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CHEIA NO
PANTANAL SUL É UMA DAS MENORES JÁ
REGISTRADAS NOS ÚLTIMOS 31 ANOS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Julho de 2004
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A cheia desse ano
no Pantanal Sul entra para a história como
sendo uma das menores já registradas nos
últimos 31 anos. Levantamento da Embrapa
Pantanal (Corumbá, MS) – unidade da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), que há dez anos acompanha
as cheias na região, demonstram que o pico
máximo atingido pelo Rio Paraguai neste ano
ficou na marca de 4,26 metros. A medição
é feita na centenária régua
instalada no município de Ladário
(MS), localizada no Serviço de Sinalização
Náutica do Oeste do 6º Distrito Naval
da Marinha do Brasil, que detém registros
sobre as cheias desde de 1900.
Com exceção dos anos de 1994 e 2001,
desde 1974 não ocorria uma cheia tão
pequena no Rio Paraguai como a registrada neste
ano. Em 1994, o pico máximo ficou em 3,94
metros e, em 2001, um pouco menor, estabelecendo-se
na marca de 3,15 metros. No ano passado, o Rio Paraguai
chegou à altura de 5,18 metros, um nível
de cheia considerada normal para a região.
De modo geral, desde os anos de 1997 e 1998, as
cheias têm sido pequenas, com altura máxima
ficando em torno de 4,60m no Rio Paraguai, em Ladário
(MS).
A ocorrência de uma cheia pequena neste ano
no Pantanal Sul, provavelmente causou surpresa em
muitas pessoas, avalia o pesquisador da Embrapa
Pantanal, o hidrólogo Sérgio Galdino,
levando em conta o fato de terem sido noticiadas
pela imprensa nacional grandes cheias, ao norte
e nordeste do Pantanal, nos rios Cuiabá (Santo
Antônio do Leverger) e Vermelho, afluente
do Rio São Lourenço (Rondonópolis),
ambos no Estado do Mato Grosso. "Como estes
rios deságuam no Rio Paraguai, principal
dreno coletor do Pantanal e, este corta o Estado
de Mato Grosso do Sul, criou-se expectativa de uma
grande cheia no Pantanal Sul".
Galdino explica que as grandes cheias registradas
no Estado de Mato Grosso foram resultado da ação
de chuvas pesadas por um curto período, que
caíram sobre áreas relativamente pequenas,
quando comparadas ao tamanho da bacia pantaneira.
"As grandes cheias no Pantanal estão
relacionadas à ocorrência de chuvas
mais contínuas, de dois ou mais meses, sobre
extensas áreas da bacia pantaneira",
ressalta o pesquisador.
A possibilidade de uma grande cheia levou pecuaristas
com fazendas às margens do Rio Paraguai,
em especial do Nabileque, e a Defesa Civil de Corumbá
(MS) a solicitarem à Embrapa Pantanal previsões
sobre a cheia desse ano. A preocupação
geral, segundo Galdino, era de que a cheia de 2004,
fosse maior que a do ano anterior. Neste caso, a
Defesa Civil, possivelmente teria que remover os
ribeirinhos das áreas mais sujeitas à
inundação e os pecuaristas teriam
que deslocar o gado das partes mais baixas para
áreas mais secas.
Apesar de ser uma das menores cheias dos últimos
31 anos no Pantanal Sul, o pesquisador acredita
que essa cheia não deverá prejudicar
a navegação, e as atividades que dela
dependem, como o transporte de cargas e o turismo.
A atividade socioeconômica mais beneficiada
deverá ser a pecuária bovina praticada
nas áreas próximas ao Rio Paraguai.
"Nessas áreas, os solos mais férteis,
e a boa disponibilidade de água, favorecem
o desenvolvimento das pastagens nativas, que é
a principal fonte de alimento dos animais".
Por outro lado, a ocorrência de uma cheia
pequena é desfavorável à produção
pesqueira. Sabe-se que a produção
de peixes em ambientes inundáveis como o
Pantanal é dependente da altura e tempo de
permanência da inundação. "Cheias
grandes e de longa duração significam
maior produção pesqueira, pois são
nos ambientes inundados durante a cheia, que os
peixes adultos encontram alimento para o seu crescimento
e reposição dos gastos com a piracema
e a reprodução e os peixes jovens
encontram abrigo e alimento para sua sobrevivência
e crescimento", avalia a pesquisadora da Embrapa
Pantanal, Emiko Kawakami de Resende.
Referenciais
O pico da cheia no
Rio Paraguai, em Ladário (MS), constitui-se
num dos principais referenciais de seca ou cheia
no Pantanal. O hidrólogo Sérgio Galdino
explica que, quando o nível máximo
anual na régua centenária (1900 a
2004) da Marinha do Brasil fica abaixo de 4 metros,
como ocorreu em 2001, com apenas 3,15 metros, o
ano é considerado como sendo de seca no Pantanal.
Por outro lado, se o pico da cheia for igual ou
superior a 4 metros, o ano pode ser considerado
como sendo de cheia no Pantanal.
Como o pico da cheia de 2004, ficou compreendido
entre 4 a 5 metros, este ano é de cheia pequena.
Quando o nível máximo anual fica compreendido
entre 5 e 6 metros, como ocorreu no ano passado,
com 5,18 metros, o ano é de cheia normal.
Acima de 6 metros, o ano é de cheia grande
ou "super-cheia". A última vez
que ocorreu "super-cheia" no Pantanal
foi em 1995, quando a régua de Ladário
registrou a sua terceira maior marca do século
passado, que foi de 6,56 metros. A maior cheia que
se tem registro no Pantanal, ocorreu em 1988, com
a marca histórica de 6,64 metros.
Fonte: Embrapa (www.embrapa.gov.br)
Denise Justino da Silva