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“CULTURAS”
DO BRASIL SE REÚNEM NA CHAPADA DOS
VEADEIROS, EM GOIÁS
Panorama
Ambiental
Chapada dos Veadeiros (GO) - Brasil
Julho de 2004
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25/07/2004 - Chapada
dos Veadeiros (GO) -“Lua de São Jorge / lua
soberana / nobre porcelana / sobre a seda azul /
cheia, branca, inteira / lua maravilha / lua deslumbrante
/ lua do meu coração”. Os versos são
de Caetano Veloso e falam deste santo que empresta
o nome à região situada na entrada
do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a 240
km de Brasília.
Essa mistura de misticismo, natureza, cristais e
turismo ecológico é palco, há
quatro anos, do Encontro de Culturas Tradicionais
da Chapada dos Veadeiros. Aqui, durante dez dias
(de 23 de julho a 1º de agosto), cantores,
instrumentistas, grupos populares, religiosos e
aventureiros de vários estados e também
do exterior se reúnem para celebrar a diversidade
do regionalismo brasileiro.
Ao todo, 27 grupos do Distrito Federal, Bahia, Pernambuco,
Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins e de Goiás
fazem a festa. O coordenador do evento, Juliano
George Basso, conta que a concepção
surgiu da necessidade de divulgar as tradições,
místicas, crenças e culturas locais.
“Quando cheguei aqui percebi um movimento muito
forte de preservação da natureza e
muito preconceito e desprezo pela cultura local”,
afirma o matogrossense, que chegou na região
ainda adolescente.
Segundo Juliano, “os ambientalistas e ecologistas
chegavam com uma visão de uma sabedoria maior
que o povo que já vivia aqui. A gente viu
que o povo daqui é quem detém a sabedoria
do local. Então decidimos divulgar essa sabedoria
e a mística do catolicismo popular que impera
na região”, explica o coordenador.
Além dos shows, nove oficinas fazem parte
do encontro. Uma delas ensinará a arte da
confecção da viola de cocho, instrumento
muito utilizado no Mato Grosso e que deu origem
ao ritmo siriri ou cururu. Quem ministra as aulas
é o luthier Manoel Severino, violeiro desde
os dez anos de idade.
Cada instrumento leva, pelo menos, quinze dias para
ficar pronto “porque demora a secar”, explica o
luthier. O segredo da cola, ele não se intimida
em revelar. “A cola pode ser tirada do sumbaré
(fruto parecido com a batata) ou da poca (bexiga)
da piranha, mas com saliva por cima é que
a cola tem mais resistência e seca mais rápido”,
conta Severino, ex-construtor de casas, que hoje
se dedica integralmente à música e
chega a produzir dez violas por mês.
Quem sempre usa uma viola feita por Manoel, nos
shows, é o cantor brasiliense Roberto Corrêa,
que se apresenta, no Encontro, no próximo
sábado (31). O instrumento custa de R$ 250
a R$ 300. A variação do preço
se dá de acordo com o trabalho de serigrafia
que é feito no tampo da viola pelo desenhista
Paulo Roberto, que é sobrinho de Severino.
Este é um trabalho que é passado de
geração a geração há
muitos anos.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Alessandra Bastos