 |
CETESB PRODUZ
RELATÓRIO SOBRE CAPACIDADE DE SUPORTE
AMBIENTAL DA REGIÃO DE PAULÍNIA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2004
|
 |
A expansão
urbana na região de Paulínia resultou
no crescimento da área ocupada pelas cidades
em cerca de 10 vezes nos últimos 20 anos.
As conseqüências desse processo são
visíveis pelas constatações
de supressão de áreas verdes, com
as matas ciliares quase que completamente degradadas,
e pela necessidade cada vez mais intensa de recursos,
principalmente hídricos.
Os principais rios que cortam a região ainda
se encontram com água de boa qualidade, porém
já há indicativos, principalmente
relacionados ao lançamento de esgotos domésticos
sem tratamento, que mostram a necessidade de medidas
preventivas de proteção. No que se
refere à poluição do ar, o
ozônio é o poluente que mais preocupa
e, no geral, as atenções, normalmente
voltadas para as emissões industriais, não
podem perder de vista a importância das emissões
veiculares, que no caso da Região Metropolitana
de Campinas, da qual Paulínia faz parte,
têm como fonte uma frota de quase 900 mil
veículos.
Essas foram algumas das informações
destacadas na apresentação do “Diagnóstico
e Novas Formas de Gerenciamento Ambiental para a
Região de Paulínia”, ou “Projeto Paulínia”,
na 197ª Reunião Ordinária do
Plenário do CONSEMA – Conselho Estadual do
Meio Ambiente, em São Paulo, nesta quarta-feira
(17/3).
A apresentação do trabalho, um projeto-piloto
desenvolvido pela CETESB – Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental e coordenado pela Secretaria
do Meio Ambiente do Estado, foi feita pelo químico
Cláudio Alonso, que fez questão de
lembrar a grande mobilização da companhia
em torno do projeto, que durou dois anos e envolveu
18 equipes técnicas, num total de 200 funcionários.
Alonso explicou que a escolha do Município
de Paulínia, para um estudo de planejamento
ambiental, baseado principalmente na verificação
da capacidade de suporte ambiental de uma região
em receber novos empreendimentos, se deu, entre
outras razões, em função do
porte de seu parque industrial e suas características
físicas mais similares às normalmente
encontradas no Estado de São Paulo, contrapondo-se,
por exemplo, a de Cubatão, que tem características
próprias.
Esclareceu também que o principal objetivo
do projeto foi a implantação de uma
metodologia que permitisse a utilização
de ferramentas de diagnóstico com a finalidade
de se fazer prognósticos.
Quanto a isso, acredita ter se mostrado bastante
adequada a escolha de Paulínia em vista das
constatações realizadas, como o alto
índice de urbanização, com
uma população de cerca de 2 milhões
de habitantes, frota automotiva expressiva e um
grau de deterioração ambiental detectável,
porém ainda sob controle, além do
alto potencial de atração de novos
empreendimentos, estimulado pela inauguração
do Gasoduto Brasil-Bolívia.
Por outro lado, parte dos pedidos de licenciamento
recebidos pelo sistema de meio ambiente, relativos
à região de Paulínia, que também
apresenta potencial indutor para outros empreendimentos,
tem feito com que o poder público e a sociedade
local manifeste preocupação quanto
à degradação da qualidade ambiental.
Assim, conforme reiterou Alonso, esse trabalho constitui
um instrumento valioso que deverá permitir
a verificação da
capacidade de suporte
ambiental da região de Paulínia em
receber novos empreendimentos industriais.
Sistematização
de dados
A fase inicial do
projeto realizou-se com a sistematização
de dados de qualidade ambiental, já existentes,
dos compartimentos solo, ar, vegetação,
águas superficiais e subterrâneas.
Foram levantados dados disponíveis na CETESB,
outros órgãos da SMA e de outras instituições
como a EMBRAPA.
No caso dos dados relativos ao uso e ocupação
do solo, com a ênfase dada à vegetação
nativa, foram traçados os limites físicos
do projeto, num raio máximo de 20 quilômetros
a partir do centro de Paulínia, com a preocupação
de que, respeitando-se as características
físicas e ambientais, o trabalho não
atingisse grandiosidade tal que o inviabilizasse.
Utilizando cartas digitais, inventários do
Instituto Florestal, imagens de satélite
e informações georreferenciadas e,
quando necessário, levantamentos de informações
diretamente no campo, foi possível elaborar
a "Carta de Uso e Ocupação do
Solo da Região de Paulínia",
destacando-se, entre outras informações,
a verificação da evolução
da mancha urbana no período 1978-1999, que
ocupa, hoje, um espaço dez vezes maior que
em 1978. Consta ainda que várias cidades
da região, perderam sua característica
rural e tornaram-se essencialmente urbanas. Quantificou-se
o aumento significativo das chácaras, e principalmente
dos condomínios residenciais.
Outra informação importante é
a quantificação dos remanescentes
de matas nativas, verificando-se que nos últimos
dez anos quase metade das áreas verdes existentes
na região sofreu degradação
ou foi eliminada. As matas ciliares estão
descontínuas, com exceção da
significativa mata ciliar do Ribeirão Pirapitingui,
quase totalmente preservada.
No caso dos dados relativos às águas
superficiais, os trabalhos se desenvolveram dentro
dos princípios básicos do projeto,
com o levantamento de dados, sempre estruturados
para a aplicação de modelos matemáticos.
Na região, destaca-se o Rio Atibaia, objeto
de estudo específico já encerrado.
