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MARINA PEDE
MENOS DISCURSOS E MAIS AÇÕES
PELA BIODIVERSIDADE
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2004
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A ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, pediu mais resultados, menos
discursos e ações concretas pela preservação
da biodiversidade em seu pronunciamento (veja abaixo)
no segmento ministerial da 7ª Conferência
das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica (COP7). O evento se encerra amanhã
(20), em Kuala Lumpur, na Malásia. "É
chegado o momento de respondermos às duras
críticas que nos são feitas por produzir
mais idéias, planos e resoluções
do que ações concretas em benefício
da biodiversidade e da população a ela
associada. Precisamos mostrar que aqui estamos reunidos
para algo além de fazer discursos", disse
Marina Silva a ministros e delegados de 188 países
que participam da Conferência. "Os elevadíssimos
custos de reuniões como esta devem ser orientados
para privilegiar ações de implementação.
Uma reorientação na nossa forma de trabalhar
deveria ser um dos principais resultados dessa reunião",
completou.
A ministra brasileira salientou ainda que, para o
Brasil, a biodiversidade e os recursos naturais têm
grande importância para o desenvolvimento econômico,
para a justiça social e para a integridade
ambiental. "Nosso país registrou avanços
recentes na implementação dos compromissos
da Convenção, como a revisão
da legislação nacional sobre acesso
e repartição de benefícios, a
formulação de um novo marco legal sobre
biossegurança e o compromisso do Governo em
reverter os processos que tem levado ao desmatamento
e à perda da biodiversidade", destacou.
Marina Silva lembrou, ainda, que muitos países
parecem se esquecer do tripé em que se fundamenta
a Convenção sobre Diversidade Biológica:
conservação da biodiversidade; uso sustentável
de seus componentes; e distribuição
justa e eqüitativa dos benefícios derivados
do uso dos recursos genéticos, centrando ações
apenas nos aspectos ligados à conservação.
Para a ministra do Meio Ambiente, "trata-se de
postura cômoda que não contempla a perspectiva
de que a Convenção possa vir a ser um
instrumento efetivo de mitigação da
pobreza. Na maior parte dos países em desenvolvimento,
perdura a inaceitável situação
de regiões mais ricas em biodiversidade serem
justamente aquelas em que as populações
são mais pobres".
COP8 - Em Kuala Lumpur,
Marina Silva manifestou a intenção de
o Brasil sediar a próxima Conferência
das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica (COP8), em 2006. A iniciativa deve
ainda ser comunicada oficialmente ao Secretariado
da Convenção.
O Brasil também anunciou durante a COP7 um
protocolo de intenções assinado entre
o governo brasileiro e a sociedade civil. Essa parceria
entre Governo, organizações não-governamentais,
comunidades indígenas e tradicionais, organizadas
em um consórcio, irá apoiar a implementação
do Programa de Trabalho sobre Áreas Protegidas
da Convenção, aprovado durante a Conferência.
Essas organizações integrarão
o Fórum Brasileiro de Áreas Protegidas,
cuja criação também foi anunciada
em Kuala Lumpur, composto por representantes governamentais
e não-governamentais para discussão
e proposição de ações
para a consolidação de um sistema de
áreas protegidas no Brasil.
Conferências
das Partes
COP1 - Nassau, Bahamas
28 de novembro a 9 de dezembro de 1994
COP2 - Jakarta 6 a 17 de novembro de 1995
COP3 - Buenos Aires, Argentina 4 a 15 de novembro
de 1996
COP4 - República da Eslováquia 1998
COP5 - Kenya 2000
COP6 - Haia 7 a 19 de abril de 2002
COP7 - Kuala Lumpur, Malásia 9 a 20 de fevereiro
de 2004
Pronunciamento
da ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva,
durante o segmento ministerial da 7ª Conferência
das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica
Kuala Lumpur, Malásia,
fevereiro de 2004
Senhor Presidente,
Senhores e Senhoras Ministros,
Entre todos os temas ambientais, a biodiversidade
é a questão que mais profundamente mobiliza
a mim, em particular, e ao meu País, pelo significado
que tem para nós. Para o Brasil, detentor de
inigualável diversidade biológica, as
questões aqui presentes se revestem da maior
importância para o desenvolvimento econômico,
para a justiça social e para a integridade
ambiental do nosso País. Por isso, há
dois dias atrás, manifestamos nossa intenção
de o Brasil sediar a próxima COP, medida ainda
a ser oficialmente comunicada, por via diplomática,
ao Secretariado. Quero aqui reiterar o nosso propósito
de ter a honra de realizar nossa próxima reunião.
