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MAIS DE
70% DO TERRITÓRIO ARGENTINO É
ÁRIDO OU SEMI-ÁRIDO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Agosto de 2004
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América
Latina e Caribe enfrentam desertificação
e pobreza
10/08/2004 - A vizinha
Argentina ocupa grande parte de seu território
com agricultura, pecuária e produção
florestal. Essas atividades trazem retorno econômico,
mas também causam impactos significativos
no ambiente natural, nas águas e nos solos,
ampliando a cada ano as áreas erodidas e
desertificadas. No país, as regiões
áridas e semi-áridas já somam
75% do território nacional, cerca de dois
milhões de quilômetros quadrados. Essas
regiões abrigam dez milhões de pessoas,
um em cada quatro argentinos, e são responsáveis
por 40% do Produto Bruto do país.
Todos esses fatores fazem com que o tema desertificação
seja presença constante na agenda política
argentina, afirmou Octavio Perez Pardo, director
de Solos e Luta contra a Desertificação
da Argentina (foto acima). Pardo foi um dos participantes
da 1ª Conferência Sul-Americana sobre
Combate à Desertificação, que
aconteceu na última semana, em Fortaleza
(CE). "A conservação do solo
e o uso racional dos recursos naturais são
temas estratégicos para o país",
disse.
América
Latina enfrenta desertificação e pobreza
De acordo com Sergio
Zelaya (foto), coordenador para América Latina
e Caribe da Convenção das Nações
Unidas para o Combate à Desertificação,
os países da região enfrentam um acelerado
processo de degradação ambiental e
social, onde a desertificação estão
atrelados à pobreza. Segundo ele, as populações
mais empobrecidas e mais vulneráveis, cerca
de 180 milhões de pessoas (população
semelhante à brasileira), são justamente
as mais afetadas por esses processos. "A desertificação
chega a frear o desenvolvimento de algumas nações,
principalmente das mais pobres", disse.
Dos 33 países da região, onze já
concluíram seus planos nacionais de combate
à desertificação, outros 11
devem finalizá-los até setembro deste
ano, e o restante, até outubro de 2005 (ver
tabela abaixo). Segundo o representante das Nações
Unidas, quanto mais os planos nacionais de combate
à desertificação estiverem
articulados política e socialmente, tanto
mais fácil será para que consigam
recursos junto a organismos internacionais para
sua implementação. "O programa
brasileiro tem forte vínculo entre combate
à desertificação e à
pobreza, e isso facilitará a obtenção
de recursos", disse.
Desmatamento
acompanha desertificação
O aumento das áreas
degradadas na Argentina tem acompanhado a redução
das florestas. Nos últimos 75 anos, o desmatamento
para exploração madeireira, geração
de energia e agropecuária atingiu quase 70%
da superfície original. Associado a isso,
o país enfrenta perda acentuda de espécies
animais e vegetais e degradação dos
recursos hídricos.
Nas diferentes regiões do país, o
avanço da desertificação tem
causas específicas. Na Patagônia, um
"deserto frio e com água", o número
de rebanhos, principalmente de ovinos, é
tão grande que trouxe impactos irrecuperáveis
em alguns pontos. Nas regiões irrigadas de
Mendoza, San Juan, Rio Negro e Santiago del Estero,
entre outras províncias (estados), a dificuldade
no escoamento das águas tem provocado salinização
e perda de produtividade. No Norte, o semi-árido
avança nos espaços onde antes existiam
florestas. Matas são derrubadas para cultivo
de soja, algodão ou cana-de-açúcar,
por dois ou três anos, abandonando-se a terra
em seguida. Nas zonas de altitude (puna), a vegetação
tem sido usada em excesso para produção
de lenha, deixando o solo descoberto. Algumas escolas,
contou Pardo, exigem uma quantidade de lenha para
aceitarem a inscrição dos alunos,
levando a grande desflorestamento a cada período
letivo.
De acordo com o diretor de Solos, a Argentina debate
hoje justamente sobre o avanço da fronteira
agrícola, alavancada pela produção
de commodities como a soja e o algodão (produtos
com grande liquidez, que se transformam em dinheiro
rapidamente em qualquer parte do mundo). Segundo
Pardo, o avanço da agropecuário é
observado sob uma nova ótica. "Não
podemos colocar a situação como uma
luta da agropecuária contra as florestas,
mas sim avaliar quais são os limites do país
e qual será o melhor modelo essas atividades",
disse.
Plano Argentino
O país finalizou
seu Plano de Ação Nacional de Luta
contra a Desertificação (PAN) em 1996
e, desde então, vem desenvolvendo uma série
de atividades, divididas em vários ministérios
e províncias. Conforme Pardo, o avanço
dos programas é acompanhado por um Conselho
Assessor, que se reúne a cada quatro meses
e é formado por membros de governos, produtores,
sociedade civil e instituições de
ensino e pesquisa. Várias províncias
estão adequando suas leis, foi lançado
um Atlas da Desertificação, novas
linhas de financiamento e compensação
ambiental estão sendo desenvolvidas, além
de fundos rotativos para pequenos produtores. Além
disso, as melhores experiências com produção
sustentável são reunidas na publicação
Alternativas Produtivas Sustentáveis, já
na quarta edição.
O país está investindo cerca de 800
milhões de Pesos (quantia semelhante em Reais)
no combate à desertificação.
Somente na Patagônia, serão investidos
US$ 30 milhões (R$ 90 milhões), em
10 anos, para melhorar o manejo dos rebanhos, e
outros US$ 5 milhões para o desenvolvimento
de alternativas de produção. "As
ações não podem ser somente
de caráter ambiental, mas envolver também
aspectos econômiocos e sociais", disse.
Conforme Zelaya, a desertificação
não traz somente resultados negativos aos
países e regiões afetadas. Segundo
ele, nas ações para recuperação
dos solos, por exemplo, novos produtos e culturas
podem ser desenvolvidas. A América Latina
é hoje a maior produtora mundial de café,
que veio de regiões áridas da África.
É possível citar também a cultura
da batata, a produção de vinhos e
de soja. "A questão é reconhecer
a aproveitar a realidade e as potencialidades de
cada país".
PANs
na América Latina e Caribe
Países que
concluíram programas:
Brasil, México, Argentina, Cuba, Guatemala,
El Salvador, Nicarágua, Peru, Bolívia,
Chile, Paraguai
Países finalizando programas:
Venezuela, Santa Luzia, República Dominicana,
São Vicente, Barbados, Jamaica, Honduras,
Costa Rica, Panamá, Uruguai, Equador
Fonte: Sergio Zelaya / UNCCD
Fonte: MMA – Ministério
Meio Ambiente (www.mma.gov.br)
Ascom