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NO DIA DO
ÍNDIO HÁ POUCO A COMEMORAR:
ELES AINDA SOFREM DISCRIMINAÇÃO
E TÊM SUAS TERRAS INVADIDAS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Abril de 2004
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Representantes
das comunidades indígenas reivindicam uma
política governamental voltada para a solução
de seus problemas
Wapichana, Pataxó,
Macuxi, Guarani, Xucuru e muitos mais. Antes, eram
cinco milhões, hoje, são 405 mil Índios.
A população indígena brasileira
atual é formada por 210 povos. Eles falam
mais de 170 línguas. Ao longo dos anos, esses
povos foram sendo dizimados. A colonização,
a cristianização, as epidemias de
doenças infecciosas, a escravidão,
o trabalho forçado, os maus tratos e o confinamento
fizeram e ainda fazem parte da realidade indígena
no Brasil.
Em Roraima, os índios de Raposa Serra do
Sol; em Rondônia, os Cinta Larga e, no Maranhão,
os Guajas. Essas são, segundo a Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), as comunidades
com mais problemas atualmente, mas elas não
são fatos isolados. “Um dos maiores problemas
dos índios brasileiros é a falta de
uma política pública voltada para
a comunidade indígena”, diz Genival de Oliveira
Santos, Mayoruna do médio Solimões
e coordenador-tesoureiro da Coiab.
O coordenador alerta ainda que, até agora,
2004 tem sido um dos anos mais difíceis para
a população indígena. “Estamos
praticamente sem saída. O que compromete
a situação nesse primeiro semestre
do ano”, afirma.
Genival teme pela condição de vida
nas comunidades indígenas. No Maranhão,
o coordenador acusa empresários que trabalham
com a extração de madeira, de invasores
de terras dos índios e diz que os Guajas
não estão articulados politicamente
para requerer os seus direitos. “Eles estão
praticamente sem contato com o resto do mundo”,
afirma. Por isso, uma das metas da Coiab é
desenvolver ações junto a essa comunidade
para garantir o mínimo de dignidade ao povo
daquela região.
A Coiab alega ainda que, no que se refere à
demarcação de terras, a situação
se arrasta há anos. “Na prática as
coisas não acontecem”, diz o Mayoruna. “O
índio já não tem mais onde
pescar, onde caçar”, conclui.
No momento em que se comemora o Dia do Índio,
que será celebrado na segunda-feira (19/4),
o presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes,
admite que, de fato, ainda há muito por fazer.
O presidente recomenda, por exemplo, que se crie
uma legislação específica para
legalizar a exploração de riquezas
minerais pelos índios nas reservas. Um dos
grandes problemas são os conflitos com garimpeiros,
como aconteceu recentemente com os Cinta Larga,
em Rondônia. Os garimpeiros entram ilegalmente
em terra indígena e exploram minério,
o que gera os conflitos, já que ao índio,
essa prática não é permitida.
Atualmente, 30% das terras indígenas ainda
estão por serem demarcadas e entre 5% e 6%
destas terras aguardam homologação.
Mércio lembra que o lado positivo é
que 75% das terras pertencentes às comunidades
indígenas já foram demarcadas. O presidente
comemora ainda a inserção de 150 mil
jovens indígenas no ensino fundamental e
afirma que a população de índios
está aumentando. “As comunidades estão
crescendo. A cada ano elas aumentam em 3,5%. Devemos
ter o dobro de índios nos próximos
vinte anos”, diz o antropólogo.
O presidente da Funai cita a discriminação
como outro problema grave contra o índio
no Brasil. “A discriminação acontece
em todos os estados brasileiros”, afirma. Mas garante
que a Fundação trabalha para acabar
com esse preconceito. Gomes ressalta ainda a importância
da riqueza cultural que os índios têm
para o país.
Para a Funai, um dos principais problemas econômicos
do índio brasileiro está na produção
agrícola. Ainda que as comunidades indígenas
consigam plantar para consumo próprio, não
têm condições de transformar
o plantio em renda. “Não é possível
ter o excedente da produção indígena
para venda”, diz Mércio Pereira Gomes. O
antropólogo lembra também de comunidades
como a de Dourados (MS), que se encontra confinada,
sem condições físicas para
produzir por estar em terra indígena rodeada
por fazendas de soja.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Paula Menna Barreto