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POVOS INDÍGENAS:
DESRESPEITO HISTÓRICO À CULTURA
É GRANDE CAUSA DE CONFLITOS
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) – Brasil
Março de 2004
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O relatório
da Caravana Nacional de Direitos Humanos, feito
em diversas comunidades indígenas do país,
aponta que todos os conflitos são originados
na falta de respeito histórico à cultura
e às terras habitadas ancestralmente pelos
povos indígenas. A comissão realizou
visitas nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul (Centro de Brasil), Rondônia, Roraima
(Norte), Pernambuco, Bahia (Nordeste) e Santa Catarina
(Sul), de 7 a 17 de outubro do ano passado. O documento
foi entregue, na última terça-feira,
dia 09, ao Ministério da Justiça.
Dentre alguns pontos importantes, se destaca o fato
de que os índios continuam sendo dizimados,
da mesma forma que acontecia no período da
colonização brasileira. O relatório
cita como exemplo o caso do povo Cinta Larga, em
Rondônia, que foi contactado apenas no início
dos anos 70 e já teve exterminado cerca de
5.000 nativos, restando, atualmente, apenas 1.400.
A comissão – formada por vários deputados
– ouviu denúncias de que hospitais e postos
de saúde, que recebem verba regular da Funasa
(Fundação Nacional de Saúde)
para atendimento diferenciado às populações
indígenas, não utilizam o dinheiro
para essa finalidade. Os parlamentares ressaltaram
ainda o problema da educação. "Além
do ensino regular, uma grande carência é
o ensino técnico. Algumas aldeias contam
com escolas indígenas, mas sofrem com a falta
de material escolar específico para as diversas
culturas"
De acordo com o levantamento feito pela Comissão,
o preconceito é o principal fator que termina
motivando os conflitos agrários. Muitos fazendeiros
chegam a questionar o tamanho das terras indígenas
em comparação com o baixo número
de indígenas que a habitam. Os fazendeiros,
em geral homens brancos, entendem que as terras
devem ser utilizadas na monocultura de produtos
agrícolas de exportação, atividades
de mineração e garimpo, extração
de madeira, entre outros. Em contra-partida, os
indígenas querem utilizar as terras à
sua maneira, através da caça, minério,
pesca e plantio, o que reforça, para latifundiários,
a idéia pejorativa de que os indígenas
são preguiçosos.
"Em todas as aldeias, as etnias afirmaram que
o índio quer, sim, trabalhar, mas à
sua maneira. Para tanto, precisam das condições
necessárias: terra, educação
e saúde como políticas diferenciadas.
Os caciques renegam a figura do "bom selvagem",
do índio inocente e despido de interesses
materiais. Ao contrário, eles querem o desenvolvimento
para suas comunidades, querem aumentar a renda disponível,
não querem ser apenas "um exército
para cuidar das matas". Entretanto, faz-se
necessário que tais iniciativas sejam possíveis
em um contexto de preservação de suas
identidades culturais", ressalta o relatório.
O relatório aponta ainda que o povo indígena
já desenvolve seus próprios interesses
de mercado. Em comunidades como a Roosevelt, em
Rondônia, e Raposa Serra do Sol, em Roraima,
estão sendo desenvolvidas as atividades da
garimpagem e da pecuária com um resultado
comercial satisfatório, uma vez que os produtos
são comercializados para os mercados não-índios,
gerando recursos para as comunidades.
O que a Comissão procura mostrar é
que os indígenas estão sabendo gerir
suas próprias riquezas naturais. "O
que os índios Makuxi (Roraima) aprenderam,
e os Cinta-Larga (Rondônia) estão aprendendo
é que a exploração de seus
recursos naturais deve se dar de forma que preserve
a identidade cultural de seu povo. Mesmo (e principalmente)
quando isso signifique não explorar os recursos
tão intensivamente quanto faz o homem branco".
Embora muitos não-índios afirmem que
as igrejas e a Fundação Nacional do
Índio (Funai) "submetam o indígena
a uma visão paternalista e culturalmente
escravizante", também prevalece a questão
do desenvolvimento, defendida pelos mesmos não-índios,
mas que não inclui no processo o direito
à terra. "Foi o que se pôde perceber
no Mato Grosso: os fazendeiros ofereceram a "parceria
agrícola", mas desde que os indígenas
abrissem mão da demarcação
e homologação de suas terras",
descreve o relatório.
Discriminação
A comissão
constata uma deliberada tentativa de jogar a população
não-índia contra a comunidade indígena.
Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, muitos se dizem
"amigos" e "irmãos" dos
índios, mas regra geral não se procura
conhecer sua língua, seus costumes, visitar
suas aldeias. Quando o conflito se acirra, espalham-se
notícias de que os índios são
"matadores" e "estupradores".
Nesses momentos, raramente a população
indígena tem a oportunidade de se defender.
Em algumas comunidades, como no caso dos Cinta Larga,
comerciantes cobram mais caro pelas mercadorias
e até o Poder Judiciário determina
pagamentos maiores para os indígenas. O pagamento
de uma fiança para um índio chega
ao valor de R$ 10 mil reais pelo crime de porte
ilegal de arma, enquanto a fiança é
cinco vezes menor para os não-índios,
presos pelo mesmo crime.
"Invariavelmente, considerando os crimes decorrentes
do conflito, em todos os Estados visitados há
mais índios que não-índios
presos. Ao mesmo tempo, morrem muito mais índios
que não-índios em decorrência
do conflito. Em Roraima há 30 índios
presos, enquanto não há ninguém
preso por crimes contra os índios. Nos últimos
25 anos, 25 índios foram assassinados por
não-índios", diz o relatório.
O relatório avalia ainda a questão
do tratamento da mulher nas comunidades indígenas,
a participação das igrejas e das entidades
oficiais como a Funai e organizações
não governamentais de defesa do índio,
saúde, meio ambiente, segurança.
Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa
Adital (Agência de Informação
Frei Tito para a América Latina) (www.adital.org.br)
Assessoria de imprensa