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ÁREAS
PROTEGIDAS PODEM CONTER DESMATAMENTO NA
AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Abril de 2004
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Áreas
de primordial relevância para a conservação
da Amazônia estão desaparecendo com
o contínuo desmatamento da região
Áreas de primordial
relevância para a conservação
da Amazônia estão desaparecendo, revelou
o WWF-Brasil hoje, em meio ao anúncio do
governo federal dos percentuais de desmatamento
da região.
No leste do Pará, por exemplo, 100% de uma
área apontada pelo próprio governo
como sendo prioritária para a preservação
da variedade de espécies amazônicas,
foi tomada pelas pastagens. Em 14 áreas prioritárias
para a conservação, mais de 20% de
sua área está desmatada, sendo que
5 delas perderam metade de sua área.
Segundo os dados apresentados hoje pelo governo,
o total desmatado da Amazônia em 2002 (período
de agosto de 2001 a agosto de 2002) foi de 23.266
km2 e a estimativa para 2003 é de 23.1000
km2, tendo se estabilizado muito acima do patamar
de 2001, quando foi de 18.165 km2. O estado mais
desmatado em 2003 é Mato Grosso, com 10.416
km2, contra 7.578 km2 em 2002, e o município
mais desmatado foi São Felix do Xingu, no
Pará.
"O governo precisa agilizar imediatamente programas
para a conservação da Amazônia,
que podem triplicar o território protegido,
complementando o plano de combate ao desmatamento
da União, lançado há três
semanas", pediu Denise Hamú, Secretária
Geral do WWF-Brasil.
Além de programas de conservação,
urge a adoção de políticas
de desenvolvimento sustentável específicas
para a Amazônia.
O aumento do desmatamento coloca os riscos ao meio
ambiente num novo patamar. A inação
da administração pública na
área ambiental ameaça o equilíbrio
dos ecossistemas. O crescimento do desmatamento
tem resultado em alterações graves
em cadeia no meio ambiente, como a diminuição
do abastecimento e qualidade da água, secas,
enchentes e a presença de insetos vetores
de doenças.
Esse desequilíbrio afeta a qualidade da agricultura,
inclusive para o plantio da soja -- ironicamente,
carro-chefe da estratégia de agronegócios
mantida pelo governo Lula.
"Falta coerência entre as diferentes
estratégias do governo para o crescimento
econômico do país. Há pressa
demasiada no aumento da receita, ainda que a um
elevado custo sócioambiental", ressaltou
Hamú.
Enquanto no passado as taxas de desmatamento eram
associadas ao desempenho econômico, num ano
de estagnação, os dados do governo
apontam para uma nova e perigosa tendência.
A análise de imagens de satélite demonstra
que as pastagens e a soja começam a embrenhar-se
em áreas de descampado natural e de relevo
plano mecanizável até no coração
da Amazônia.
Em estados onde o índice de desmatamento
é notadamente pior, adota-se incentivos fiscais
para insumos utilizados na produção
de soja, sem a devida contrapartida de proteção
ambiental. Acrescenta-se a isso a redução
da área de parques estaduais existentes.
Há também negligência por parte
das autoridades estaduais quanto à expulsão
de comunidades inteiras de suas terras por grileiros,
assim como na fiscalização ambiental.
Parte da solução é a implementação
imediata de ações que incluem áreas
de proteção e locais onde o uso dos
recursos é regulamentado e sustentável.
Com US$ 81 milhões em carteira, o país
dispõe desde 2002 de um programa abrangente
para a conservação da Amazônia
do gênero: o Programa Áreas Protegidas
da Amazônia (Arpa).
Elaborado em parceria entre o governo, o Fundo Global
para o Meio Ambiente (GEF), o Banco Mundial, o Banco
de Cooperação Alemão (KfW),
o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio)
e o WWF-Brasil o programa, cuja implementação
depende muito dos órgãos ambientais
do governo, visa proteger cinco milhões de
quilômetros quadrados em toda a Amazônia,
até 2013, aumentando em três vezes
o número de áreas protegidas na região.
Contemplando a captação total de US$400
milhões, em dez anos, compilados através
de um esforço conjunto dos parceiros, o primeiro
montante serve para criar e implementar áreas
protegidas. O Arpa inclui também a aplicação
de recursos num fundo fiduciário para a manutenção
das mesmas.
No ano passado, nenhum novo parque foi criado. Tampouco
foi feito qualquer investimento para criar ou manter
parques e reservas já existentes. Pior, muitas
das áreas identificadas para fazer parte
de conjuntos de áreas protegidas têm
sido sistematicamente destruídas primariamente
pela expansão pecuária, agrícola
e madeireira.
Prestes a desaparecer, os parceiros do Arpa identificaram
florestas que necessitam proteção
urgente. Localizam-se numa região no Pará
próximo à rodovia Cuiabá-Santarém
a BR-163, conhecida como Terra do Meio. No sudeste
do estado do Amazonas estão prontas para
ser criadas: a Reserva Biológica de Abufari
(AM), a Reserva Biológica do rio Madeira
(AM), a Reserva Biológica de Manicoré
(AM) e o Parque Nacional Campos Sul do Amazonas
(AM).
"O processo de criação está
avançado e com um esforço mínimo
pode haver resultados em tempo recorde", disse
a ecóloga Rosa Lemos de Sá, Superintendente
de Conservação do WWF-Brasil. Ela
ressaltou que o Arpa serve para complementar e fomentar
o programa de combate ao desmatamento lançado
pela Ministra Marina Silva.
No plano da ministra, uma malha de áreas
protegidas, como no Arpa, formariam verdadeiras
barreiras verdes na floresta, protegendo as nascentes
de muitos rios brasileiros, que abastecem os grandes
centros urbanos do país. Contempla ainda
o zoneamento, ações contra o garimpo
e a grilagem e medidas para punir infratores do
Código Florestal.
Fonte: WWF - Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa