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INVESTIMENTOS
DE PESO PELO ENFRAQUECIMENTO DO LICENCIAMENTO
AMBIENTAL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2004
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Nos últimos
meses, o Ibama tem sido responsabilizado por “travar
o crescimento econômico” do Brasil. Entraves,
problemas, obstáculos são alguns dos
nomes adotados para se referir ao licenciamento
ambiental, processo exigido para obras de infra-estrutura.
Ainda que melhorias e ajustes devam se feitos pelo
governo, a campanha do setor privado, aproveitando-se
da crise econômica e política, gerou
distorções na grande imprensa sobre
um dos poucos instrumentos previstos na Lei da Política
Nacional de Meio Ambiente em andamento no país.
Em outubro do ano passado, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) negou licença ambiental para a construção
da Usina Hidrelétrica de Tijuco Alto, no
Rio Ribeira de Iguape (SP), obra de interesse de
um dos maiores empresários do país,
Antônio Ermírio de Moraes.
Ainda no ano passado, o consórcio Gesai,
do qual faz parte o Grupo Votorantim, de Antônio
Ermírio de Moraes, anunciou a desistência
da construção da Usina Hidrelétrica
Santa Isabel (TO/PA), no Rio Araguaia, devido a
“problemas em obter o licenciamento ambiental”.
Comenta-se que a desistência, na verdade,
foi provocada por problemas relacionados ao financiamento
da obra.
Coincidência ou não, desde então,
porta-vozes de grandes empresários, particularmente
o presidente da Associação Brasileira
da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib),
José Augusto Marques, contam com um espaço
generoso na grande imprensa para denunciar os supostos
entraves impostos pela área ambiental do
governo à implementação de
um conjunto importante de obras de infra-estrutura,
que poderia ajudar a desencadear o tão esperado
espetáculo de crescimento econômico
do país.
Na tentativa de superar o embate e estabelecer um
diálogo com o setor, Cláudio Langone,
secretário-executivo do Ministério
do Meio Ambiente, e Nilvo Silva, diretor de Licenciamento
e Qualidade Ambiental do Ibama, reuniram-se nesta
segunda-feira (5/4), em São Paulo, com representantes
da Abdib. Em discussão, o processo de licenciamento
ambiental – procedimento administrativo exigido
para projetos de empreendimentos e atividades potencialmente
degradadoras do meio ambiente, entre as quais extração
de minerais, indústria química, atividades
agropecuárias e obras de infra-estrutura
-, previsto pela Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei 6938/1981) e pela Constituição
Federal de 1988 e regulamentado pelas Resoluções
001/86 e 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama).
Nilvo Silva, que definiu a campanha dos empresários
como uma “tentativa de constranger a aplicação
da lei ambiental”, fez questão de esclarecer
que, “apesar da ocorrência de duas greves
no Ibama, a Diretoria de Licenciamento e Qualidade
Ambiental (Diliq) - responsável pelo licenciamento
das grandes obras de infra-estrutura - concedeu
145 licenças em 2003, número próximo
à média anual de 150”. Segundo ele,
houve uma redução de pedidos de licenciamento
no ano passado em relação a 2002 e
não foi apresentado nenhum novo pedido de
licenciamento ambiental de hidrelétrica [cujos
projetos correspondem a boa parte das reclamações
dos empresários], resultado das mudanças
aguardadas para o setor elétrico.
No momento, estão sob análise da Diliq
projetos de construção de 14 hidrelétricas,
que correspondem a 3 mil megawatts (MW), entre as
quais a Usina Hidrelétrica Estreito (TO),
de 1 mil MW, casos considerados mais delicados,
concedidos pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) na época
do apagão.
Bê
a bá do licenciamento
O licenciamento ambiental
envolve a licença prévia, concedida
na fase de planejamento do empreendimento ou atividade,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo
os requisitos básicos e condicionantes a
serem atendidos nas próximas fases; a licença
de instalação, que autoriza a instalação
do empreendimento ou atividade de acordo com as
especificações dos planos, programas
e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle
ambiental e outras condicionantes; e a licença
de operação, que autoriza a operação
da atividade ou empreendimento após a verificação
do efetivo cumprimento das licenças anteriores.
A licença prévia exige a elaboração
de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – diagnóstico
do meio físico, biológico e socioeconômico,
análise dos impactos ambientais e de suas
alternativas, definição de medidas
mitigadoras e elaboração do programa
de acompanhamento e monitoramento dos impactos -,
e a realização de audiências
públicas em alguns casos – sendo esse o único
processo que permite a manifestação
da sociedade sobre um empreendimento.
