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O PAPEL
DAS ÁREAS PROTEGIDAS EM DESTAQUE
NA 7ª CONFERÊNCIA DAS PARTES
(CDB)
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2004
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A sétima
conferência dos países signatários
de um dos mais importantes acordos derivados da
Rio-92 teve início ontem (9/2) e estende
até 20/2, em Kuala Lumpur, capital da Malásia.
Henry Novion e Fernando Baptista, do Programa de
Política e Direito Sociambiental (PPDS) do
Instituto Sociambiental (ISA), acompanham o evento
como observadores.
"Não atingimos os objetivos da convenção",
afirmou ontem (9/2) Klaus Toepfer, diretor executivo
do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma), na cerimônia de abertura
da 7ª Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB). A Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB), um dos
principais acordos derivados da Rio-92, tem como
principais objetivos a conservação
e uso sustentável da biodiversidade, assim
como a repartição justa e equitativa
dos benefícios derivados do uso de recursos
genéticos.
Ironicamente, a conferência que marca os dez
anos da ratificação do acordo está
sendo abrigada por um país que não
apenas explora pesadamente e predatoriamente sua
floresta tropical, como exporta grandes madeireiras
para outras regiões do globo, entre as quais
a Amazônia brasileira. Na última quinta-feira
(5/2), uma coalizão de organizações
norte-americanas encaminhou uma carta ao governo
dos Estados Unidos solicitando o estabelecimento
de sanções comerciais à Malásia,
devido à comercialização de
espécies ameaçadas de extinção
exploradas ilegalmente na Indonésia.
O papel das áreas protegidas na preservação
da biodiversidade, a cooperação e
transferência tecnológica, a adoção
de um regime internacional de repartição
de benefícios e a implementação
de mecanismos para redução significativa
da perda de biodiversidade até 2010 são
outros assuntos prioritários da 7ª Conferência
das Partes da CDB. Tratando de 29 temas distintos,
contemplados em 38 documentos oficiais de negociação,
e reunindo cerca de 2 mil participantes, a COP-7
é a maior já realizada.
Em relação ao papel das áreas
protegidas na preservação da biodiversidade,
as delegações dos 188 países
signatários da CDB discutirão o conteúdo
de um programa de trabalho que objetiva a criação
de sistemas nacionais ou regionais de áreas
protegidas terrestres até 2010 e de sistemas
para áreas marinhas até 2012.
Aprovado na 9ª reunião do SBSTTA (grupo
subsidiário de aconselhamento científico,
técnico e tecnológico da CDB), realizada
em novembro do ano passado, em Montreal, no Canadá,
o documento envolve objetivos e metas em relação
ao planejamento, seleção, estabelecimento,
fortalecimento e manejo de sistemas de áreas
protegidas; governança, participação,
equidade e repartição de benefícios;
atividades capacitadoras e padrões, avaliações
e monitoramento do programa de trabalho para áreas
protegidas.
Intenções
do governo brasileiro
O goveno brasileiro
apresentará na COP-7 um protocolo de intenções
em relação à implementação
do programa de trabalho no país. O protocolo
representa o primeiro compromisso do governo com
a sociedade civil para a elaboração
de uma agenda comum de trabalho visando a consolidação
de um sistema de áreas protegidas efetivamente
manejado e representativo da biodiversidade nacional
até 2010. O processo de mobilização
desta agenda foi iniciado no dia 26/1, quando a
Divisão de Áreas Protegidas da Secretaria
de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente realizou uma reunião com
membros de órgãos governamentais como
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e Fundação
Nacional do Índio (Funai), de organizações
indígenas, entre as quais Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), e de ONGs
ambientalistas, tais como Instituto Socioambiental
(ISA), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(IPAM) e WWF-Brasil.
Polêmicas
em torno do acesso e repartição de
benefícios
A Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +
10), realizada em 2002, deu à CDB o mandato
de desenvolver e implementar um regime internacional
de repartição de benefícios
derivados do uso de recursos genéticos. A
questão foi discutida em diversas reuniões
no ano passado. No início de dezembro, o
Grupo de Trabalho (GT) sobre Acesso e Repartição
de Benefícios da CDB reuniu-se e elaborou
um polêmico relatório, recheado de
propostas não consensuais, que deverá
ser aprovado em plenária na COP-7.
De um lado, os países megadiversos, provedores
de recursos genéticos, entre os quais o Brasil,
defendendo que o regime seja vinculante, ou seja,
que suas disposições possam ser cobradas
internacionalmente; do outro, os países desenvolvidos,
detentores de biotecnologia, preferindo um regime
voluntário, que possibilite o acesso aos
recursos genéticos de forma mais barata e
rápida possível.
Outro ponto polêmico a ser debatido é
a recomendação para que “sejam criadas
condições para facilitar o acesso
aos recursos genéticos”, defendido pelos
países consumidores de recursos genéticos.
Além do termo de intenção,
outra inovação da participação
brasileira foi a inclusão entre os integrantes
da delegação oficial de dois representantes
da sociedade civil - a advogada Lúcia Fernanda
Jófej Kaingang, diretora-executiva do Instituto
Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual
(INBRAPI), e o biólogo Carlos Durigan, diretor
da Fundação Vitória Amazônica
(FVA) e representante do Fórum Brasileiro
de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento.
E o prêmio
vai para...
Para dar às
sisudas e muitas vezes difíceis negociações
das COPs um tempero divertido, várias ONGs
instituíram “prêmios” para países
e instituições que colaboram e não
colaboram com os objetivos da Convenção
sobre Diversidade Biológica.
No dia 13/2, serão anunciados os vencedores
do Prêmio Capitão Gancho de Biopirataria,
patrocinado pela Coalizão Contra Biopirataria,
grupo de instituições responsável
por denunciar que, apesar dos dez anos da CDB, ainda
não houve uma redução significativa
da biopirataria e que a repartição
de benefícios ainda é uma incógnita.
O prêmio conta com diversas modalidades, tais
como pior convenção internacional,
já concedido à Organização
Mundial do Comércio (OMC); pior empresa ofensiva,
dado à Monsanto; mais perigoso, ganho pelo
Escritório de Patentes do Estados Unidos;
e melhor defesa dos povos, prêmio ganho pela
COMPITCH e as organizações dos povos
indígenas de Chiapas por uma ação
contra o governo norte-americano.
O Greenpeace, por sua vez, instituiu o Prêmio
Motoserra de Ouro destinado ao país que mais
atrapalha o avanço das negociações
relativas às florestas. Na COP passada, realizada
em Haia, em abril de 2002, o Brasil teve a “honra”
de ganhar tal “prêmio”, merecido por ter tão
obstinadamente, complicado as negociações
do Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Florestal.
Esperamos que neste ano essa "honra" seja
cedida a um outro país.
Fonte: ISA-Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)