Os rios Jaguari e Camanducaia foram os corpos d'
água focados neste projeto.
Entre os principais dados levantados, constatou-se
que, visto o grau de controle industrial e a quase
inexistência de controle nos lançamentos
domésticos, a contribuição
das indústrias equivale a 39%, ficando os
lançamentos domésticos com 61% da
carga poluidora da bacia. Outro dado significativo
é quanto à importância estratégica
da proteção do manancial representado
pela bacia do Rio Jaguari, cujo trecho de cabeceira
já sofre influência dos lançamentos
do Município de Bragança Paulista.
Já entre Pedreira e Jaguariúna, se
observam alterações de qualidade associadas
a lançamentos de esgotos ou atividade pecuária
e na sua foz se detecta um pequeno número
de não-conformidades para metais pesados
e fenóis.
Quanto à qualidade das águas subterrâneas,
todas as amostras analisadas se referem ao Aqüífero
Itararé. De um modo geral, as águas
se apresentam adequadas para o consumo humano embora
alguns valores de nitrato já indiquem a necessidade
de medidas de proteção. Convém
lembrar que Hortolândia possui 40% de seu
abastecimento público suprido por águas
subterrâneas, Holambra, 30%, e Americana,
10,5%.
No que se refere ao uso industrial, constatou-se
que é alto o uso de águas subterrâneas,
registrando-se uma média de 43%, sendo que
em alguns municípios como Arthur Nogueira,
este consumo chega a 98%, destacando-se ainda Hortolândia,
com 78%, e Jaguariúna, com 75%.
No próprio Município de Paulínia,
este valor chega a 30%, demonstrando a importância
desse recurso inclusive para o balanço hídrico
da região.
Com relação ao item Ar, mereceu destaque
a implantação de um sistema para gerenciamento
das informações técnicas, o
SIGPAR.
Nesse sistema, destacam-se as informações
que caracterizam um diagnóstico da região
e, a partir dele, a implantação operacional
de modelos de dispersão que permitam a elaboração
de cenários prognósticos. Ficou caracterizado
em Paulínia que os ventos predominantes sopram
de leste (E) a sudeste (SE) em todas as estações
do ano, existindo uma direção secundária
com ventos provenientes de norte-noroeste (NNW).
O estudo da sazonalidade do comportamento da qualidade
do ar demonstrou bastante semelhança com
o observado na Região Metropolitana de São
Paulo e em Cubatão, com um significativo
aumento da poluição nos meses compreendidos
entre maio e setembro.
Os poluentes dióxido de enxofre (SO2 ), monóxido
(CO) e dióxido de nitrogênio (NO2)
apresentaram suas concentrações sempre
abaixo dos padrões legais em todos os períodos
de medição. O material particulado
foi medido por diversas metodologias e constataram-se
níveis elevados de "Partículas
Totais em Suspensão" (PTS) e de "Fumaça"
(FMC) com algumas ultrapassagens de padrão.
As "Partículas Inaláveis"
(MP10) apresentam um quadro um pouco mais grave,
tanto assim que, entre julho de 1999 e novembro
de 2000, foram registrados dez valores acima do
padrão. O ozônio é o poluente
que mais preocupações levanta uma
vez que em todas as campanhas de amostragens e,
mais recentemente, no monitoramento contínuo,
sempre são observados valores acima dos padrões,
atingindo-se valores tão altos quanto 284
microgramas/m³ , bem acima do nível
de atenção legal - 200 microgramas/m³.
Conclusões
gerais
A elaboração
de diagnósticos ambientais com a utilização
de ferramentas que possam ser certificadas, permite
a elaboração de prognósticos,
ou cálculo de impactos no meio físico
e biótico, extremamente úteis em processos
de licenciamento para novos empreendimentos em áreas
já previamente estudadas. O diagnóstico
em si, com dados objetivos tanto de fontes quanto
de qualidade ambiental, já permite um alto
nível de racionalidade na correção
de desconformidades ambientais. O prognóstico,
baseado em conhecimentos validados para uma situação
existente, permite a tomada de decisões com
critérios bastante objetivos.
O modelo fruto deste trabalho se mostrou bastante
adequado. No entanto, em várias situações
pode não ser aplicável, como por exemplo
no caso do poluente atmosférico ozônio,
que exige a adoção de outras práticas.
Este projeto se desenvolveu com a análise
de todos os meios físicos – ar, águas
superficiais, águas subterrâneas, solo
e vegetação - em apenas uma área,
especificamente a área de influência
de Paulínia.
Como projeto-piloto para o desenvolvimento de metodologia,
esta postura se mostrou bastante útil. No
entanto, o desenvolvimento dos trabalhos indicou
que a metodologia desenvolvida pode ser aplicada
para distintos meios físicos em várias
áreas do Estado, sem que todos os meios sejam
contemplados simultaneamente na mesma área.
Assim, pode-se aplicar de imediato esta metodologia
apenas para águas em uma área em que
este meio físico mereça maior atenção,
enquanto em outras poderia ser aplicada exclusivamente
para solo se os problemas ambientais assim o requeiram.
A aplicação concomitante para todos
os meios físicos em uma mesma área
pode ser contraproducente visto que projetos deste
porte requerem grande quantidade de recursos humanos
e, centralizar todos os esforços em uma região,
causaria um atraso no conhecimento e ações
ambientais em outras áreas do Estado.
Fonte: Cetesb (www.cetesb.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa (Mário Senaga)