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CRIAÇÃO
E GESTÃO PARTICIPATIVA DE UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO (UCS) EM DISCUSSÃO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2004
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18/08/2004 - Diretrizes
para a realização de consultas públicas
para a criação de UCs e para a formação
e funcionamento de conselhos de gestão de
UCs serão geradas a partir dos debates e
propostas apresentados no evento realizado na última
semana pelo Ministério do Meio Ambiente com
apoio de diversas organizações.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), instituído em 2000 pela Lei 9.985,
tem como uma de suas diretrizes assegurar a participação
efetiva das populações locais na criação,
na implantação e na gestão
das Unidades de Conservação (UCs).
Entretanto, a participação pública
ainda não está garantida nem no processo
de consulta para a criação de UCs,
nem na gestão dessas áreas protegidas.
Foi isso que esteve em discussão durante
a oficina Gestão Participativa do SNUC, organizada
pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do
MMA, com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(Funbio), do WWF-Brasil, da The Nature Conservancy
(TNC) e do Instituto Internacional de Educação
do Brasil (IIEB), entre 10 e 12/8, em Brasília
(DF).
Participaram do evento técnicos do Ibama
e do MMA, membros de conselho gestores de UCs e
representantes da sociedade civil. Na abertura,
foram apresentados os processo de consulta para
a criação das Florestas Nacionais
(Flonas) de Anauá (RR), do Parque Nacional
Grande Sertão Veredas (MG/BA) e da Reserva
Extrativista Batoque (CE) e a situação
dos conselhos gestores do Parque Nacional da Serra
do Divisor (AC), do Parque Nacional de Jurubatiba
(RJ), do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (SP),
da Floresta Nacional do Tapajós (PA), DA
Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (PA)
e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá (AM).
Tropeços
da participação
Se antes da lei as principais demandas e preocupações
giravam em torno de assegurar a participação
pública no processo de criação
de UCs, agora o principal problema é administrar
os interesses conflitantes, desde governos locais
a grandes empresas. No caso da criação
da Resex do Batoque, por exemplo, a população
local teve de se confrontar com interesses da empreiteira
Odebrecht, que pretendia construir um complexo hoteleiro
na área, orçado em US$ 80 milhões.
Pouca divulgação prévia, dificuldade
de locomoção e capacitação
adequada dos atores locais para a discussão
foram apresentadas como obstáculos recorrentes
no processo de consulta para a criação
de novas Unidades de Conservação.
Outro entrave é a utilização
desses processos para negociações
políticos de outros interesses, potencializada
pela conjuntura política e a composição
pluripartidária do governo federal, o que
ocorreu durante a criação da Flona
Anauá. Apesar da área da floresta
nacional pertencer à União, o governo
estadual tentou utilizá-la como moeda de
barganha para a regularização fundiária
das terras do Estado.
Há também uma certa descrença
em relação às consultas públicas.
E não apenas para a criação
de UCs, mas em diversos outros processos, como a
avaliação de Estudos de Impactos Ambientais
(EIA) de empreendimentos. Por acreditar que são
organizadas apenas para referendar opiniões
favoráveis ao que está sendo proposto
pelo poder público, muitos representantes
das populações locais acabam não
comparecendo às consultas.
Falta de
recursos e de comunicação
De acordo com o Programa de Monitoramento de Áreas
Protegidas do ISA, das 1034 Unidades de Conservação
(UCs) existentes hoje no país, apenas 97
contam com Conselhos Gestores - instâncias
previstas na gestão das UCs, que devem ser
formadas de forma paritária por representantes
da sociedade civil, do governo e da população
local [dependendo da categoria da unidade de conservação],
de caráter deliberativo ou consultivo.
Os principais problemas dos conselhos gestores são
relativos à falta de meios de comunicação
específicos para a promoção
dos conselhos, à lentidão dos órgãos
ambientais em repassar verbas para o funcionamento
e implementação das decisões
dos conselhos e falta de assessoria dos chefes das
UCs aos conselheiros. Após as exposições,
os participantes foram divididos em grupos para
formular propostas relacionadas ao papel, à
composição e ao funcionamento dos
conselhos. Entre as sugestões, que sejam
promovidos cursos de capacitação sobre
legislação ambiental, captação
de recursos, gestão de recursos públicos,
elaboração de projetos, gestão
participativa, gestão de conflitos e de desenvolvimento
de alternativas econômicas e de formação
política para as lideranças locais.
Além disso, foi proposta a produção
de cartilhas sobre os objetivos e atribuições
dos conselhos, agilidade na aprovação
dos planos de manejo, criação de instrumentos
de interlocução e de responsabilidade
compartilhada na tomada de decisões sobre
o uso dos recursos das UCs e entorno, efetivação
da representatividade paritária [órgãos
gestores x sociedade civil] e criação
de mecanismos de descentralização
do poder nos conselhos.
Segundo Iara Vasco, do Departamento de Áreas
Protegidas da Secretaria de Biodiversidade e Florestas
do MMA, os resultados da oficina serão sistematizados
e irão compor um documento com diretrizes
para a realização de consultas públicas
e de formação de conselhos gestores,
que será disponibilizado no final de setembro
no site do Ministério do Meio Ambiente, para
consulta e sugestões.
Fonte: ISA - Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa