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PF DIZ QUE
ÍNDIOS SÃO USADOS PELO TRÁFICO
NA CAÇA DE ANIMAIS SILVESTRES
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Maio de 2004
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O delegado Jorge
Pontes, chefe da Divisão de Repressão
a Crimes Contra o Meio Ambiente e o Patrimônio
Histórico (DMAPH), disse hoje que um grupo
de pessoas presas temporariamente pela Polícia
Federal afirma que há índios viciados
na atividade de caçar para vender partes
de animais silvestres para confecção
de artesanato. Pontes é o coordenador da
"Operação Pindorama" da
PF, que investiga casos de envolvimento de quadrilhas
com o contrabando desses animais.
Pontes disse que a PF está de posse de um
extrato bancário que comprova o pagamento
referente à atividade na conta de um índio,
cuja etnia não foi divulgada. De acordo com
o delegado, os índios, no entanto, são
os fornecedores primários e os que menos
ganham com a comercialização.
“Viciaram os índios nesta prática
de caçar e abater os animais e esse é
um comércio voraz, principalmente no exterior.
Os índios podem matar os animais para se
vestir, para os seus rituais. Do que matam para
comer, podem vender o artesanato. Mas há
um interesse de comerciantes estrangeiros. A idéia
era permitir que eles fizessem artesanato das sobras
de animais, quando, na verdade, não está
acontecendo isto. Os índios estão
abatendo os animais para exportar. Isso é
um contrabando. Adotamos uma postura de não
reprimir das mãos do índio. Nós
reprimimos da mão dos comerciantes”, esclareceu
Pontes em entrevista coletiva na sede da Polícia
Federal, em Brasília.
Foram presas onze pessoas de uma mesma quadrilha,
além de um estrangeiro fora do país,
representando apenas uma parcela da rede de contrabando,
que liga Estados Unidos e Europa ao Brasil. No exterior,
as peças chegam a ser vendidas a US$ 3,5
mil. No Brasil, o valor varia entre R$ 30 e R$ 600.
Entre os presos, sete são funcionários
da Fundação Nacional do Índio
(Funai). Segundo o delegado Pontes, os servidores
corrompiam os índios e os convenciam a caçar
animais silvestres em suas terras.
“Chegou ao ponto de, nos Estados Unidos ou na Europa,
um sujeito mandar um fax para um comerciante no
Brasil, que parece uma lista compras de supermercado:
'quero dentes de onça, unhas de tatu, dentes
de macaco, penas de arara'. Todos os animais protegidos,
raros e caros da fauna silvestre, para que fossem
encaminhados por sedex para o exterior, utilizando
os serviços do correio para fazer contrabando”,
afirmou o delegado.
Os servidores foram indiciados por contrabando,
formação de quadrilha, corrupção
e receptação. Mais de mil peças
foram apreendidas e estão sendo encaminhadas
para análise. Penas de araras, dentes de
onça, pele de gatos selvagens estão
sendo contrabandeados, além de peças
de outros animais também ameaçados
de extinção. A loja "Artíndia",
que pertence à Funai, também está
sendo investigada como ponte para o comércio
ilegal de pedaços de animais.
“A PF desenvolveu a Operação Pindorama
há pouco mais de um ano porque descobriu
que o comércio de artesanato indígena
no Brasil, principalmente o que acontece dentro
da Funai e de uma loja chamada Artíndia,
estava saindo do país como contrabando, e
os comerciantes estrangeiros estavam usando como
intermediários estes comerciantes, tanto
privados como da Artíndia, fazendo com que
os índios fossem à mata e abatessem
animais simplesmente destinados ao comércio
internacional, saindo do país na condição
de mercadoria proibida”, explica Pontes.
A Operação Pindorama realizou prisões
em Rondônia, Mato Grosso, Pará, Amapá
e Goiás, além de buscas em São
Paulo e Brasília. A DMAPH solicitou diligências
da PF nos estados do Acre, Roraima e Bahia e está
em contato com a Interpol – Organização
de Polícia Criminal Internacional – para
troca de informação nas investigações.
“A idéia é que esta questão
seja resolvida administrativamente, mas há
também a situação penal, porque
algumas destas pessoas são servidores públicos
e têm recebido depósitos, inclusive
do exterior, direto na sua conta corrente”, disse.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Keite Camacho