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CHAPADA
DOS VEADEIROS: VISITANTES APROVEITAM ENCONTRO
PARA CONHECER O PASSADO DA REGIÃO
Panorama
Ambiental
Chapada dos Veadeiros (GO) - Brasil
Julho de 2004
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25/07/2004 - O jornal
“Espaço Lua de São Jorge”, vila que
fica em Goiás, conta que quem olha a Terra
de cima vê, além da biosfera azul,
um ponto brilhante no hemisfério sul, a Chapada
dos Veadeiros. Datada geologicamente de 1,7 bilhão
de anos, a área é rica em cristal
de quartzo e por isso, diz o jornal, reflete a luz
do Sol como um imenso espelho.
Na década de 30, garimpeiros de várias
regiões, principalmente do Nordeste, chegaram
a região a procura dos cristais. A vila,
que hoje conta com aproximadamente 600 habitantes,
chegou a ter “mais de duas mil pessoas”, conta Domingos
Soares de Farias, o morador mais antigo da vila.
Aos 79 anos, seu Jorge - como é conhecido
em toda a região - diz que “não tinha
nada difícil, era a maior fartura do mundo.
Hoje é tudo carregado na sacolinha”, conta,
em tom nostálgico, referindo-se às
antigas lavouras e reclamando do alto preço
dos supermercados.
No início dos anos 90, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) passou a cuidar da região, “comprou
a área e proibiu o garimpo”, conta o ex-garimpeiro.
“Eu tinha um barraco lá em cima e dois cachorros
para olhar, mas o Ibama me tirou de lá”.
Hoje, seu Domingos mora em um barraco emprestado,
num camping. O garimpo cedeu espaço ao turismo,
principal atividade econômica de São
Jorge.
Dos tempos de garimpeiro, que ele recorda com alegria,
ficou a saudade. “O trabalho começava cedo.
À noite, íamos para o cabaré,
que trazia um caminhão cheio de mulheres”,
diz enquanto solta uma gargalhada. Sobre o Encontro
de Culturas Tradicionais, ele diz que “não
gosto, é muita gente e muito barulho”. Mas
em seguida abre um sorriso para falar todo orgulhoso
que, no ano passado, dançou forró
nas 10 noites do evento. “O dia que vim mais cedo
para casa já passava das duas horas”, se
orgulha.
Logo que aparece nos bares, seu Domingos é
cercado pelos jovens, que o vêem como um símbolo
da região. Para os mais novos, ele tem várias
histórias de cobras e onças para contar,
o que logo provoca a gargalhadas dos turistas. Mas
está na chamada sabedoria popular o que os
jovens mais gostam de ouvir, os conselhos e definições
de seu Domingos. “A gente gasta que nem ferramenta.
Para trabalhar tem que amolar e, na amolação,
vai se perdendo o aço”, avisa este colecionador
de chapéus, que adora também óculos
escuros, mesmo à noite, e já perdeu
a conta do número de filhos, “acho que são
uns oito”, diz duvidoso.
Os cristais não apenas atraíram os
garimpeiros, que começaram a chegar na vila
de São Jorge na década de 40. Com
o tempo, vieram também místicos, religiosos
e astrólogos. Entre eles, um grupo de 10
estudantes que, no início dos anos 90, cursava
filosofia em Goiânia e vinha para cá,
aos finais de semana e feriados, “estudar, tocar
violão e fazer fogueira, já que não
tinha energia elétrica”, conta Cassiano Veronese,
que documentou essa história no livro Histórias
da Chapada - Contos da Cultura e do Planalto.
“Os companheiros tratavam de fazer um café
ou um mate. As cadeiras a fio, de madeira, ou mesmo
as banquetas junto à mesinha de centro improvisada,
no meio daquele mundo azul e verde do Planalto Central”,
diz um trecho da obra, que mostra da ligação
com a natureza, tão característica
das pessoas dessa região.
Os estudantes foram crescendo e hoje, aos 32 anos,
Cassiano e seus amigos continuam passando os finais
de semana no mesmo lugar. Em 1997, sem patrocínio,
começaram a construção da Casa
de Cultura Cavaleiros de Jorge. Toda feita de pedras
e com uma arquitetura rústica, o imóvel
ainda não está terminado, mas já
abriga shows, trabalhos fotográficos e tem,
nas paredes, várias telas de Moacir, o mais
conhecido artista plástico de São
Jorge.
Foi também com esse grupo de amigos que Juliano
George Basso começou a freqüentar a
vila. Hoje ele é coordenador do Encontro
de Culturas Tradicionais da Chapada dos Viadeiros,
que começou na 6ª feira (23) e vai até
o dia 1 de agosto. Nesse período 27 grupos
populares se apresentarão nos palcos de São
Jorge, que recebe milhares de visitantes para quarta
edição dessa manifestação
popular. “O Encontro vem para provocar o pensamento
das pessoas sobre o que é a identidade brasileira”,
resume Juliano.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Alessandra Bastos