 |
TAXA DE
MORTALIDADE DE ÍNDIOS É TRÊS
VEZES MAIOR DO QUE A MÉDIA DA POPULAÇÃO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Abril de 2004
|
 |
As
metas da nova política de saúde indígena
incluem reduzir a mortalidade infantil em 50% e
eliminar a desnutrição na população
indígena até 2006
Além da demarcação
de terras, o povo indígena quer saúde.
Médicos, enfermeiros, medicamentos fazem
falta às comunidades de índios. O
povo indígena, em geral, sofre dos mesmos
males que toda a população brasileira.
Doenças como câncer, tuberculose, aids,
alcoolismo, malária, hipertensão,
depressão, diabetes e desnutrição,
também afetam a população indígena
brasileira.
A mortalidade infantil é o que mais preocupa.
Quase 50% das mortes são registradas entre
menores de cinco anos de idade. As causas mais freqüentes
são doenças transmissíveis,
principalmente infecção respiratória,
parasitose intestinal, malária e desnutrição.
Segundo a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), as taxas de morbidade e mortalidade de
índios são de três a quatro
vezes maiores que os índices da população
brasileira em geral. Este fato tem ameaçado
os indígenas e a Funasa cita o exemplo dos
Latundêses – integrantes da comunidade Latundê,
radicada em Rondônia – que hoje estão
reduzidos a 37 índios.
Agora, o Conselho Nacional de Saúde (CNS),
acaba de aprovar uma nova Política de Saúde
Indígena, elaborada pela Funasa, responsável
pela saúde indígena desde 1999. As
metas da política incluem reduzir a mortalidade
infantil em 50% e eliminar a desnutrição
na população indígena até
2006. Dados de 2002 apontam que a desnutrição
em menores de cinco anos é de 30%. Mas já
para 2004, a Funasa pretende reduzir a mortalidade
infantil em 15%.
Para a Dra. Zilda Arns, coordenadora da comissão
de saúde indígena no CNS, muita coisa
já mudou. “Hoje a própria comunidade
indígena participa da gestão dos distritos
indígenas”, cita. Mas reconhece que a desnutrição
ainda é um grande problema”. É a nossa
prioridade absoluta”, diz. A coordenadora acredita
em um trabalho conjunto com órgãos
de agricultura do governo e com entidades que atuam
em comunidades indígenas. “Estamos desenvolvendo
uma política de segurança alimentar”,
afirma. Zilda Arns diz que os povos indígenas
desenvolveram o projeto e souberam dizer exatamente
o que queriam. “O documento ficou fantástico”,
relata.
Mas a coordenadora sabe das dificuldades de colocar
em prática os projetos elaborados. “Ainda
existe muita discriminação em hospitais”,
conta. Zilda Arns diz que há muito a se fazer.
Ela relata que no norte do país as comunidades
indígenas enfrentam muitos problemas com
a malária e em alguns lugares a diarréia
é a primeira causa de morte.
O presidente da Funasa, Valdi Camarcio Bezerra,
explica que uma das coisas mais importantes na nova
política de saúde indígena
é a forma do repasse de verbas. Antes, os
recursos eram enviados às comunidades e a
organizações não governamentais
(ONGs). Agora, o dinheiro vai ser enviado ao distrito
sanitário especial indígena, onde
50% dos participantes são lideranças
indígenas, além de indigenistas, antropólogos
e secretarias municipais de saúde. “Vamos
otimizar os recursos”, diz o presidente explicando
que antes se gastava muito em ações
administrativas e pouco em atividades práticas
de melhoria para a saúde indígena.
Para combater o mal do alcoolismo e alto número
de suicídios, a Funasa vai implantar uma
política de saúde mental. “É
um problema grande em determinadas regiões.
Temos de fazer prevenção”, diz o presidente
da Fundação. Segundo Valdi Bezerra,
outra situação difícil é
a permanência de médicos e enfermeiros
nas regiões das comunidades indígenas.
Por isso, a Funasa deve fazer contratação
temporária para atender especificamente a
saúde indígena em localidades remotas.
O Wapichana Clóvis Ambrosio, do conselho
de saúde indígena de Roraima, diz
que ainda hoje não existem profissionais
preparados para fazer atendimento ao índio.
E diz que nunca houve um programa de governo específico
para os povos indígenas. Para Clóvis,
a distância é um problema. “Os médicos
e enfermeiros não querem andar a pé
para atender o índio”, conta. “As situações
se complicam mais ainda quando a assistência
tem de ser feita a uma comunidade que não
fala o Português”, diz Ambrosio.
Para Clóvis também existe uma superposição
nas atribuições da Funasa e Funai
(Fundação Nacional do Índio).
“Cada hora a gente vai para um lado”, conta. Ele
diz ainda que espera uma visão mais humana
por parte dos governantes e da população
brasileira em geral.
O representante da Articulação dos
Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais
e Espírito Santo (Apoinme), Wilson Jesus
de Souza, diz que em algumas comunidades não
existe sequer água. “A Funasa tem de mandar
carro pipa”, conta. O pataxó acredita que
a situação esteja sendo amenizada
nos últimos anos e aposta na gestão
de saúde indígena a cargo da Funasa.
“A construção de postos de saúde
já melhorou 40%, mas ainda precisamos combater
as doenças”, pondera.
Do município de Pau Brasil (BA), Wilson sofre
com a discriminação no estado e reclama
da falta de justiça. “Na Bahia ninguém
é preso por matar um índio”, diz.
O pataxó conta que desde 1982 líderes
indígenas vêem morrendo em todo o Brasil,
só da comunidade de Wilson, morreram 16 pessoas
em conflitos por terras.
Wilson se revolta quando a questão é
a forma limitada da Fundação Nacional
de Saúde (Funasa) de atendimento a saúde
indígena. Ele diz que o índio tem
de estar praticamente morto para conseguir boa assistência.
“Uma vez um médico não liberava o
paciente para ir a outro hospital melhor por falta
de documento”, diz. A burocracia é grande
conta o pataxó. “Não se luta pela
vida de um índio até o fim”, lamenta
Wilson.
O pataxó Wilson Jesus de Souza, também
critica a Funai e diz que a Fundação
já privilegiou uns em detrimento de outros.
Ele conta também que as comunidades que estão
mais próximas à áreas urbanas,
tem mais problemas. Como com doenças sexualmente
transmissíveis e Aids. De acordo com a Funasa,
em 2002 foram registrados cerca de quatro mil casos.
Para o diretor do Programa Nacional de DST/Aids,
Alexandre Grangeiro, além da doença,
o problema é a própria comunidade
indígena que, em alguns casos, não
aceita e discrimina o índio portador do HIV/Aids.
“O impacto varia, mas existem situações
onde expulsam o doente da aldeia”, conta.
A Funasa pretende ainda implantar programas de prevenção
ao câncer uterino e de mama em todos os distritos
indígenas e reduzir em 30% a incidência
de tuberculose entre a população indígena.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Paula Menna Barreto