 |
INDÍGENAS
DO AMAMBAÍ (MS) VÃO COMANDAR
RÁDIO-ESCOLA COM PROGRAMAÇÃO
EM GUARANI
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Julho de 2004
|
 |
28/07/2004 - Índios
da reserva Amambai, a cerca de 350 quilômetros
de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, fizeram
da escola um modelo a ser seguido. Por meio do rádio,
montaram uma programação toda em guarani,
a língua materna. A escola municipal Coroa
Sagrada, em Amambaí, faz parte do Projeto
Educom.rádio, uma parceria entre o Ministério
da Educação (MEC), o Núcleo
de Comunicação e Educação
da Universidade de São Paulo (USP) e a Secretaria
de Educação do Mato Grosso do Sul.
Além desta escola, outras 69 passam pelo
processo de capacitação no Centro-oeste,
sendo 20 professores do Mato Grosso, 30 de Goiás
e 20 do Mato Grosso do Sul.
No início do projeto, no entanto, foi difícil
vencer o preconceito dos próprios jovens
da aldeia, segundo Ismar Soares, coordenador do
núcleo da Universidade de São Paulo
responsável pela capacitação
dos professores para o programa de rádio.
“Um dos monitores, o Mário, é paraguaio
e fala o guarani. Quando Mário chegou à
aldeia, começou a dialogar com os índios
na língua deles. Os mais velhos conversavam
em guarani, mas as crianças só queriam
conversar em português, porque consideravam
mais chique a língua falada nas rádios
comerciais”, contou. “Quando viram alguém
de fora falando a língua deles, as crianças
começaram a desenvolver o programa em guarani”,
contou Ismar.
O curso de capacitação dos professores
é online, feito por meio do site www.educomradio.com.br/centro-oeste.
“Por uma plataforma virtual, dialogamos com os professores.
Há um tutor para cada estado. Além
disso, profissionais de comunicação
com conhecimento de rádio passaram por escolas
urbanas, quilombolas e aldeias indígenas
dando mais informações”, explicou
Ismar. O núcleo da USP tem um histórico
de 10 anos na pesquisa da comunicação
ligada à educação.
“Nós pesquisamos esta relação
e identificamos um conceito chamado 'educomunicação',
em que se melhora a relação entre
as pessoas. Com ele, se aplica a ação
comunicativa do pedagogo Paulo Freire, colocando
professores, alunos e membros da comunidade produzindo
comunicação em igualdade de condições,
numa gestão democrática do comunicar.
Com isso, o aluno se apodera do processo de comunicação,
que vai garantir a luta pela cidadania e pelo direito”,
disse Ismar.
Cada escola vai receber um equipamento de rádio
de baixa freqüência, em que a caixa de
som ficará ligada aos receptores e alcançará
a área da escola, no perímetro urbano,
e da aldeia, nas reservas. São pelo menos
20 rádio-escolas da região do Mato
Grosso do Sul que aguardam a aparelhagem. São
escolas da zona urbana, de assentamentos, de quilombolas,
e de aldeias indígenas. Além da escola
indígena de Amambai, mais duas aldeias aguardam
os meios para o início do trabalho: a Bananal,
em Aquidauana, e a Córrego do Meio, em Sidrolândia.
Segundo a assessoria do Ministério da Educação,
o material se encontra em processo de licitação
e até o fim do mês de agosto é
possível que se encontrem em funcionamento.
Enquanto a aparelhagem não chega, a USP doou
gravadores, que serão entregues às
comunidades até o dia 23 do próximo
mês. Segundo Ismar, com os minigravadores
em mãos, os alunos têm condições
de produzir programas de 30 minutos. Além
disso, um diferencial do projeto é que eles
decidem o conteúdo e a linguagem na comunidade,
por meio de um grupo de gestão do rádio,
decidindo tudo por meio do voto.
“A linha que buscamos desenvolver com o projeto
é a de gestão democrática.
Hoje, eles buscam imitar os padrões radiofônicos.
Contudo, a idéia é que, futuramente,
eles cubram a realidade local, fazendo revezamento
de funções de produção”,
disse o coordenador. O projeto abrangerá
3.500 pessoas no Centro-Oeste. Cada professor trabalha
com 15 alunos e a idéia é que a comunidade
capacite os demais colegas. “Como o tempo é
curto, não dá para trabalhar com todos”,
lamentou Ismar.
Veronice Lopes Braga, gestora do Ensino Médio
do Estado do Mato Grosso, afirma que os alunos já
estão aprendendo a fazer simulações
de programas. “Isso dá uma identidade a esse
povo porque falam do que conhecem, do seu cotidiano,
não se sentindo como alguém de fora”,
disse. As rádios são de baixa potência
para evitar problemas na legislação
brasileira de concessões e funcionamento
das rádios e TVs no país.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Keite Camacho