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CGEN CONCEDE
PRIMEIRA AUTORIZAÇÃO DE ACESSO
A CONHECIMENTOS TRADICIONAIS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2004
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02/08/2004
Na quinta-feira (29/7), o Conselho de Gestão
do Patrimônio Genético aprovou um dos
projetos de pesquisa que será desenvolvido
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA), com o apoio do Instituto Socioambiental
(ISA), para verificar a sustentabilidade da produção
comercial da cestaria Baniwa: o que envolve o estudo
do manejo dos corantes e fixadores naturais utilizados
pelos índios na elaboração
das peças.
Desde 1999, habitantes dos grandes centros urbanos
do país têm acesso à arte milenar
produzida pelos Baniwa, povo indígena do
Alto Rio Negro (AM), encontrada, entre outros locais,
nas lojas Tok&Stok.
Para verificar a sustentabilidade socioambiental
da produção comercial da cestaria
a longo prazo, a Organização Indígena
da Bacia do Içana (OIBI), dos Baniwa, estabeleceu
em 2001 uma parceria com o INPA, que conta com o
apoio do ISA, para o desenvolvimento de diversos
projetos de pesquisa, entre os quais estudos sobre
o manejo do arumã, planta utilizada na confecção
das peças, e sobre as diversas espécies
utilizadas como fixadores e corantes dos grafismos
da cestaria.
Por envolver acesso aos conhecimentos tradicionais
dos Baniwa, o projeto de pesquisa foi submetido
ao Conselho de Gestão do Patrimônio
Genético (CGEN) – órgão gestão
do patrimônio genético e proteção
do conhecimento tradicional no Brasil, vinculado
do Ministério do Meio Ambiente (MMA) -, que
o aprovou na última quinta-feira (29/7).
Um passo
a frente...
O tempo de tramitação
do processo no CGEN foi recorde. Em apenas dois
meses, o Departamento de Patrimônio Genético
(DPG) - Secretaria Executiva do CGEN - analisou
toda a documentação, submeteu o processo
à avaliação de dois pareceristas
ad hoc e o remeteu à plenária do CGEN,
que concedeu a autorização por unanimidade,
sem nenhum voto contrário ou abstenção
- com exceção do próprio INPA,
parte diretamente interessada na pesquisa.
A agilidade foi uma resposta às críticas
feitas ao DPG pela morosidade processual, sinalizando
que a demora muitas vezes pode ser resultado de
problemas com a documentação apresentada.
Um dos mais importantes requisitos para a concessão
da autorização diz respeito ao consentimento
prévio e informado dos Baniwa para o acesso
a seus conhecimentos tradicionais.
Neste sentido, o projeto é respaldado por
um termo de compromisso firmado entre INPA, OIBI
e ISA, que estabeleceu uma série de condicionantes
para a publicação dos resultados da
pesquisa. Entre elas destaca-se o direito dos Baniwa
proibirem, a seu exclusivo critério, a divulgação
de qualquer informação sobre conhecimento
tradicional na publicação da pesquisa.
Outro atrás...
No mesmo dia em que
aprovou a pesquisa junto aos Baniwa, o CGEN aprovou
a proposta da abertura de um processo de revisão
da Resolução nº5, que estabelece
as diretrizes para a obtenção do consentimento
prévio para o acesso a conhecimento tradicional
associado ao patrimônio genético para
fins de pesquisa sem potencial ou perspectiva econômica.
O Ministério da Ciência e Tecnologia,
o Ministério da Agricultura e o Ministério
da Indústria e Comércio, entre outros
membros do conselho, defendem a necessidade de flexibilização
dos requisitos exigidos, pois a “burocracia excessiva”
compromete a pesquisa científica. Fruto de
acirrados debates entre diferentes setores de governo
e da sociedade civil, a Resolução
nº5 já representa uma flexibilização
em relação à Resolução
nº6, que diz respeito às diretrizes
para o acesso ao conhecimento tradicional associado
ao patrimônio genético para projetos
com potencial ou perspectiva de uso comercial.
A Resolução nº5 exige esclarecimento
sobre o projeto em linguagem acessível às
comunidades, com respeito às formas de organização
social, informações sobre impactos
sociais, culturais e ambientais do projeto e garantia
de respeito ao direito da comunidade de recusar
o acesso ao conhecimento tradicional. A Resolução
nº6, além disso, inclui entre suas diretrizes
a provisão de apoio científico, lingüístico,
técnico ou jurídico caso seja solicitado
pela comunidade, assim como exige a apresentação
ao CGEN de um laudo antropológico independente
para atestar a autenticidade do processo de consentimento
prévio.
Em nome de um suposto interesse científico
sem aplicações econômicas, o
que se sabe que nem sempre é real, uma flexibilidade
ainda maior para a pesquisa pode comprometer a legitimidade
do processo de consentimento prévio e informado,
prejudicando os detentores de conhecimentos tradicionais.
Mais espaço
para participação indígena
Ainda na última
reunião do CGEN foi lida por Jorge Terena,
do Departamento Etnoambiental da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), a moção
elaborada pelas 25 lideranças indígenas
que participaram do seminário sobre biodiversidade
e conhecimentos tradicionais realizado entre 28
e 30/6 em Brasília pelo ISA, Coiab e Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro (Foirn). No documento, exigem a garantia
da participação indígena no
CGEN, com poder de voto, e no processo de discussão
do Anteprojeto de Lei de Acessos aos Recursos Genéticos
e Proteção aos Conhecimentos Tradicionais,
que está sendo alterado a portas fechadas
na Casa Civil.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Fernanda Mathias)