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A SITUAÇÃO
NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA BR-163
É GRAVE, APONTAM ESPECIALISTAS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2004
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09/08/2004 O diagnóstico
é do Grupo de Assessoria Internacional (IAG)
do Programa Piloto de Proteção das
Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), que esteve
na região no fim do mês passado e testemunhou
o acirramento dos conflitos sociais e o aumento
da grilagem de terra e das invasões de Terras
Indígenas e Unidades de Conservação.
No relatório divulgado na sexta-feira (6/8),
sobre o Plano BR-163 Sustentável, recomendam,
entre outras medidas, uma revolução
científica e tecnológica na Amazônia.
A situação da Área de Influência
da BR-163 é grave. Houve acirramento dos
conflitos sociais e aumento da grilagem de terra
e das invasões de Terras Indígenas
e Unidades de Conservação.
O diagnóstico é do Grupo de Assessoria
Internacional (IAG) do Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) cujo mais
recente relatório, divulgado na sexta-feira
(6/8), teve como foco o Plano BR-163 Sustentável
- trabalho que está sendo desenvolvido desde
março deste ano por 14 ministérios,
sob coordenação da Casa Civil.
Presidido atualmente por Roberto Smeraldi, diretor
da ONG Amigos da Terra-Amazônia Brasil, e
formado por nove especialistas, entre os quais,
Bertha Becker, professora do Departamento de Geografia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
e Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional
de Pesquisas Especiais (Inpe) e diretor científico
do Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA), o IAG, que tem como finalidade
monitorar e orientar os governos doadores, o Banco
Mundial, a União Européia e o governo
brasileiro, esteve reunido entre 26/7 e 6/8.
Além de reuniões com representantes
de órgãos governamentais, como Casa
Civil, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação
Nacional do Índio (Funai), Ministério
da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente,
governos do Mato Grosso e Pará, do Banco
Mundial e de agências de cooperação,
estiveram com membros da sociedade civil, entre
as quais a Comissão Pastoral da Terra, a
Fundação Viver, Produzir e Preservar
(FVPP), o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA),
o Instituto Socioambiental (ISA).
“Durante as visitas de campo deste ano, o IAG encontrou
ampla evidência da intensificação
da apropriação ilegal das terras públicas
na área de abrangência do Plano BR-163
Sustentável”, aponta o relatório.
“Os grileiros submetem requerimentos ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) para regularizar enormes
áreas sobre as quais não dispõem
de qualquer direito legal – muitas vezes utilizando
procurações de laranjas locais – e
usam o protocolo de requerimento para legitimar
suas ofertas de terras no mercado local. Tais protocolos
circulam livremente e são considerados documentos
de venda. Além disso, a fraude ganha proporções
maiores por meio de instrumentos como lotes contíguos
para parentes, uso dos referidos laranjas e de associações
de cooperados”, denuncia o grupo, com a grilagem
de áreas maiores do que os 2,5 mil hectares
que representam o limite para alienação
de lotes individuais de terra pública.”
“Se tal situação não representa
uma novidade na região amazônica, é
novo seu ritmo tão acelerado. Fora das Unidades
de Conservação (e em alguns casos
nem sequer dentro de algumas delas, não demarcadas
e/ou com situação fundiária
precária) sobram poucas áreas não
requeridas na área de influência da
BR-163”, informa o IAG.
Segundo o grupo, a situação local
do Incra é de grave falta de pessoal e recursos,
com esforços concentrados no processo de
cadastramento para posteriores ações
de regularização. “Novos recursos
estão sendo disponibilizados para aumentar
a efetividade deste processo, mas parecem insuficientes
para atender a demanda em prazos compatíveis
com aqueles da construção da estrada.
Por outro lado, recursos ainda mais modestos estão
sendo dedicados a reverter a situação
da ocupação ilegal de terras públicas
em larga escala, por meio de atividades que deveriam
ser consideradas prioritárias, como desintrução,
reintegração de posse e arrecadação
de terras devolutas.”
O IAG denuncia também que a fronteira do
agronegócio em algumas regiões do
Mato Grosso já nasce relativamente ordenada
e rapidamente consolidada, com produção
organizada, ao lado de assentamentos desamparados,
citando como exemplo o caso de Querência,
município localizado no entorno do Parque
Indígena do Xingu , e da expansão
para o Médio Araguaia; e que a fronteira
desordenada invade o Sudoeste do Pará e o
Sul do Amazonas, envolvendo madeireiros, pecuaristas
e produtores familiares.
Entre as áreas protegidas, destacam o caso
da Terra Indígena Cachoeira Seca, dos índios
Arara. “O avanço da estrada ilegal, conhecida
como Transiriri, com apoio de políticos locais
e investimentos de madeireiros, representa um fato
difícil de ser revertido, pela dimensão
que o fenômeno atingiu.”
Em vez do atual cadastramento, recomendam para as
faixas de 30 quilômetros da rodovia a regularização
imediata de posses abaixo de 100 hectares por meio
de concessões, preferencialmente de forma
coletiva, e, em seguida, a regularização
de áreas superiores a 100 hectares, considerando
a existência e averbação das
Reservas Legais e das Áreas de Preservação
Permanente e requerimentos apresentados até
31 de dezembro de 2002. Além disso, sugerem
que seja priorizada a arrecadação
e registro de terras públicas por parte dos
órgãos competentes da União,
o envolvimento da Secretaria do Patrimônio
da União e a realização de
ações demonstrativas contra a grilagem,
com reintegração de posse, cancelamento
de títulos falsos e co-responsabilização
de cartórios locais.
Segundo o IAG, a falta de confiança na capacidade
de atuação do Estado gera um clima
de desobediência civil aberta e declarada
em relação ao Estado de Direito.
Em relação às políticas
públicas para a região, sobram críticas,
entre as quais a demora para a finalização
do Plano Amazônia Sustentável (PAS),
que gerou ampla expectativa na sociedade regional
e ainda deve envolver processos de consulta e identificação
de instrumentos de operacionalização;
as dificuldades de implementação do
Plano de Combate ao Desmatamento após cinco
meses do lançamento; e a paralisação
da Agência de Desenvolvimento da Amazônia
(ADA).
Aumentando e fortalecendo o coro da última
reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) e, mais recentemente, da
3ª Conferência Científica do LBA,
o IAG defende uma revolução científica
e tecnológica para a Amazônia, para
potencializar a economia da biodiversidade.
“Há um flagrante descompasso e contraste
entre as caras tecnologias de ponta utilizadas como
ferramenta para o monitoramento ambiental (SIPAM-SIVAM)
e o baixo nível tecnológico da grande
maioria dos processos produtivos de base agroflorestal
ou extrativista.”
Apesar de os planos governamentais da Amazônia
darem ênfase ao papel da ciência e tecnologia,
não enfrentam a falta de internalização
do assunto pelo poder público. “Isso é
facilmente verificável pela desproporcional
concentração de investimentos e de
atividades em ciência e tecnologia do Sul
e Sudeste em relação à região
Norte, que recebe menos de 2% de todos os investimentos
em ciência e tecnologia nacionais e abriga
cerca de 700 doutores em pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, o que corresponde a 10% do número
que se forma por ano no país.”
Para a revolução científica
e tecnológica para a Amazônia sustentável,
o grupo calcula que seriam necessários no
mínimo entre 4 e 6 centros de excelência
em pesquisa científica e de inovação
tecnológica na região, dezenas de
laboratórios e bases de pesquisa de campo
e cerca de 3 mil cientistas, com custo não
inferior a R$ 300 milhões/ano.
De acordo com o grupo, há uma defasagem expressiva
entre os prazos atuais e potenciais do processo
de pavimentação e o ritmo do planejamento
e implementação das ações
do Plano BR-163 Sustentável. “Apesar da convicção
generalizada – entre gestores governamentais e interlocutores
ativos da sociedade civil – de que é necessário
conduzir de forma coordenada os processos de licenciamento
da BR-163 e do Plano BR-163 Sustentável,
não há indicações objetivas
sobre como vincular mutuamente, de forma efetiva,
tais processos. Trata-se de um desafio sem precedentes,
que requer modalidades novas, cuja compatibilização
com o processo legal de licenciamento não
é fácil.”
O documento destaca o esforço da sociedade
civil para a elaboração de propostas
pela sustentabilidade da região e recomenda
que seja produzida urgentemente uma estimativa dos
custos das ações demandadas, “de maneira
a embasar sua viabilidade. Propõe ainda que
seja inserida na negociação sobre
prazo e custo da concessão, com o consórcio
empresarial que será formado, a destinação
de parte do pedágio da BR-163 para um fundo
que garanta a sustentabilidade do Plano BR-163.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)