental da obra, o que implica
possívelmente a emissão de uma Licença
Prévia antes mesmo da definição
das ações e metas fundamentais, além
de que antes, obviamente, de sua implementação.
Como será possível vincular as obras
ao cumprimento de ações e metas do
Plano se estas não estão sequer propostas
na hora em que se discute e concede a licença
da obra?
Além disso, a referida decisão contrasta
com a metodologia explicitada no Plano do GT Interministerial
do Desmatamento, onde se estabelece que "cinco
critérios condicionantes devem ser previamente
considerados quando se planejam investimentos em
infra-estrutura sustentável", incluindo,
entre outros, "resolução da questão
fundiária" e "implementação
de atividades mitigadoras e paralelas", como
o "zoneamento ecológico-econômico
em áreas críticas, a exemplo da área
de influência da BR 163". Este documento
foi apresentado pelo Presidente da República,
com a participação de doze ministros
de estado, há menos de três meses.
Além de contrariar essas diretrizes, a inversão
de prioridade entre Plano e licenciamento ambiental
da obra pode representar um sério problema
operacional, sendo que a área de abrangência
do Plano (de aproximadamente um milhão de
km. quadrados) é aproximadamente 14 vezes
superior à área contemplada pelo EIA-RIMA,
que não passa de 70 mil km. quadrados.
3. Um dos pressupostos do plano BR-163 Sustentável
é a realização de uma consulta
ampla e informada, com mecanismos claros e transparentes
para a avaliação de sugestões
e demandas. Algumas instituições da
sociedade civil, reunidas em consórcio específico,
tomaram iniciativas preliminares importantes para
tanto. As consultas sobre o documento - e até
o momento o próprio acesso ao mesmo - têm
sido limitados a alguns convidados selecionados.
Mesmo assim, tais convidados não receberam
o documento em tempo hábil. Muitas instituições
com trabalho significativo na região de abrangência
do Plano não foram convidadas, incluindo
várias entre aquelas que assinam este documento.
Nenhuma consulta foi marcada nas capitais dos estados
que abrigam a enorme área de abrangência
do Plano, ou na capital federal.
Solicitamos respostas adequadas para as questões
acima descritas, em prazo compatível para
que um processo de tamanha importância estratégica
– e que visa constituir um precedente para outros
casos semelhantes – seja conduzido de forma consistente
com seus pressupostos. Caso contrário, será
inevitável a repetição de erros
do passado que foram adequadamente diagnosticados
nos recentes documentos governamentais.
- Frente de Defesa
da Amazônia (rede de 23 ONGs e mov. soc. da
região de Santarém)
- Amigos da Terra - Amazônia Brasileira
- Conservação Internacional - CI
- Forum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento
- FORMAD
- Greenpeace
- Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
- Imaflora
- Imazon
- Instituto Centro de Vida - ICV
- WWF - Brasil
Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)