Doze anos após a assinatura da Convenção
sobre Diversidade Biológica, o Brasil entende
que é chegado o momento de iniciar um qualitativo
processo de mudança de orientação
nos trabalhos da Conferência das Partes e demais
órgãos. Desde Joanesburgo, implementação
é a palavra-chave para a grande quantidade
de acordos multilaterais ambientais, e quase todas
as intervenções que aqui ouvimos comprovam
essa ânsia por resultados. Não podemos,
porém, correr o risco de ficarmos nos repetindo,
sem ações concretas que demonstrem o
nosso desejo político de transformar em realidade
os compromissos por nós assumidos.
O Brasil entende que a Convenção já
produziu políticas, decisões e programas
importantes, mas percebe também que se acumula
um enorme déficit de implementação
para o qual não podemos deixar de olhar. Os
elevadíssimos custos de reuniões como
esta devem ser reorientados de forma a privilegiar,
cada vez mais, ações de implementação.
Uma reorientação na nossa forma de trabalhar
deveria ser um dos principais resultados dessa nossa
reunião, e a única maneira de respondermos
efetivamente às críticas que se fazem
aos baixos resultados do grande numero de reuniões
internacionais.
No mundo todo, observa-se grande ceticismo em torno
dos tratados e acordos internacionais ambientais.
A CDB tem a sua frente o desafio de liderar, pelo
exemplo, a resposta a esse ceticismo. Sentimo-nos
muito confortáveis em fazer esse apelo à
liderança por exemplos, pois o Brasil tem,
por meio de diversas iniciativas, fortalecido e valorizado
a CDB. Tem buscado, ainda, em nível nacional,
regional e sub-regional, bem como no âmbito
do grupo dos países megadiversos, desenvolver
alianças que reflitam o nosso compromisso com
a implementação. Apenas para citar alguns
avanços recentes para a implementação
dos compromissos da CDB, destaco a revisão
da legislação nacional sobre acesso
e repartição de benefícios, a
formulação de um novo marco legal sobre
biossegurança, e o compromisso do Governo em
reverter os processos que tem levado ao desmatamento
e à perda da biodiversidade em nosso País.
Temos particular preocupação com as
dificuldades aqui observadas para dar seguimento ao
compromisso acordado na Cúpula de Joanesburgo
de negociar um regime internacional sobre acesso e
repartição de benefícios. Preocupo-me
porque não estamos aqui falando de novas decisões,
mas tão somente de dar seguimento a decisões
já tomadas. Por isso, saudamos a disposição
dos que nos apóiam nesse esforço e rejeitamos
as tentativas de voltar atrás ou mesmo de retardar
a implementação desse compromisso. Muitos
de nós nos frustramos com os resultados de
Joanesburgo e, por isso, é incompreensível
que ainda haja aqueles que queiram retroceder nos
mais efetivos avanços ali alcançados.
Muitos países parecem esquecer-se do tripé
em que se fundamenta a CDB - a conservação
da diversidade biológica, o uso sustentável
de seus componentes e a distribuição
justa e eqüitativa dos benefícios derivados
do uso dos recursos genéticos, focando-se apenas
nos aspectos ligados à conservação.
Trata-se de postura cômoda que não contempla
a perspectiva de que a CDB possa vir a ser um instrumento
efetivo de mitigação da pobreza. Na
maior parte dos países em desenvolvimento,
perdura a inaceitável situação
de regiões mais ricas em biodiversidade serem
justamente aquelas em que as populações
são mais pobres.
O Brasil considera que o novo regime possa constituir-se
em importante instrumento de geração
e distribuição de renda, contribuindo
para a redução da pobreza e das diferenças
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Essas diferenças têm aumentado exponencialmente,
apesar dos discursos e das promessas sem conseqüência
(principalmente o repetido compromisso de alocação
de 0,7% do PIB dos países ricos em ajuda ao
desenvolvimento).
Para o Brasil, o tema das áreas protegidas
é igualmente importante e, novamente, não
apenas pelo papel que essas áreas têm
para a conservação da biodiversidade.
Acreditamos que um programa abrangente de áreas
protegidas possa vir a ser um instrumento efetivo
de mitigação da pobreza e de inclusão
social. Essa percepção talvez explique
algumas das diferenças básicas aqui
verificadas nas discussões do Plano de Trabalho
sobre áreas protegidas. Não estamos
preocupados apenas em criar mais áreas protegidas,
mas em fazer com que o valor dessas áreas possa
ser internalizado pelas populações locais,
em criar condições para que essas áreas
sejam de fato consolidadas e protegidas.
É nesse contexto que anunciei, ontem, o protocolo
de intenções assinado entre o governo
brasileiro e a sociedade civil. Uma parceria entre
o Governo e organizações não-governamentais,
comunidades indígenas e tradicionais, que,
organizadas sob a forma de um consórcio, vão
apoiar a implementação do Programa de
Trabalho sobre Áreas Protegidas da Convenção
que aprovamos nesta Conferência. Todas essas
organizações farão parte do Fórum
Brasileiro de Áreas Protegidas, cuja criação
também ontem anunciamos, composto por representantes
governamentais e não-governamentais para discussão
e proposição visando à consolidação
de um sistema de áreas protegidas no Brasil.
É importante, ainda, que consideremos de maneira
efetiva o papel das populações indígenas
na conservação da biodiversidade. Acreditamos
não só na importância de valorizar,
reconhecer e assegurar condições de
sobrevivência a essas populações,
como, também, no importante papel que elas
desempenham na conservação dos recursos
naturais e na prevenção do desmatamento.
Por isso, o Governo Brasileiro está discutindo
com lideranças indígenas um grande programa
para apoiar a conservação da biodiversidade
em suas terras.
Muitos países têm sido rápidos
na importante missão de denunciar a ausência
de demarcação de terras indígenas
nos países em desenvolvimento, mas não
têm sido tão eficientes em defender,
em foros internacionais, os direitos das populações
indígenas, suas tradições e seus
conhecimentos. Refiro-me, aqui, à dificuldade
com que evoluem as negociações para
a formação de um regime internacional
de acesso e repartição dos benefícios
derivados do uso da biodiversidade e de um regime
sui generis para direitos de propriedade intelectual
associados ao uso da biodiversidade, que tanto beneficiariam
essas populações.
Avançamos muito pouco na questão de
transferência de tecnologia. É fundamental
que os países em desenvolvimento se empenhem
tanto em assegurar mecanismos efetivos para a transferência
de tecnologia -- uma condição indispensável
para o uso sustentável da biodiversidade. Refiro-me
aqui tanto a cooperação norte-sul como
à indispensável cooperação
entre países em desenvolvimento, detentores
de realidades sociais, econômicas e ambientais
similares. No entanto, os países do Sul estão
sendo constantemente chamados a maiores controles,
a maior monitoramento e a maiores responsabilidades,
sem que lhes sejam assegurados os meios para isso.
Por isso, o adiamento dessa questão não
é benéfico a ninguém.
Encerro aqui com a exortação a um trabalho
mais dirigido a resultados. É chegado o momento
de respondermos às duras críticas que
nos são feitas por produzir mais idéias,
planos e resoluções do que ações
concretas em benefício da biodiversidade e
da população a ela associada. Temos
aqui os instrumentos, mas precisamos da correspondente
vontade política para fazê-los funcionar.
Nossos técnicos, que estão há
duas semanas trabalhando noite e dia, talvez não
tenham essa responsabilidade. Mas nós, Ministros,
aqui reunidos, a temos e precisamos mostrar que aqui
estamos reunidos para algo além de fazer discursos.
Fonte: MMA – Ministério do
Meio Ambiente (www.mma.gov.br)
Assessoria de imprensa |