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FUNAI LAMENTA,
MAS DIZ QUE CONFLITO FAZ PARTE DA LUTA DOS
ÍNDIOS PELA TERRA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Abril de 2004
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O presidente da
Funai, Mércio Pereira Gomes, lamentou hoje
a morte de 29 garimpeiros na reserva indígena
Roosevelt, em Rondônia. Gomes disse, no entanto,
que o conflito faz parte da luta indígena
pela terra no Brasil. Três corpos foram encontrados
há uma semana na região. Outros 26
mortos – já em avançado estado de
decomposição - devem ser retirados
da área ainda neste final de semana pela
Polícia Federal. A PF acredita que todos
eles foram vítimas de confrontos entre índios
e garimpeiros durante a semana santa.
“Sentimos pelos que morreram e pelas famílias.
Mas também precisamos dizer ao povo brasileiro
que os índios estão fazendo uma defesa
fundamental das terras invadidas por garimpeiros
totalmente ilegais”, ponderou o presidente da Funai,
que defende a imediata discussão de projetos
que alterem o artigo 231, parágrafo 4. O
artigo trata da exploração dos recursos
minerais no país.
Para Gomes, o Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) precisa encontrar províncias
minerais fora da reserva para regularizar a exploração
de garimpeiros e mineradoras. “Os índios,
por sua vez, precisam de autorização
para minerar em suas terras”, defende o presidente
da Funai. “Um decreto seria suficiente para resolver
essa questão. Só temos que maturar
a discussão e fazer tudo com muito cuidado
para não provocar uma corrida para a área.”
De acordo com Gomes, desde que as minas de diamante
foram encontradas na reserva Roosevelt, em 1999,
as invasões de garimpeiros se tornaram freqüentes.
Tanto a Funai quanto os índios pediram aos
garimpeiros para sair da reserva. No ano passado,
um confronto já havia deixado índios
feridos e garimpeiros (cerca de oito) mortos. A
tribo Cinta-Larga tem hoje cerca
de 1,5 mil índios, espalhados por uma região
1,6 milhão de hectares.
“A reserva chegou a ter 5 mil garimpeiros
invasores”, conta o presidente da Funai. “Depois
dos primeiros confrontos com os índios, da
nossa intervenção e da PF, esse número
caiu para 600. Na semana santa, quando houve os
dois últimos conflitos, haviam ainda 150
garimpeiros na reserva.”
Na segunda-feira passada, a Funai recebeu a denúncia
de que um grupo de 20 garimpeiros havia invadido
a reserva para resgatar os corpos de outros 26 colegas
desaparecidos. Diante disso, a fundação
enviou uma equipe de 15 técnicos para tribo
Cinta-Larga. A quipe é liderada pelos indigenistas
Walter Blos e Apoena Meirelles. Foram eles que repassaram
para a PF as coordenadas para a operação
de resgate dos corpos.
Para o presidente da Funai, é preciso levar
em consideração a possibilidade de
alguns mortos serem vítimas de brigas entre
os próprios garimpeiros “Os técnicos
disseram que os mortos estão em avançado
estado de decomposição pelo tempo
e pela ação de animas”, revelou Gomes.
“Não é possível nem precisar
o número de corpos porque nem todas as cabeças
estão no lugar.”
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Juliana Cézar Nunes