Os custos desse processo, que não ficam abaixo
de R$ 100 mil para grandes obras de infra-estrutura
[gasto proporcional à cobrança de
uma taxa básica e ao tempo de trabalho dos
técnicos envolvidos na análise do
processo], são do empreendedor, e o prazo
estipulado, passível de alterações,
é de um ano.
EIAs inconsistentes
Sem desconsiderar as limitações enfrentadas
pela Diliq, que contava com 10 funcionários
em 2002, hoje, com 71, e perspectiva de nova ampliação
ainda neste ano [leia mais abaixo], Langone, apontou
que o órgão ambiental recebia muitos
Estudos de Impacto Ambiental inconsistentes, o que
resultava, segundo ele, num círculo vicioso
de pedidos de complementações e questionamentos
por parte do Ministério Público (MP),
com processos chegando a tramitar por mais de uma
década.
Durante discurso na semana passada, a ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que cerca de
50% dos investimentos que dizem estar paralisados
por problemas ambientais estão na verdade
parados por ações do MP. “O MP não
faz isso porque quer perseguir ninguém, faz
porque de fato não houve cumprimento da legislação.”
“Acho que ainda não está claro que
o meio ambiente é um bem de todos, garantido
pela Constituição Federal, e que o
interesse público tem que estar acima do
privado”, afirmou Ubiracy Araújo, ex-procurador
geral do Ibama e um dos coordenadores do Instituto
Brasileiro de Advocacia Pública (Ibap), apontando
que uma das deficiências mais comuns são
estudos que não contemplam todas as alternativas
tecnológicas e de localização.
Araújo disse que, se os proponentes cumprissem
com fidelidade o termo de referência – documento
elaborado pelo órgão ambiental com
orientações para a elaboração
dos EIAs -, muitos problemas seriam evitados. De
qualquer maneira, a partir de agora, o Ibama devolve
EIAs que não consideram o que foi estabelecido
no termo de referência antes de começar
a analisá-los. Foi o caso do projeto da Usina
Hidrelétrica Santa Isabel.
Apesar da notória inconsistência de
EIA-RIMAs, os empresários têm razão
quando reclamam do tempo e dinheiro investido em
uma obra. Hoje, um empreendimento é licitado
considerando-se apenas sua viabilidade técnica
e econômica. A viabilidade socioambiental
é avaliada posteriormente, durante o processo
de licenciamento ambiental, e é aí
que reside a raiz do problema.
Falta de
planejamento: a raiz do problema
“A palavra de ordem
é planejamento. A gente tem de lembrar que
as grandes obras de infra-estrutura fazem parte
de um planejamento governamental, definido na aprovação
do Plano Plurianual (PPA), coisas bem anteriores
ao desenvolvimento de um projeto. Então,
a variável ambiental tem de entrar nessa
fase”, afirmou Denise Nicolaidis, que estuda o tema
no mestrado em Gestão Econômica pela
Universidade de Brasília (UnB), referindo-se
à necessidade do país adotar a avaliação
de impacto ambiental (AIA) para políticas,
planos e programas – um instrumento previsto pela
lei de Política Nacional de Meio Ambiente
ainda sem regulamentação.
Denise ressaltou, entretanto, que a avaliação
de impacto ambiental não substitui o licenciamento
ambiental, segundo ela, uma confusão recorrente.
“São dois instrumentos distintos; o licenciamento,
a partir do EIA, busca informações
mais detalhadas, avalia impactos pontuais de projetos,
e a AIA é algo estratégico.”
Para Silva, o licenciamento ambiental de obras de
infra-estrutura não irá melhorar se
não tratarmos do planejamento do país.
Segundo ele, hoje o custo da obra acaba sendo maior
ou até mesmo inviável após
o licenciamento ambiental, porque todos impactos,
até mesmo os que não são ambientais,
incidem sobre ele.
“O planejamento é o grande desafio que temos
hoje. Não é tradição
do setor ambiental do governo pensar estrategicamente.
Temos de construir essa capacidade técnica.”
Com uma honestidade rara entre representantes do
poder público, Silva apresentou a proposta
de transversalidade como algo a ser confrontado
não só pelo governo como um todo,
mas também pelo Ministério do Meio
Ambiente.
“Quanto mais planejamento e diretrizes gerais por
região adotarmos, como, por exemplo, Zoneamento
Econômico-Ecológico (ZEE), mais simples
e mais seguro será o processo de tomada de
decisão em relação a empreendimentos
pontuais. O Brasil possui uma legislação
forte, um Estado razoavelmente capacitado – apesar
da diminuição provocada pelo neoliberalismo
-, mas tem baixa incorporação da dimensão
ambiental no desenvolvimento das estratégias
de desenvolvimento”, afirmou Lagone, que também
defendeu a necessidade de que sejam adotados outros
instrumentos de gestão e planejamento ambiental.
“É justamente esse processo que estamos iniciando.”
Luz para
a agenda bilateral do MME e MMA
O secretário-executivo
do Ministério do Meio Ambiente referiu-se
ao termo de cooperação técnica
assinado pelas ministras Marina Silva (Meio Ambiente/MMA)
e Dilma Rousseff (Minas e Energia/MME) na última
terça-feira (30/3), parte de uma extensa
agenda bilateral que o MMA pretende desenvolver
com todos os ministérios vinculados a infra-estrutura.
A agenda bilateral com o MME foi priorizada, devido
à sanção pelo presidente Lula
no dia 16/3 do novo modelo do setor elétrico,
que prevê adoção do licenciamento
ambiental como pré-condição
para a licitação de empreendimentos.
O acordo de cooperação técnica,
de 40 meses, inclui a implementação
de uma agenda ambiental para os setores de energia
elétrica, petróleo, gás natural,
combustíveis renováveis e atividades
minerárias e tem entre seus objetivos avaliar
e buscar alternativas para a redução
do passivo socioambiental de empreendimentos, aprimorar
o processo de licenciamento ambiental do setor elétrico,
assegurar que a expansão da oferta energética
se dê em condições ambientalmente
sustentáveis e socialmente justas e promover
a capacitação e fortalecimento das
entidades envolvidas no licenciamento ambiental.
O trabalho conjunto dos dois ministérios
foi considerado “uma ação exemplar
do governo para ajudar a atrair investimentos à
infra-estrutura no Brasil” pela Abdib. Sobre licenciamento
prévio às licitações,
a associação comentou: “Isso evitará
que investidores apostem em projetos que tenham
graves restrições ambientais”.
Silva adiantou que deve ser considerado um período
de ajuste para a adoção do novo modelo
do setor elétrico, uma vez que ainda serão
definidos os procedimentos e mecanismos para que
seja implementado.
Para o Grupo de Trabalho (GT) Energia do Fórum
Brasileiro de Organizações Não-Governamentais
para o Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente (FBOMS), a recondução do
papel do Estado como agente do planejamento estratégico
e definição de diretrizes e objetivos
no médio e longo prazo é um ponto
positivo do novo modelo.
O GT Energia, entretanto, criticou a prioridade
dada às hidrelétricas, definida como
a fonte mais competitiva e a que deve predominar
na expansão de menor custo. “O mito da hidroeletricidade
como uma fonte energética barata está
presente na concepção do novo modelo,
apesar de todas as evidências históricas
que apontam a não incorporação
das chamadas externalidades socioambientais na implantação
de usinas hidrelétricas como a base sobre
a qual se assenta a competitividade desta fonte
de geração”, expôs o grupo,
que defende a ampliação de investimentos
em energias renováveis.
De acordo com o GT Energia, a Empresa de Pesquisa
Energética (EPE) – prevista pelo novo modelo
do setor elétrico – deve promover o cadastro
da população atingida, não
se restringindo apenas às comunidades que
perderão suas terras e outros bens para a
formação do reservatório, mas
a todos aqueles que sofrerão perda ou restrição
de acesso a recursos necessários à
reprodução e perda ou redução
de fontes de emprego, renda e meios de sustento
devido à ruptura de circuitos econômicos.
Novo tratamento
aos atingidos por barragens?
Atualmente, o Ibama
media os conflitos entre os atingidos por barragens
e empreendedores. Durante reunião no fim
de março com integrantes do GT Energia do
FBOMS, Luiz Felipe Kunz Júnior, coordenador
geral de Licenciamento Ambiental da Diliq, assumiu
que o órgão ambiental, devido à
falta de equipe habilitada, tem dificuldades em
lidar com as questões sociais. E, mais do
que isso, não pretende se responsabilizar
por elas sozinho.
Por conta da complexidade dessas questões,
normalmente desconsideradas no planejamento de usinas
hidrelétricas, além da agenda bilateral
do MMA e MME, Langone informou que o governo criou
no ano passado um GT Interministerial para avaliar
o problema e definir políticas para tratar
do assunto, cujo trabalho deveria ser apresentado
no mês passado, mas foi adiado por mais dois
meses devido ao desconhecimento sobre o tema por
parte de diversos ministérios.
De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB), 1 milhão de pessoas, correspondente
a 300 mil famílias, foram expulsas de suas
terras devido à construção
de barragens, sendo que, de cada 100 famílias,
70 não receberam nenhum tipo de indenização.
Além de uma série de protestos em
todo o país, o MAB lançou em meados
de março um documento com um conjunto de
reivindicações, entre as quais: maior
atenção às questões
socioambientais nos projetos hidrelétricos;
consentimento prévio e informado dos atingidos
por barragens; eliminação dos desperdícios
na transmissão, distribuição
e consumo; priorização de investimentos
em pesquisa, desenvolvimento e implementação
de fontes alternativas energéticas; e suspensão
do subsídio aos grandes consumidores, em
particular as indústrias eletrointensivas.
Nele, os atingidos denunciam a vergonhosa posição
de empresas como a Tractbel-Suez, multinacional
à frente das UHEs Cana Brava (GO) e Machadinho
(RS/SC), que se recusa a discutir a situação
das famílias atingidas por barragens; e o
subsídio dado pelo governo às indústrias
eletrointensivas, responsáveis pelo consumo
de 32,4% da energia produzida no país, que
pagam US$ 15/MW, dez vezes menos que a população
brasileira.
O deputado João Alfredo (PT/CE) elaborou
um projeto de lei (PL 91/03) que estabelece diretrizes
para a análise dos prejuízos à
população pelo deslocamento forçado
não só para a construção
de barragens, mas para rodovias e demais obras de
infra-estrutura, em tramitação na
Câmara dos Deputados.
Participação
social no planejamento
O Fórum Brasileiro
de ONGs defendeu que a participação
da sociedade brasileira no planejamento do setor
elétrico não se restrinja a audiências
públicas onde os estudos desenvolvidos pela
EPE sejam apresentados. “A efetiva participação
cidadã nas decisões energéticas
deve encontrar espaços institucionais para
que existam condições adequadas de
interlocução no desenho, gestão
e avaliação das políticas energéticas”,
reivindicou o grupo.
De acordo com Nilvo Silva, deveria ser realizada
no país uma ampla discussão pública
sobre os usos múltiplos dos rios, o potencial
hidrelétrico e a viabilidade socioambiental
de empreendimentos, destacando o caso do Araguaia,
ainda sem barragens.
Durante o lançamento do Programa de Incentivo
às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Proinfa), na semana passada, o presidente Lula
citou a BR-163 [projeto de conclusão do asfaltamento
da estrada], como exemplo de uma obra de infra-estrutura,
inicialmente bastante polêmica entre os ambientalistas,
que será implementada de uma maneira inédita
pelo governo.
Pela primeira vez, uma obra deste porte deverá
ser precedida por medidas que minimizem impactos
socioambientais e atendam ao desenvolvimento de
comunidades locais. Foi criado no mês passado
um Grupo Interministerial responsável pela
formatação do plano de desenvolvimento
sustentável para a região de influência
da rodovia e o Plano de Ação para
a Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia já incorporou, ao menos
no papel, boa parte das reivindicações
da sociedade civil para a área.
O Ibama e
a agenda marrom
As reclamações
do setor privado colocaram de novo em destaque a
discussão sobre a reestruturação
do Ibama, considerado excessivamente voltado à
chamada agenda verde. São quatro diretorias
para essas questões – Diretorias de Florestas,
de Fauna e Recursos Pesqueiros, de Ecossistemas
e de Proteção Ambiental - e apenas
a Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental
(Diliq) responsável por toda a agenda marrom.
Atualmente, a Diliq, além de dispor de apenas
1% do orçamento total do órgão
ambiental [R$ 500 milhões], conta com uma
equipe insuficiente, já ampliada no ano passado.
Em 2002, eram 10 técnicos, hoje são
71 e há a perspectiva da contratação
de mais 150 técnicos por meio do concurso
a ser realizado em julho, o segundo do Ibama em
15 anos de existência.
De acordo com Langone, ao contrário do que
foi feito na gestão anterior, a intenção
é privilegiar a agregação de
pessoal de quadro permanente, e não consultores
terceirizados, com vínculos temporários,
devido à qualificação técnica
exigida para o cargo, cujos profissionais com acúmulo
nos últimos anos, devido às condições
de trabalho, acabaram sendo incorporados pela iniciativa
privada.
“Estamos propondo a criação de uma
área específica para a área
do setor elétrico, outra para a área
de petróleo e gás, e outra para a
área de transportes, mineração
e agricultura”, adiantou Nilvo Silva.
E não são apenas mudanças na
estruturação da equipe, explicou Silva,
que define a Diliq como uma diretoria “em construção”.
Com a intenção de dar maior transparência
ao trabalho da diretoria, foi iniciado, no ano passado,
um processo de sistematização de informações
do órgão. Até o fim deste semestre,
deverão estar disponíveis no site
da Diliq todos os processos de licenciamento ambiental.
Outra inovação da nova gestão
é a determinação de que EIAs
de novos projetos de construção de
usinas hidrelétricas considerem o impacto
cumulativo à bacia hidrográfica, medida
que já foi exigida para o empreendedor da
UHE São Salvador (TO).
Para Silva, um ponto a ser aprimorado é o
que diz respeito ao monitoramento dos impactos previstos
no EIA, o chamado pós-licença, que
recebe pouca atenção, até mesmo
da sociedade. Segundo Denise Nicolaidis, o monitoramento
dos impactos previstos e das ações
mitigadoras é, na verdade, praticamente esquecido.
Além das mudanças na Diliq, o secretário-executivo
do MMA afirmou que está sendo realizado um
processo de transversalidade interna, para que o
licenciamento ambiental passe a ser visto não
só como uma pauta de todo o Ibama, mas também
do MMA. A ministra Marina Silva determinou a criação
de um Grupo de Trabalho (GT) interno de Licenciamento
Ambiental, que reúne membros de todas as
secretarias do Ministério do Meio Ambiente,
do Ibama e da Agência Nacional de Águas
(ANA), presidido por Langone.
Há ainda um trabalho previsto com os órgãos
estaduais de meio ambiente, uma vez que cerca de
70% dos pedidos de licenciamentos ambientais do
país estão nos Estados, ainda que,
no caso das hidrelétricas, projetos com potências
menores. “Nós vamos realizar um seminário
com membros dos três níveis do governo
sobre os rumos do licenciamento ambiental no Brasil
e definir uma agenda mais estratégica”, disse
Langone.
Obras questionadas pelo FBOMS
Durante a reunião sobre o impacto de empreendimentos
hidrelétricos no Brasil com Langone e Kunz
Júnior no dia 23/3, integrantes do GT Energia
do FBOMS perguntaram a respeito do andamento de
diversos projetos, entre outros, da UHE Estreito
(TO), no Tocantins, Belo Monte, no Rio Xingu (PA),
e as duas usinas hidrelétricas previstas
no Rio Madeira (RO).
Sobre a UHE Estreito, cujo consórcio vencedor
do leilão é formado pela Alcoa Alumínio,
Companhia Vale do Rio Doce, a Tractebel, a BHP Billiton
Metais e a Camargo Corrêa, ouviram de Kunz
Júnior que foi entregue recentemente a complementação
do EIA solicitada pelo Ibama e que serão
marcadas audiências públicas com a
população para discuti-la. Mayron
Regis, do Fórum Carajás, informou
que teve acesso ao EIA e que ele não considera
as áreas de reforma agrária, a Terra
Indígena Apinajé e subestima o número
de famílias atingidas em 1,2 mil, quando
o número correto, segundo o MAB, é
de 5 mil famílias.
Já sobre Belo Monte a única novidade
é que teve seu licenciamento retirado da
esfera estadual. “Evidente, que este caso exige
um licenciamento ambiental federal”, reforçou
o coordenador geral de Licenciamento Ambiental do
Ibama. Langone lembrou que o Programa Plurianual
(PPA) 2004-2007, em tramitação no
Congresso Nacional, prevê apenas o estudo
de viabilidade da usina; espera-se que, desta vez,
incluindo a análise da viabilidade socioambiental
da obra.
Em relação às duas UHES previstas
no Rio Madeira, que totalizam 7 mil MWH, as obras
ainda não foram licitadas e, por enquanto,
estão em discussão os termos de referência
dos EIAs que serão exigidos. Em maio, deve
ser realizada uma reunião pública
para recolher subsídios para a elaboração
do documento.
Também foi comentado o caso da UHE Barra
Grande (SC/RS), concedida durante a crise do apagão.
Apesar do órgão licenciador do Rio
Grande do Sul ter se manifestado a respeito da falta
de informações e baixa qualidade do
EIA, o Ibama licenciou a obra. Agora, para encher
o reservatório da usina, a empresa pediu
autorização para suprimir um dos mais
significativos remanescentes de floresta de araucária
de Santa Catarina, descrita no EIA como uma área
de capoeira e em estágio inicial de regeneração.
Sobre o caso, Nilvo Silva informou que será
aberta uma sindicância interna no Ibama, assim
como estão sendo discutidas medidas compensatórias
com a Diretoria de Florestas do Ibama e a Secretaria
de Biodiversidade e Florestas do MMA. Um legado
derivado de EIAs pobremente elaborados para jamais
ser esquecido e certamente contestado pela sociedade
civil.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Cristiane Fontes