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ONGS E MOVIMENTOS
SOCIAIS DENUNCIAM À ONU FALTA DE
AÇÃO DO GOVERNO LULA CONTRA
A VIOLÊNCIA NA AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) Brasil
Agosto de 2004
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20-08-2004
- As 43 ONGs e movimentos sociais reunidos desde
terça-feira, dia 17, em Ananindeua (PA) divulgaram
ontem uma carta aberta pedindo medidas urgentes
por parte do governo brasileiro no sentido de conter
a escalada da violência na Amazônia
legal. De acordo com os participantes do evento,
a situação foi apresentada há
cerca de um ano ao governo, sem que medidas efetivas
tenham sido tomadas.
Há um ano, a Plataforma Dhesc (Direitos Humanos,
Sociais e Culturais), rede nacional de ONGs pela
defesa dos direitos humanos, divulgou estudo realizado
pelo consultor da ONU para os direitos humanos Jean
Pierre Leroy apresentando a situação
de extrema violência vivenciada no Estado
do Pará, com denúncias de homicídios,
ameaças, invasões e grilagens de terras
praticados contra populações tradicionais
e extrativistas, povos indígenas e ribeirinhos.
De acordo com as organizações, a carta
aberta será encaminhada para as autoridades
governamentais, e a falta de ações
dos governos federal e estaduais será denunciada
à Organização das Nações
Unidas, à Organização dos Estados
Americanos e à Comissão Panamericana
de Defesa dos Direitos Humanos.
"A dinâmica do desmatamento na região
hoje se deve à expansão desordenada
da pecuária e do monocultivo da soja, à
grilagem de terras públicas, à exploração
ilegal e predatória de madeira, à
mineração, aos grandes projetos de
infra-estrutura, à política de incentivos
à exportação, à biopirataria
e ao desrespeito das decisões judiciais e
pela ausência do poder público. Neste
processo, milhares de comunidades, principalmente,
as tradicionais (ribeirinhos, extrativistas, pescadores
artesanais etc.), assim como povos indígenas,
quilombolas e agricultores familiares sofrem com
a destruição dos recursos naturais
e acabam forçados a sair ou são expulsos
de suas terras, florestas e rios. Sem condições
de fazerem frente a este processo, são violentadas
em seus direitos, e ficam sujeitas a ameaças
e violência contra a sua integridade física",
diz a carta.
Entre as recomendações apresentadas
está a investigação, apuração
e efetiva punição imediata dos agentes
públicos dos poderes executivo, legislativo
e judiciário vinculados à violação
de direitos humanos, sociais, ambientais, econômicos
e culturais, que facilitam a grilagem de terras
e a destruição do patrimônio
natural. As organizações também
pedem a conclusão dos inquéritos e
julgamento dos processos sobre grilagem de terras
públicas e violência no campo, que
se arrastam nas justiças federal e estaduais.
Além disso, solicitam o fortalecimento do
Ministério Público para investigação
das irregularidades identificadas em órgãos
públicos federais, estaduais e municipais.
O documento é assinado pelo Greenpeace, Associação
Brasileira de ONGs (ABONG), Fórum da Amazônia
Oriental (FAOR), Fórum da Produção
Familiar da Amazônia (FPFA), Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA), Movimento Nacional de Direitos
Humanos (MNDH), Rede Brasileira de Justiça
Ambiental (RBJA), entre outras redes e entidades.
Leia a íntegra da carta em www.greenpeace.org.br/amazonia/docs/carta_justica.doc
Ananindeua, 20 de agosto de 2004.
CARTA ABERTA
NA FLORESTA
TÊM DIREITOS JUSTIÇA AMBIENTAL NA AMAZÔNIA
JÁ!
As redes e entidades participantes da Oficina de
Justiça Ambiental e Desmatamento na Amazônia,
realizada no Centro Educacional Sagrada Família,
em Ananindeua (PA), entre os dias 17 e 20 de agosto
de 2004, dos estados do Amapá, Pará,
Maranhão, Tocantins, Amazonas, Rondônia
e Acre, vêm manifestar sua grande preocupação
quanto à falta de ações efetivas
dos poderes públicos municipais, estaduais
e federal, frente à violação
constante e sistemática dos direitos humanos
econômicos, sociais, culturais e ambientais
e, que se dissemina por todos os estados da Amazônia
Legal Brasileira.
As/Os brasileiras/os que vivem na Amazônia
sofrem, no dia a dia, as conseqüências
da ausência e da fragilidade do poder público
e, muitas vezes, com sua conivência com as
injustiças. Isto se reflete na falta de garantia
mínima de direitos a saúde, educação,
moradia, acesso a terra, segurança, entre
outros, requisitos básicos para lhes conferir
a condição de cidadãs/ãos.
Estas/es brasileiras/os ficam expostos à
violência expressa em suas mais diferentes
facetas.
Nos dois últimos anos, foram desmatadas na
Amazônia áreas superiores 4,7 milhões
de hectares de florestas e áreas de cerrado
entre 1,2 e 3,0 milhões de hectares são
destruídas anualmente. Projeções
recentes indicam que a taxa de desmatamento na Amazônia
para o período 2003/2004 seja igual ou até
mesmo superior ao identificado nos dois períodos
anteriores.
A dinâmica do desmatamento na região
hoje se deve à expansão desordenada
da pecuária e do monocultivo da soja, à
grilagem de terras públicas, à exploração
ilegal e predatória de madeira, à
mineração, aos grandes projetos de
infra-estrutura, à política de incentivos
à exportação, à biopirataria
e ao desrespeito das decisões judiciais e
pela ausência do poder público. Neste
processo, milhares de comunidades, principalmente,
as tradicionais (ribeirinhos, extrativistas, pescadores
artesanais etc.), assim como povos indígenas,
quilombolas e agricultores familiares sofrem com
a destruição dos recursos naturais
e acabam forçados a sair ou são expulsos
de suas terras, florestas e rios. Sem condições
de fazerem frente a este processo, são violentadas
em seus direitos, e ficam sujeitas a ameaças
e violência contra a sua integridade física.
São obrigadas a deixar suas áreas
de origem, onde seu potencial econômico é
e foi historicamente marginalizado pela ausência
de políticas públicas, e vão
engrossar as fileiras de miséria nas áreas
urbanas da Amazônia.
Uma parte dos poderes judiciários e do Ministério
Público estadual e federal é um dos
grandes responsáveis por este processo, pois
freqüentemente não julgam e nem punem
os culpados pelas mais terríveis atrocidades
contra o ser humano e o meio ambiente, caracterizando
a total falta de justiça social e ambiental
em diversas localidades da Amazônia brasileira.
Em muitos casos, o poder judiciário se coloca
à disposição servil dos agentes
que destroem a natureza e o futuro das populações
amazônicas, assim como esbulham e dilapidam
o patrimônio público natural e financeiro.
Inúmeros processos já estabelecidos
de reconhecimento do direito à terra para
estas populações, são vetados
por autoridades do poder judiciário, favorecendo
o agravamento desta realidade.
Em março de 2003, a sociedade civil organizada
(Organizações Não-Governamentais,
Movimentos Sociais, Comunidades Locais etc.), através
da publicação do Relatório
Brasileiro sobre Direitos Humanos, Econômicos,
Sociais e Culturais, Capítulo I Direitos
Humanos ao Meio Ambiente Relatório da Missão
ao Pará, do Projeto Relatores de Direitos
Humanos da Plataforma Brasileira DHESC (Direitos
Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais),
denunciou diversas violações graves
de direitos humanos relacionados à destruição
do patrimônio natural na Amazônia, fazendo
recomendações aos seguintes órgãos:
Ministério do Meio Ambiente, Secretaria Nacional
de Direitos Humanos, Ministérios Públicos
Estadual e Federal, IBAMA, INCRA, ITERPA, Secretaria
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do
Estado do Pará, Secretaria de Segurança
Pública do Estado do Pará, e Polícias
Civil, Militar e Federal e Tribunal de Justiça
do Estado.
Além das instituições brasileiras,
o relatório foi também encaminhado
a entidades internacionais, como a Organização
das Nações Unidas e à Organização
dos Estados Americanos.
A partir das recomendações, foi possível
monitorar o processo de implementações
de medidas e ações. Em junho de 2004,
foram encaminhados ofícios aos mesmos órgãos
públicos, a fim de solicitar informações
sobre as ações implementadas. Apenas
o Ministério do Meio Ambiente, os Ministérios
Públicos Estadual e Federal e a Secretaria
de Segurança Pública do Estado do
Pará responderam ao ofício. Diante
do silêncio da maioria das instituições,
efetuou-se convite para uma Audiência Pública,
que seria realizada na Assembléia Legislativa
do Estado do Pará, abrindo a possibilidade
para que prestassem contas à sociedade civil.
No dia 18 de agosto de 2004, realizou-se, então,
a Audiência Pública Justiça
Ambiental na Amazônia, na Assembléia
Legislativa do Estado do Pará, em Belém,
a fim de informar à sociedade civil sobre
as ações implementadas para resolução
dos problemas e os resultados obtidos. Foram encaminhados
convites aos seguintes órgãos: Ministérios
Públicos Estadual e Federal, Tribunal de
Justiça do Estado, IBAMA, INCRA, ADA, ITERPA,
SECTAM, Delegacia de Meio Ambiente/SEGUP, Assembléia
Legislativa do Estado do Pará. Compareceram
à audiência apenas representantes do
IBAMA, INCRA, ITERPA e Assembléia Legislativa
do Estado do Pará. Representantes de 43 redes
e entidades da sociedade civil, dos estados do Amapá,
Pará, Maranhão, Tocantins, Amazonas,
Rondônia e Acre, estiveram presentes à
Audiência Pública.
As ações dos órgãos
governamentais às recomendações
do relatório da Plataforma DHESC, expressas
nas respostas aos ofícios e nas apresentações
de seus poucos representantes presentes ao evento
citado, demonstraram a inoperância do poder
público no encaminhamento de ações
efetivas para a solução dos sérios
conflitos narrados no Relatório da Plataforma
DHESC, o desrespeito a brasileiras/os atinge pelo
avanço da destruição do meio
ambiente na Amazônia e a falta de vontade
política para atender às demandas
da sociedade civil que busca defender os interesses
coletivos e difusos.
As entidades reunidas na Oficina de Justiça
Ambiental e Desmatamento na Amazônia vêm,
pois, reafirmar mais uma vez as recomendações
contidas no Relatório da Plataforma DHESC
e na Carta aberta do GTA Desenvolvimento Local
na Amazônia (anexas a esta) e solicitar às
autoridades federais e estaduais a efetivação
de:
1) Investigação,
apuração e efetiva punição
imediata sobre a ação de agentes públicos
dos poderes executivo, legislativo e judiciário
vinculadas à violação de direitos
humanos, sociais, ambientais, econômicos e
culturais, que facilitam a grilagem de terras e
a destruição do patrimônio natural,
que possibilitam o recrudescimento da violência
contra os povos da Amazônia, que impedem o
avanço da reforma agrária e do estabelecimento
de áreas protegidas, terras indígenas
e áreas quilombolas.
2) Imediata conclusão dos inquéritos
e julgamento dos processos sobre grilagem de terras
públicas e violência no campo, que
se arrastam nas justiças federal e estaduais.
3) Implantação de Varas Agrárias
e Ambientais e Ouvidorias autônomas nas regiões
de conflito, com a nomeação de Juizes
Titulares, Promotores e Delegados, além de
garantir a estrutura física, administrativa
e financeira necessária para o funcionamento
eficiente das mesmas.
4) Fortalecimento do Ministério Público,
com recursos humanos, materiais e financeiros, e
garantia de sua independência e autonomia
para investigação das irregularidades
identificadas em órgãos públicos
federais, estaduais e municipais, com o indeferimento
do recurso pede anulação processual
nos casos em que o Ministério Público
atue como órgão investigador, que
tramita no Supremo Tribunal Federal.
5) Aprovação por parte do congresso
nacional da proposta de emenda constitucional que
expropria as propriedades onde são identificados
trabalhadores sob regime escravo, para fins de reforma
agrária, antes do processo transitar em julgado.
6) Elaboração de Proposta de Emenda
Constitucional, e encaminhamento ao Congresso Nacional,
para a incorporação ao patrimônio
público das áreas acima de 2500 hectares
onde o desmatamento ilegal supere 50 % do autorizado
pelos órgãos ambientais.
7) Reestruturação do sistema de autuações
de infrações e de penalidades aos
crimes sociais e ambientais, possibilitando o rito
sumário na aplicação das multas
e demais penalidades.
8) Destinação imediata de toda da
madeira e equipamentos apreendidos em operações
de fiscalização dos órgãos
ambientais aos projetos de desenvolvimento sócio-ambientais
das entidades do movimento social e às comunidades
atingidas pelos crimes cometidos pelos infratores.
9) Definição de um modelo de desenvolvimento
para a Amazônia baseado nas práticas
tradicionais dos povos da região, no desenvolvimento
sustentável, com participação
e controle social na definição de
projetos de desenvolvimento prioritários
que privilegiem estes povos e salvaguardem seus
direitos e conhecimentos.
10) Identificação e mapeamento das
localidades onde habitam populações
tradicionais, quilombolas, povos indígenas
e agricultores familiares e suas áreas de
uso, para imediata identificação,
demarcação e homologação
de suas terras e territórios.
11) Imediato reconhecimento e deferimento dos processos
(Reservas Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento
Sustentável, Projetos Agro-extrativistas,
Projetos de Assentamento Florestal etc.) demandados
pelas comunidades tradicionais e de agricultores
familiares da Amazônia para sua regularização
fundiária, para a gestão do território
e o manejo dos recursos naturais de forma sustentável
e sob certificação sócio-ambiental
participativa, com s das metas e participação
e controle social.
12) Priorizar as populações tradicionais,
quilombolas povos indígenas e agricultores
familiares nas políticas públicas,
nos projetos de desenvolvimento e na oferta de créditos,
financiamentos e assistência técnica
e extensão rural.
13) Identificar os principais produtos tradicionais
da Amazônia e adotar medidas imediatas que
impeçam que grupos empresariais registrem
seus nomes, através de patente.
14) Implementação de um Zoneamento
Social, Ecológico, Econômico e Cultural
efetivamente participativo, dando à sociedade
civil um papel não apenas de observador,
mas deliberativo.
15) Fim dos incentivos, subsídios, isenções
fiscais e financiamentos a atividades que resultem
em conversão da floresta, destruição
do meio ambiente e prejuízo aos povos da
Amazônia.
16) Revisão do Plano Pluri-Anual 2004-2007,
com incorporação das propostas elaboradas
nos fóruns estaduais de participação,
e discussão ampla do Plano Amazônia
Sustentável pela sociedade civil, bem como
monitoramento do Plano de Ação para
o Combate ao Desmatamento na Amazônia Legal.
Esta carta será
encaminhada às autoridades governamentais
brasileiras, e a falta de ações dos
governos federal e estadual será denunciada
à Organização das Nações
Unidas, à Organização dos Estados
Americanos e à Comissão Panamericana
de Defesa dos Direitos Humanos.
Mais uma vez, a sociedade civil requer que os poderes
públicos estadual e federal atentem aos conflitos
que se agravam dia após dia no interior da
Amazônia e tomem providências urgentes,
imediatas, que contemplem os interesses de suas
populações tradicionais, de seus povos
indígenas e de seus agricultores familiares.
Chega de impunidade, chega de violência, chega
de injustiça! Pela justiça social,
ambiental, econômica e cultural na Amazônia,
assinamos este documento.
Assinaturas
Associação Brasileira de
ONGs ABONG
Fórum da Amazônia Oriental FAOR
Fórum da Produção Familiar
da Amazônia FPFA
Grupo de Trabalho Amazônico GTA
Movimento Nacional de Direitos Humanos MNDH
Rede Brasileira de Justiça Ambiental RBJA
Associação das Comunidades Remanescentes
de Quilombo do Erepecuru ACORQE (Pará)
Associação das Comunidades Remanescentes
de Quilombos do Município de Oriximiná
ARQMO (Pará)
Associação Regional das Casas Famílias
Rurais Norte e Nordeste ARCAFAR
Central Única dos Trabalhadores CUT (Rondônia)
Centro de Educação e Assessoria Popular
CEAP (Rondônia)
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
CEDENPA (Pará)
Centro de Estudos e Práticas de Educação
Popular CEPEPO (Pará)
Centro de Estudos, Pesquisa e Formação
dos Trabalhadores do Baixo Amazonas CEFTBAM (Pará)
Centro dos Direitos Humanos de Palmas CDHP (Tocantins)
Comissão Pastoral da Terra CPT (Pará,
Tocantins, Maranhão)
Comitê de Desenvolvimento Sustentável
de Porto de Moz CDS (Pará)
Conselho Indígena Missionário CIMI
(Tocantins, Pará)
Conselho Municipal da Condição Feminina
CMCF (Pará)
Cooperativa de Serviço e Apoio ao Desenvolvimento
Humano e Sustentável ATIORÔ (Pará)
Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira
COIAB
Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro FOIRN (Amazonas)
Federação de Órgãos
para Assistência Social e Educação
FASE
Federação dos Trabalhadores na Agricultura
FETAGRI/PA
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense
FMAP (Pará)
Fundação Viver Produzir e Preservar
FVPP (Pará)
Greenpeace
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais IESA
(Amapá)
Movimento de Mulheres do Campo e Cidade MMCC (Pará)
Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira
do Campo e Cidade MMTACC (Pará)
Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense MMNEPA
(Pará)
Movimento Nacional de Luta pela Moradia MNLM (Tocantins)
Movimento Nacional de Pescadoras Artesanais MONAPE
Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica
e Xingu MDTX (Pará)
Plataforma DHESC
Processo de Articulação e Diálogo
PAD
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gurupá
STR/Gurupá (Pará)
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto de Moz
STR/Porto de Moz (Pará)
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém
STR/Santarém (Pará)
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos SMDH
(Maranhão)
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos
SDDH (Belém/Marabá)
Universidade Popular UNIPOP (Pará)
ANEXO I
PROPOSTAS DO RELATÓRIO DA PLATAFORMA DHESC
Contenção
da violência
Que seja dado um Basta à violência.
Que os Órgãos Federais - INCRA, o
IBAMA, a Polícia Federal, a Justiça
Federal - assegurem uma presença efetiva,
acabando com as acusações de corrupção
e de favorecimento das classes dominantes dirigidas
ao INCRA e ao IBAMA, com a sensação
de impunidade total e de vácuo do poder na
região. Supõe uma renovação
dos seus quadros, o seu reaparelhamento e a abertura
de delegacias e comarca em Altamira. Deveriam o
quanto antes ser formadas forças-tarefa encarregadas
de enfrentar conjuntamente as situações
mais problemáticas;
Que a Secretaria Especial de Direitos Humanos e
a Secretaria de Segurança Pública
do Ministério da Justiça promovam
uma ação conjunta visando a verificar
os laços existentes entre a violência
e a ilegalidade do contrabando de madeira e suas
possíveis conexões com o crime organizado
e a combatê-los;
Que se proceda ao desarmamento dos empregados de
madeireiras e fazendeiros (a não confundir
com armas de caça de subsistência)
e dos pistoleiros;
Que as polícias civil e militar sejam providas
de recursos suficientes - equipamentos e verbas
- para que não sejam refém do poder
político e econômico local;
Que seja viabilizada o quanto antes a instalação
do Ministério Público e de Juízes
nos municípios;
Que os inquéritos policiais que envolvem
participantes de organizações da sociedade
local e violência sejam conduzidos por delegados
da capital; que o Ministério Público
acompanhe de perto as investigações
desses inquéritos;
Que seja garantida segurança de vida aos
membros do Comitê de Porto de Moz e demais
organizações locais que estão
a frente da criação da reserva Verde
Para Sempre e das denúncias de grilagem
de terras públicas e falsos planos de manejo;
Que os inquéritos sejam acompanhados pela
Polícia Federal, levando em conta que os
crimes e outras violências praticadas envolvem
questões ambientais que são de responsabilidade
federal;
Que se aceleram as investigações e
processos decorrentes dos escândalos da SUDAM,
os desvios de recursos, e que na investigação
das denúncias seja considerada a fundamental
importância da eventual participação
de servidores da extinta SUDAM na aprovação
de projetos de recuperação de terras
degradadas em áreas onde ainda prevalece
mata primária.
Regularização
fundiária
A regularização fundiária é
uma prioridade absoluta. Na impossibilidade efetiva
de realizá-la em todas as áreas, teria
que se concentrar:
a. em áreas já ocupadas por colonos
ainda sem título de propriedade, por posseiros
e por populações tradicionais onde
há projetos por parte dessas populações;
b. em áreas já ocupadas por colonos
ainda sem título de propriedade, por posseiros
e por populações tradicionais onde
há projetos por parte dessas populações,
onde houver conflitos;
c. nas demais áreas já ocupadas por
colonos ainda sem título de propriedade,
por posseiros e por populações tradicionais;
d. em áreas em que o ecossistema encontra-se
ainda bastante preservado.
Supõe que o INCRA, o Ministério do
Meio Ambiente/IBAMA e o ITERPA sejam devidamente
orientados para isso;
Que haja possibilidade de realização
de ações discriminatórias administrativa
e/ou judicial para identificar a real situação
dos imóveis no que diz respeito aos aspectos
relativos à dominialidade dos mesmos e sua
efetiva ocupação;
Que sejam agilizados os processos de cancelamentos
de títulos fraudulentos que correm na Justiça
do Estado do Pará;
Que os pedidos de liminares de manutenção
de posse venham com mapas georeferenciados;
Que as certidões de justa posse apenas sejam
emitidas depois de uma vistoria dos técnicos
do INCRA ou do ITERPA na área pretendida;
Que o INCRA e o ITERPA estabeleçam um convênio
para a regularização da área
denominada Fazenda Cemauma, no município
de Anapu;
Que seja definida e demarcada uma área de
300.000 hectares, na Gleba Gorotire, região
conflituosa de Castelo dos Sonhos, destinando-a
para reforma agrária;
Articulação
entre os órgãos competentes
Que haja diálogo entre órgãos
federais e estaduais para a definição
clara de competências;
Que sejam criadas forças-tarefa juntando,
conforme o caso, INCRA, IBAMA, ITERPA, SECTAM, GRPU,
AGU, Polícia Federal e Polícia Civil/DEMA
estadual, com Público Federal acompanhando
a tramitação dos processos no Ministério
de Desenvolvimento Agrário - MDA - e no Ministério
do Meio Ambiente MMA;
Que, quando houver contestação judicial,
para a madeira apreendida, sejam encontradas formas
jurídicas para que lhe seja dado um destino
antes do seu desaparecimento ou apodrecimento;
Que as próximas eleições municipais
sejam fiscalizadas com rigor pela Justiça
Eleitoral e pela Polícia Militar, especialmente
no município de Porto de Moz.
Contenção
da exploração ilegal
Que não sejam mais autorizados pelo IBAMA
Planos de Manejo Florestal Sustentável sem
acompanhamento in loco ou sem que as atividades
da empresa no local sejam certificadas;
Que, nas áreas em conflito, sejam imediatamente
suspensas as autorizações de exploração
madeireira em escala industrial;
Que as operações da Polícia
Federal e do IBAMA contra desmatamentos e exploração
madeireira ilegal não sejam divulgadas antecipadamente
na imprensa;
Que a compra, por parte de empresas do Brasil e
do exterior, de madeira proveniente de áreas
em conflito seja imediatamente interrompida;
Impõe-se de imediato ao Governo Federal a
efetiva criação das Reservas Extrativistas
Verde para Sempre, em Porto de Moz, e a de Anapu,
e a efetiva viabilização dos PDSs
de Anapu;
Que o Governo Federal delimite, demarque e homologue
os territórios indígenas da região,
e por meio da FUNAI promova a retirada de não
indígenas, com a justa indenização,
quando for o caso, e forneça assistência
necessária e a fiscalização
contra novas invasões;
Que haja conversações de alto nível
entre o Governo Federal e o Governador do Pará
para abrir politicamente a possibilidade de criação
de outras reservas e/ou formas alternativas de assentamento
das comunidades da região das Ilhas e Baixo
Amazonas.
Valorização
e implementação de alternativas
Que haja programas públicos voltados para
a formação ao manejo florestal sustentável
dos pequenos e médios madeireiros e das serrarias.
Que seja dado com urgência um destino sócio-ambiental
a madeira apreendida na região. No caso da
madeira proveniente do grilo da C.R. Almeida, deveria
se estabelecer um diálogo de alto nível
dos Ministérios do Meio Ambiente e da Justiça
para dar que possa ser dada uma solução
rápida nesse sentido. Poderia ser criado
um Fundo de gestão dessa madeira e da madeira
apreendida em geral pelo Ibama, localizado no MMA
e gerido por um Conselho composto por representantes
da sociedade civil organizada e por representantes
de órgãos públicos, local e
federal. O produto do Fundo poderia ir para projetos
tais como re-aparelhamento do IBAMA, projetos de
desenvolvimento sustentável das comunidades
vítimas; equipamento de escolas;
Que o MMA e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário, no intuito de fortalecerem o contraponto
ao modelo de exploração não
sustentável na região, apóiem
em conjunto a valorização de práticas
sustentáveis de agroextrativismo, da agricultura
familiar e do manejo de ecossistemas aquáticos;
a implantação da escala das experiências-piloto
de manejo florestal de uso múltiplo; a criação
de cooperativas de produtores e pequenos extratores;
que o Pró-ambiente seja definido como prioridade;
Que as propostas de desenvolvimento sustentável
formuladas pelas organizações da sociedade
civil e entidades de pesquisa e assessoria sejam
consideradas como base para a discussão do
próximo PPA;
Que o Projeto da CHE Belo Monte seja submetido a
mais amplos estudos e que sejam priorizadas outras
alternativas; que sejam realizados estudos de impacto
agregados do Avança Brasil na região,
para subsidiar as propostas de asfaltamento das
rodovias, hidrovias e hidroelétricas planejadas
para a região.
Que seja implementado progressivamente um Comitê
de Bacia do rio Xingu, com a participação
dos movimentos e organizações que
atuam na bacia;
Que o Projeto de Gestão Ambiental Integrada
do Estado do Pará - PGAI-PA, sob a responsabilidade
do Ministério Público Estadual (Núcleo
de Meio Ambiente), seja implementado na região,
com a participação dos setores do
MMA e do MDA que estejam presentes na região;
Que seja instaurado um processo de zoneamento ecológico-econômico
participativo na região (Transamazônica,
Terra do Meio, Cuiabá-Santarém, Xingu,
etc.).
ANEXO II
CARTA ABERTA DO GTA DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA
ANEXO IMPRESSO
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa