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ARBUSTO
AUSTRALIANO É A MAIS NOVA AMEAÇA
À AMAZÔNIA
Panorama
Ambiental
Rio de Janeiro (RJ) – Brasil
Março de 2004
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A plantação
de uma espécie de árvore originária
da Austrália em milhares de hectares da Amazônia
brasileira, cuja utilização beneficia
a indústria do papel, é uma ameaça
para a biodiversidade, segundo grupos ecológicos
e cientistas consultados pela EFE.
Um grupo empresarial de capitais suíço
e canadense, o BrancoCel, está por trás
das extensas plantações nos cerrados
do estado de Roraima, no norte do país.
"Há uma preocupação com
o impacto ambiental provocado por estas plantações
perto de povoados indígenas. Elas afetam
o volume da água", disse André
Vasconcelos, porta-voz do Conselho Indígena
de Roraima, (CIR), uma organização
integrada por comunidades nativas.
O BrancoCel tem autorização para cultivar
até 70 mil hectares - existem 30 mil hectares
prontos para a colheita - da espécie acácia
mangio (acacia mangium)".
O grupo também pretende aproveitar os enormes
benefícios fiscais para construir, em Boa
Vista, capital de Roraima, uma fábrica para
produzir celulose.
"O governo vai lhes garantir energia subsidiada
por 20 anos. O dinheiro do povo será usado
para financiar uma empresa de capital internacional",
afirmou Vasconcelos.
Os líderes indígenas pedem que "a
legalidade do projeto e seu impacto nas comunidades"
sejam investigados.
Roraima tem 340 mil habitantes e grandes problemas
sociais, econômicos e ambientais. Dois terços
de seu território, de 250 mil quilômetros
quadrados, são de selva amazônica,
embora a fronteira agrícola e agropecuária
avance rapidamente, junto com a pobreza e a criminalidade.
O estado não tem comunicação
terrestre com o restante do Brasil, mas uma estrada
permite o acesso ao mar do Caribe através
da Venezuela, de onde recebe quase toda a energia
que precisa.
A empresa de papel prevê a exportação
de cerca de 120 mil toneladas de celulose por ano,
avaliadas em 100 milhões de dólares,
através de Manaus, capital do vizinho estado
do Amazonas, e de portos da Venezuela.
Os críticos temem o impacto ambiental que
a fábrica em construção pode
causar, dado o intensivo uso de cloro, soda cáustica,
água e energia.
Além disso, existem acusações
sobre as extensas plantações de espécies
exóticas, que exercem forte impacto em ecossistemas
frágeis, como o dos cerrados e das selvas
amazônicas.
Segundo cientistas, monoculturas como a da acácia,
que absorve enormes quantidades de água,
prejudicam os lençóis freáticos
do solo e alteram os ciclos hidrológicos.
"Agora, começa-se a descobrir a gravidade
do problema", afirmou Luiz Carlos Gomes, do
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), que agrupa
43 organizações comunitárias.
A BrancoCel alega que está "reflorestando"
o cerrado e que purificará a água
residual antes de devolvê-la ao rio, tudo
de acordo com as rígidas normas ambientais.
O grupo também afirma que gerará 6
mil empregos.
O projeto foi aprovado pelas autoridades ambientais
de Roraima, que o classificam como "a última
oportunidade de desenvolvimento do estado".
Mas os opositores advertem que o verdadeiro impacto
não foi calculado, assim como o custo real
dos empregos não qualificados que foram prometidos.
"Não dará resultado", avaliou
o biólogo especialista em manejo florestal
Niro Higuchi, do Instituto de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), ligado ao Ministério de Ciência
e Tecnologia (MCT).
"Essa espécie nunca foi experimentada
em grande escala. Não se trata sequer de
um problema ambiental, mas social e econômico,
com um investimento muito alto e de alto risco",
assegurou.
Em Roraima, a acácia soma-se ao gado e ao
cultivo da soja e do arroz na pressão sobre
a selva e o cerrado naturais, em um duvidoso modelo
de desenvolvimento.
"É uma incógnita", disse
o biólogo Reinaldo Imbrosio, também
do Inpa.
"É uma densidade muito grande de uma
só espécie para um ambiente extremamente
frágil", explicou. Nesse ecossistema
existem entre 250 e 270 espécies vegetais
identificadas. Elas estão sendo substituídas
por uma só.
"Provavelmente, isso terá impacto sobre
o ciclo hidrológico", acrescentou Imbrosio,
que há 20 anos pesquisa a Amazômia.
Descrita como uma "espécie invasiva",
a planta causou estragos em regiões da África
e de várias ilhas do Pacífico.
Organizações como a "Friends
of the Earth International" e a "World
Rainforest Movement" advertem que as monoculturas
de árvores não devem ser confundidas
com "reflorestamento" ou com a recuperação
de florestas de espécies nativas.
Na verdade, essas plantações esgotam
o solo e requerem o uso de pesticidas e adubos químicos.
Além disso, deslocam pequenas e médias
propriedades e, por essa razão, aumentam
a pressão sobre o preço das terras
e sobre novas áreas virgens.
Fonte: Agência EFE (www.efe.com)
Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa (Omar Lugo)