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DESMATAMENTO
NA AMAZÔNIA FICA NO PATAMAR DE 23
MIL KM2 EM 2003
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Abril de 2004
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Os
dados divulgados hoje (7/4) pelo Ministério
do Meio Ambiente revelam que o desmatamento da Amazônia
estimado para o ano passado é de 23.1000
km2 e demonstram a manutenção de um
patamar de desflorestamento anual, que está
muito acima das já altas médias registradas
na última década. Em 2002 foram confirmados
23.266 km2. Mato Grosso foi o que mais desmatou
- dos 7.578 km2 confirmados em 2002, o estado saltou
para 10.416 km2 estimados em 2003, um aumento de
44%.
Os números
foram divulgados com base em análises realizadas
pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Das 229 cenas que cobrem a Amazônia, o Inpe
analisou 77 - as que contém as chamadas áreas
críticas. Destas, 22 apresentam índices
de mais de 2% da área de florestas desmatadas
durante o ano de 2003 e somam 13.980 km2.
Chama a atenção que a maior parte
do desmatamento esteja concentrada em Mato Grosso.
O diretor da Fundação Estadual do
Meio Ambiente de Mato Grosso (Fema), Rodrigo Justus
admitiu, durante a reunião que o Ministério
do Meio Ambiente promoveu ontem (6/4), para discutir
o tema com ONGs, órgãos estaduais
e outros órgãos governamentais, que
dois terços do desmatamento no estado são
clandestinos, distribuídos em cerca de 42
mil áreas convertidas. "Vivemos uma
'desobediência civil'", analisou. Ele
disse também que a Fema tem apenas 13 fiscais
quando necessitaria de, no mínimo 100 funcionários.
Os dados mostram ainda que a curva do desmatamento
no estado é ascendente, contrastando com
a curva descedente registrada nos estados de Rondônia
e Pará. Também em Roraima a curva
é ascendente em relação a 2002.
Em terras indígenas, especialmente na TI
Apyterewa, o desmatamento cresceu registrando o
percentual de 57,33% em 2003. Já nas Unidades
de Conservação houve reduções.
Mato Grosso,
campeão nos desmatamentos
O Mato Grosso é
um dos três estados da Amazônia - os
outros são Acre e Rondônia - que mantém
um pacto federativo com o governo federal, onde
há definição das competências
dos órgãos estaduais de meio ambiente
e do órgão federal, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). No MT, o pacto define que o licenciamento
dos desmatamentos acima de 300 hectares são
de competência da Fema. Abaixo dos 300 hectares
é com o Ibama. Não define, entretanto,
quem é o responsável pelos desmatamentos
clandestinos (que chegaram a 8 mil hectares em uma
única propriedade). Não há
uma estratégia comum estabelecida entre o
Ibama e a Fema para fiscalizar os desmatamentos,
o que dilui a responsabilidade e enseja o que os
especialistas em direito ambiental chamam de "incompetência"
concorrente.
O presidente da Fema e também secretário
estadual do Meio Ambiente, Moacir Pires de Miranda,
em entrevista publicada hoje (7/4) pela Folha Online,
esquiva-se da responsabilidade ao dizer que o desmatamento
é responsabilidade da falta de política
federal para a Amazônia. Isso faz lembrar
a discussão havida certa vez no Rio de Janeiro,
sobre a epidemia de dengue, na qual o governador
Anthony Garotinho dizia que o mosquito era do Presidente
FHC.
Vale lembrar que a Fema mantém em implantação
um sistema de monitoramento e licenciamento ambiental
pelo qual é possível identificar por
meio de imagens de satélite cada propriedade
onde tenha havido desmatamento clandestino. Mato
Grosso já gastou mais de US$ 25 milhões
com seu Zoneamento Ecoólogico-Econômico
(ZEE) que, supostamente, de acordo com as autoridades
ambientais federais e do próprio estado,
seria a solução para os impasses sobre
as áreas a serem objeto de conservação
e agropecuária nas propriedades rurais. Só
que depois de anos de trabalho e pronto para ser
publicado, o governador Blairo Maggi suspendeu a
divulgação do ZEE do estado e pediu
aprimoramentos. Em face dos dados agora divulgados,
que colocam o estado como campeão nos desmatamentos
na Amazônia, esses "aprimoramentos"
deverão merecer especial atenção
da sociedade brasileira.
O plano de
combate do governo federal
A divulgação
dos números pelo Ministério do Meio
Ambiente acontece menos de um mês depois de
o governo federal anunciar o Plano Combate ao Desmatamento.
É a primeira vez que o governo divulga um
planejamento para cuidar do tema, articulando ações
de diversos ministérios, incluindo o Ministério
da Agricultura e Pecuária. Trata-se de programa
ambicioso, que aponta soluções para
os principais problemas estruturais associados ao
desmatamento, como a grilagem de terras públicas.
Sua implementação vai depender de
um esforço de articulação que
está a cargo da Casa Civil da Presidência
da República, e que deverá considerar
a necessidade de maior interação com
os órgãos estaduais de meio ambiente.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa